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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘O luxo sempre esteve ligado àquilo que é exclusivo’, diz Lenny Niemeyer

Para a estilista, que faz seu 32º desfile na segunda-feira, trazer o artesanato brasileiro para a passarela ‘é reconhecer a cultura brasileira como expressão única’

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Foto do author Marcela Paes
Por Marcela Paes
Atualização:

O desfile de Lenny Niemeyer na Cinemateca Brasileira, no dia 27, vai trazer a fusão de alguns dos maiores patrimônios culturais brasileiros: a arquitetura de Oscar Niemeyer, a arte de Lygia Clark e o artesanato do Maranhão. A ideia é mostrar o trabalho em novos materiais, mas também valorizar as pessoas por trás da produção das peças - que, além da equipe da estilista, foram feitas pela Associação de Artesãs de Barreirinhas, no Maranhão. É o 32º desfile da carioca, mas, segundo ela, o nervosismo é o mesmo do primeiro. Leia abaixo a entrevista com Lenny Niemeyer:

A estilista Lenny Niemeyer Foto: Claudia Garcia

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Qual o peso da sustentabilidade social das peças para o consumidor final? Acredita que hoje quem compra busca saber como as roupas foram produzidas, em que condições foram criadas?

Não podemos dizer que todos os consumidores buscam se informar sobre a origem dos produtos de moda que consomem, mas com certeza muito mais consumidores estão preocupados com isso do que há dez anos atrás. A tendência é que esse interesse aumente ainda mais com a chegada da geração Z ao mercado de consumo. Acredito muito no valor e no peso do trabalho humano. Como marca, temos que assumir o compromisso de mostrar e trazer o ser humano por trás do trabalho para um lugar de destaque.

O luxo está mais ligado ao artesanal? Valorizar o trabalho manual feito no Brasil é uma forma de ter algo diferente e mais original?

O luxo sempre esteve ligado àquilo que é exclusivo, na maioria das vezes pensado e produzido de forma artesanal, em pequena escala. Valorizar o trabalho artesanal feito no Brasil é reconhecer a cultura brasileira como expressão única, capaz de gerar produtos também únicos. Nós já temos um trabalho artesanal com as bolsas produzidas para a linha ‘Feito no Brasil’, mas mostrar como isso é feito e valorizar as mulheres que realizam esse trabalho é de extrema importância. Isso, pra mim, é luxo.

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Um das peças da nova coleção feita de Buriti Foto: Marcel Blanco

Como funciona seu processo criativo?

O processo criativo é sempre intenso, pois envolve muitas discussões, muita troca de ideias, muitas etapas para se chegar no resultado final. Mas, ao mesmo tempo, ele é muito rico, plural e cada pessoa da equipe traz um pedacinho de ideia que vamos juntando na grande narrativa de uma coleção. É uma troca muito interessante e gratificante.

O que acha da situação atual da moda no Brasil?

Acho que a moda brasileira está passando por um momento de mudança. Vimos grandes marcas, ícones de seu tempo, desaparecerem. Grandes criadores obrigados a se reinventarem e vimos surgir uma nova geração com muitas ideias, mas ainda amadurecendo nos caminhos do design. O olhar da nova geração para o Brasil como inspiração matriz é uma esperança para podermos reconstruir um novo capítulo da moda nacional, mais segura de si, mais original e dona de suas narrativas. Nós temos que mostrar um Brasil que sabe o que faz e utiliza sua cultura ao seu favor como qualquer outro país do mundo. Mas para que esse sonho se torne realidade e se sustente ao longo do tempo, ainda é preciso incentivo e reconhecimento do poder público para esta indústria, que é uma das maiores do País.

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