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Mauricio de Sousa perde eleição, e Ricardo Cavaliere é o novo imortal da ABL

Filólogo venceu por 35 a 2 e irá ocupar cadeira 8 da ABL, que pertenceu a Cleonice Berardinelli; “Continuarei nesta ideia de trabalhar e aprender com os acadêmicos”, disse o cartunista após o resultado

Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan
Atualização:

Não foi dessa vez que os caminhos que passam pelo bairro do Limoeiro tiveram como destino final a Academia Brasileira de Letras (ABL). Criador da Turma da Mônica, o cartunista Mauricio de Sousa concorria a uma das cadeiras da ABL, mas perdeu a eleição realizada nesta quinta-feira, 27, para o filólogo Ricardo Cavaliere. O novo acadêmico irá ocupar a cadeira 8, que pertenceu a Cleonice Berardinelli, que morreu em janeiro.

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Cavaliere foi eleito com 35 dos 38 votos possíveis, em uma eleição que durou apenas 22 minutos. Houve ainda um voto em branco.

Professor com experiência na área de Letras e Linguística, e autor de obras como Fonologia e Morfologia na Gramática Científica Brasileira e Pontos Essenciais em Fonética e Fonologia, ele já havia concorrido a uma vaga na ABL em 2021, quando José Paulo Cavalcanti foi eleito.

Desta vez, Cavaliere iniciou o processo como favorito, mas havia perdido terreno a partir da entrada de Mauricio de Sousa. O cartunista buscava se tornar o primeiro escritor de quadrinhos a ocupar uma das 40 cadeiras da academia, cuja fundação remonta ao final do século 19. A expectativa, contudo, é que ele tente novamente uma vaga em eleições futuras.

Após o resultado, a assessoria de imprensa de Sousa mandou um depoimento do cartunista no qual ele diz que continuará com a ideia de trabalhar e aprender com os acadêmicos.

“Quero parabenizar o novo acadêmico Ricardo Cavalieri por sua entrada na ABL. Nesse processo, todos que amam quadrinhos, eu incluído, ganhamos quando tanto se discutiu sobre a importância dos quadrinhos, seu papel fundamental na formação de leitores e como eles podem contribuir, de diversas formas, com a literatura. Agradeço de coração os apoios que recebi nesta campanha e aos que me honraram com seu voto, acreditando na minha proposta para a ABL. Continuarei nesta ideia de trabalhar e aprender com os acadêmicos, assim como vem acontecendo na Academia Paulista de Letras. Um grande abraço a todos que lutam pela valorização dos autores e, principalmente, pela formação de leitores neste nosso Brasil.”

O desenhista Mauricio de Sousa e sua filha Monica durante entrevista nos 60 anos do personagem Monica.  Foto: Taba Benedicto / Estadão

“O Cavaliere é talvez o maior filólogo brasileiro atualmente. Só não é maior que o Evanildo Bechara, que é o nosso acadêmico. Então, ele vem para fazer um trabalho que é fundamental. A academia cuida da língua portuguesa, e a gente precisa reforçar sempre a representação do filólogo, exatamente para ela fazer o seu trabalho”, comentou Merval Pereira, presidente da ABL. “Um dos projetos que a gente tem, que está em andamento, é fazer um dicionário da ABL, e para isso o Cavaliere vai ser fundamental.”

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Sobre Mauricio de Sousa, Pereira comentou: “É um engano achar que a academia quer ser mais popular. A academia, claro, quer atingir o maior número de pessoas, e claro que quer ter representatividade cada vez maior. A gente quer mais mulheres, mais negros, índios, representantes da sociedade brasileira em geral - mas isso não quer dizer que a gente paute a escolha pela popularidade”

Para ele, Mauricio não foi candidato pela sua popularidade. “Ele foi pelo trabalho na iniciação à literatura, à leitura, muito importante na educação das crianças. Ele tinha todas as condições de se candidatar. Nas campanhas, se erram muitas vezes. As pesquisas eleitorais mostram que está empatado, e no final sai o resultado. O que vale é o resultado da urna.”

Do total de votos, 14 foram feitos por carta e o restante presencialmente. Foi a segunda vez na história da Academia Brasileira de Letras que a eleição de um imortal se deu através de uma urna eletrônica. Cedido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), o equipamento é o mesmo utilizado nas eleições Brasil afora. A novidade foi usada pela primeira vez na academia na semana passada, quando a paulista Heloísa Buarque de Hollanda, 83 anos, foi eleita para a cadeira 30, que fora ocupada anteriormente pela escritora Nélida Piñon.

Além de Ricardo Cavaliere e Mauricio de Sousa, concorriam à ABL na eleição desta quinta-feira os escritores Joaquim Branco e Eloi Angelos G. D’Arachosia, o jornalista e escritor James Ackel, e o advogado José Alberto Couto Maciel.

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