Afinal, por que ‘Hamlet’, de Shakespeare, segue relevante?

Publicada há mais de 400 anos, peça do dramaturgo inglês inspirou inúmeras produções literárias e cinematográficas, além de versões no teatro – no sábado, 11, a peça ‘Primeiro Hamlet’ entra em cartaz em SP. Entenda a importância da obra e conheça filmes e livros baseados nela

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Por Gabriela Caputo

Uma das obras mais famosas da literatura mundial, Hamlet, de William Shakespeare (1564-1616), segue inspirando produções culturais das mais diversas, quatro séculos depois de sua publicação. Um exemplo é a peça Primeiro Hamlet, que estreia no sábado, 11, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Baseada em uma primeira versão da tragédia escrita pelo dramaturgo inglês, com texto mais dinâmico, a peça busca inspiração em desastres ambientais para falar da ganância e abuso de poder.

Cena do clássico 'Hamlet', adaptação de 1948, com Laurence Olivier no papel principal Foto: Two Cities Films

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A relevância de Hamlet conserva-se até hoje graças à universalidade de seus temas e à complexidade das personagens shakespearianas. Na época, o dramaturgo inovou no teatro ao conferir uma profunda dimensão psicológica às suas criações. Enquanto isso, seus temas são universais: traição, morte e luto, vingança, loucura, corrupção e sede pelo poder são alguns deles.

As figuras imaginadas por Shakespeare são dotadas de ambiguidade moral, perturbadas por questões existenciais e filosóficas que rondam a condição humana – o que ressoa em todos. O dilema do príncipe Hamlet da Dinamarca ecoa o dilema de muitos homens, para além da percepção individual, em lutas empreendidas ao redor do globo e através dos séculos.

O Rei Leão: clássico da Disney é releitura de 'Hamlet'. Foto: The Walt Disney Company

Como Hamlet aparece nos filmes

Hamlet recebe versões teatrais ano após ano, mas não se restringiu aos palcos. A obra ganhou adaptações para o cinema, seja a partir da história original – entre 1913 e 2000, foram lançados pelo menos cinco filmes com título homônimo – ou com releituras. A inspiração é evidente em O Rei Leão (1994), clássico da Disney. Na animação, um jovem príncipe herdeiro perde tudo quando seu tio mata seu pai e assume o trono. Para reconquistar seu reino, conta com a ajuda de dois amigos.

No cinema, elementos de Hamlet também foram usados em filmes como o japonês Homem Mau Dorme Bem (1960), o finlandês Hamlet Vai à Luta (1987), o americano A Morte se Veste de Negro (1999), o chinês Inimigos do Império (2006), que também tem traços de Macbeth, e o indiano Haider (2014). A lista é longa. São produções que partem da famosa tragédia de Shakespeare para construir seus personagens e a dinâmica entre eles, bem como absorvem os principais temas do texto.

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Mel Gibson viveu Hamlet no filme homônimo de 1990.  Foto: Warner Bros.

Outras obras de Shakespeare também perduram até os dias de hoje e servem de material para as telonas – entre elas Macbeth, Rei Lear, Romeu e Julieta e A Megera Domada, sendo as duas últimas grandes inspirações para comédia romântica e dramas.

Outros livros baseados em Hamlet

O mesmo acontece na literatura. Hamlet já foi reinterpretado em obras modernas como Enclausurado, de Ian McEwan, narrado por um feto que, da barriga da mãe, escuta os planos da mulher para assassinar o marido com a ajuda do amante, que é tio do bebê. Em A História de Edgar Sawtelle, de David Wroblewski, um menino mudo leva uma vida sossegada na fazenda da família até que seu pai morre e um tio chega ao local, conquistando a simpatia da mãe. Graça Infinita, livro celebrado de David Foster Wallace, empresta elementos de Shakespeare tanto no título quanto em aspectos da narrativa.

Em Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos, Tom Stoppard traz personagens secundários para o foco da narrativa. Gertrudes e Cláudio, de John Updike, faz o mesmo, porém explorando uma história prévia: como se deu o envolvimento adultero da mãe de Hamlet com o tio, resultando nos eventos que são ponto de partida de Hamlet. Por sua vez, Ofélia, de Lisa Klein, é uma das várias releituras que colocam ao centro as personagens femininas do universo shakesperiano.

Retrato pintado no século 16 do dramaturgo inglês William Shakespeare. Foto: Cobbe Collection

Até Matt Haig, autor do best seller A Biblioteca da Meia-Noite, escreveu sua versão de Hamlet: em The Dead Fathers Club (sem tradução em português), o fantasma do pai aparece para um menino de 11 anos e revela que foi assassinado pelo irmão – que, claro, seduziu a viúva. Hamlet ganhou até contornos de ficção científica na reinvenção de Jasper Fforde, Something Rotten.

Na literatura nacional, Hamlet ou Amleto?: Shakespeare para jovens curiosos e adultos preguiçosos, Rodrigo Lacerda torna o clássico mais acessível com uma versão que guia o leitor pela obra.

Capa da edição comercial do livro 'Hamnet'. Foto: Intrínseca

O livro Hamnet, de Maggie O’Farrell, é um romance que ficcionaliza como a morte precoce do filho teria inspirado Shakespeare a escrever Hamlet, além de desgastar seu casamento. Nos próximos anos, o livro ganhará uma adaptação cinematográfica comandada pela diretora chinesa Chloé Zhao, que venceu o Oscar em 2021, e protagonizada por um dos jovens mais requisitados em Hollywood, o ator irlandês Paul Mescal.

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