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Entre mulheres: Isabel Allende lança romance sobre as figuras femininas que marcaram sua vida

Na esteira das lutas que marcaram essa versão reloaded do movimento, como o #Meetoo no EUA, ela reflete sobre ativismo, a reação dos homens à nova gramática feminista e revisita suas origens chilenas

Por Marilia Neustein
Atualização:

“O coração é o que nos motiva e determina o nosso destino”, disse Isabel Allende certa vez em uma entrevista feita por esta repórter que vos escreve. Na ocasião, a autora tinha justamente discorrido sobre histórias e paixões em um TED Talk que virou hit na internet.

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A ideia de colocar um coração apaixonado em qualquer coisa que façamos levou o vídeo a ser visto por mais de 5 milhões de pessoas e traduzido para 38 línguas. Hoje, o amor é incorporado por outro vetor essencial na vida da escritora chilena: o feminismo. É este o tema de seu novo livro, Mulheres de Minha Alma (Bertrand Brasil, R$ 50), que chega agora ao Brasil.

Nascida em 1942, Isabel Allende passou em sua trajetória por diversos momentos de reivindicação pelos direitos das mulheres. Fruto de uma geração que viveu a revolução sexual, e sendo uma latino-americana radicada nos EUA, o tema foi ganhando cada vez mais voz dentro dela.

A mesma Allende que, em 2007, revelou a milhares de pessoas histórias de grandes figuras femininas, como Wangari Maathai, Nobel da Paz queniana que plantou mais de 30 milhões de árvores mexendo com ecossistemas em seu país, ou da ativista contra a prostituição infantil do Camboja, Somaly Mam, conta na mais recente publicação a história das mulheres de sua vida sob a ótica do novo feminismo.

Na esteira das lutas que marcaram essa versão reloaded do movimento, como o #Meetoo no EUA – que chacoalhou o meio cultural e do showbiz americano –, ou o “Ni una a menos”, na América Latina, ela reflete sobre ativismo, a reação dos homens à nova gramática feminista e revisita suas origens chilenas, em uma reflexão sobre o laço afetivo potente que é estabelecido entre mulheres, não importando suas histórias ou experiências anteriores.

A escritora Isabel Allende, durante lançamento dolivro "A ilha sob o mar" Foto: Tasso Marcelo/AE

Além de suas referências literárias, como Margaret Atwood e Virginia Woolf, Allende discorre também sobre as figuras femininas de sua família, como a mãe, Panchita, e a filha, Paula. Mas, sobretudo, o livro exalta a história de mulheres que cotidianamente marcam a alma de outras pessoas. Seja por meio de situações de superação, inspiração ou coragem.

“Pertenço à geração de transição entre nossas mães e nossas filhas e netas, geração que imaginou e impulsionou a revolução mais importante do século 20. Seria possível alegar que a Revolução Russa de 1917 foi a mais notável, mas a do feminismo foi mais profunda e duradoura, afetou a metade da humanidade, estendeu-se e tocou milhões de pessoas e é a esperança mais sólida de que a civilização em que vivemos possa ser substituída por outra mais evoluída”, explica.

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Allende propõe um caminho justamente de um coração apaixonado pelo tema do feminismo e de um lugar mais confortável, o da mulher mais experiente, que ela chama de “avós corajosas”. “Somos as mulheres que viveram muito, nada têm a perder e, portanto, não se assustam facilmente; podemos falar abertamente porque não desejamos competir, agradar nem ser populares; conhecemos o valor imenso da amizade e da colaboração. Estamos angustiadas com a situação da humanidade e do planeta.

Agora é questão de entrarmos em acordo para dar uma tremenda sacudida no mundo.” Perto de completar 80 anos, ela não parece arrefecer sua produção. Está finalizando Violeta, um novo romance, e sua vida será tema de uma série, a ser veiculada na Amazon Prime.

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