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Simpatia por ditadura, fascismo, ser francesa: por que Borges, Pound e Beauvoir não ganharam o Nobel

Bastidores da premiação só podem ser revelados 50 anos depois; conheça detalhes sobre outros “perdedores”

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Por Ubiratan Brasil

Os estatutos do Prêmio Nobel são rígidos sobre a divulgação dos bastidores das escolhas - as indicações e as deliberações dos jurados não podem ser liberados por no mínimo 50 anos. Mas, quando as informações são tornadas públicas, surpresas são reveladas. Conheça aqui algumas delas sobre o Nobel de Literatura, com suas contradições e curiosidades:

Jorge Luis Borges

Em 1962, o autor argentino já era avaliado como “um poeta sem dúvida original do pensamento”, embora “sua obra, de evidente claro-escuro, não suporte a intensidade de uma luz perscrutadora. Seu gênero literário, especulativo e extremamente complicado, o coloca em uma categoria peculiar que pouco tem a ver com as intenções do prêmio”. Em 1967, o jurado Anders Osterling reforça a o argumento negativo: “É muito exclusivo ou artificial em sua engenhosa mas minúscula arte”. Na década de 1970, sua posição política ambígua em relação a algumas ditaduras latino-americanas também não ajudou.

O escritor argentino Jorge Luis Borges Foto: Acervo Estadão

Simone de Beauvoir

Em 1961, o júri considerou que os Simone de Beauvoir, assim como Jean Anouilh, eram candidatos que “preenchiam os requisitos necessários para merecer o Prêmio Nobel. No entanto, ambos representam uma área linguística - o francês - que até agora dominou em termos de número de laureados. Devemos olhar para lugares do mundo que ainda não foram decorados”.

A escritora Simone de Beauvoir Foto: Acervo

Ezra Pound

O poeta modernista americano foi candidato ao prêmio durante anos até que, em 1959, após confirmar que ele já tinha saído do asilo, a comissão do Nobel “mantém as suas reservas (...) sobre um poeta que, por um lado, se esforça por desenvolver uma linguagem lírica e cativante, mas, por outro, continua a propagar ideias - as fascistas - cujas características estão diametralmente em desacordo com o espírito do Nobel”.

O poeta americano Ezra Pound Foto: Acervo Estad

E.M.Forster e Ramón Menéndez Pidal

O britânico Foster, autor de Passagem para a Índia e Uma Janela para o Amor, foi rejeitado, em 1960, “por sua idade avançada” (81 anos, então). Ele, no entanto, viveria mais dez anos. Em 1961, dizia-se que “a candidatura de Ramón Menéndez Pidal deveria ser definitivamente rejeitada devido à sua idade avançada” (no caso do filólogo espanhol, tinha 92 anos, mas morreria com 99). O critério foi sendo abandonado ao longo do tempo, pois o júri vem premiando cada vez mais idosos. Nos últimos anos, a maioria dos laureados tem mais de 70 anos. Tranströmer e Munro venceram com 80 e 82, respectivamente.

Juan Ramón Jiménez

Em 1956, a decisão foi entre dois espanhóis, Juan Ramón Jiménez e Ramón Menéndez Pidal. Mais uma vez, faz-se referência à necessidade de premiar “o vasto campo linguístico espanhol, seriamente negligenciado desde 1922, quando Benavente recebeu o prêmio”, o que gerou “um descontentamento crescente na Espanha, bastante compreensível e que não deve ser negligenciado”. “O idoso Pidal, considerado o humanista mais importante do mundo espanhol” tem como grande obstáculo que “o que escreve não é estritamente literatura”, mas pesquisa. Por fim, “o desejo de que o vencedor deste ano seja um poeta” prevalece e Ramón Jiménez é o escolhido.

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