A ideia é acompanhar jovens da periferia que fazem filmes por conta própria. De certa forma é o retorno de Evaldo ao seu primeiro filme, À Margem da Imagem, que discutia (ou deveria) a aproapriação da imagem dos pobres pelos cineastas da classe média.
Aqui é a mesma coisa, só que Evaldo conta com depoimentos de pessoas mais aguerridas, que discutem os limites de cineastas de classe média quando filmam a periferia de São Paulo ou outra cidade qualquer. Não avançam muito na discussão e as imagens, tomadas num veículo em permanente movimento, tendem, como as falas, a serem muito repetitivas. Esse recurso é a provável homenagem a Abbas Kiaorostami, que filmou mais de uma vez seus personagens dentro de automóveis, porque esse é o espaço que sobrou da intimidade na vida moderna. Em casa, as pessoas estão diante da TV, ou no computador ou no celulare não podem conversar.
Há, no meio do filme, um fato que poderia ter levado tudo para outro lado: a câmera dos rapazes é furtada pelo pessoal do "movimento". Ou seja, dos traficantes. Há uma insinuação de que isso pode alterar a percepção que se tem, com as críticas possíveis à divisão didática entre classes que é reiterada ao longo do documentário e nada nos ensina que ainda não soubéssemos.
Mas a oportunidade não é desenvolvida como poderia e perde-se a chance. A bola quicou na área e o diretor não soube colocá-la para dentro. Acontece. Não faltará oportunidade a cineasta tão prolífico. E ele já tem mais cinco ou seis projetos em andamento. Mas é preciso pensar. Cinema, ficção ou documentário, é também "cosa mentale", como dizia Leonardo Da Vinci sobre a pintura.