Rolling Stones driblam o peso dos anos

Banda voltou ao Rio de Janeiro com energia e repertório generoso; shows em São Paulo serão quarta, 24, e sábado, 27

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Por Pedro Antunes
Atualização:
Chuva fez começo do show atrasar em quase meia hora Foto: Fábio Motta/Estadão

Os 54 anos de carreira contam a favor dos Rolling Stones. Tudo bem, a idade pesa (para todos, aliás), mas nada como estar frente à frente com uma das maiores bandas de todos os tempos com meio século de experiência. É como aquele velho cozinheiro, cujas mãos enrugadas e trêmulas talvez não sejam mais capazes de picar alho e cebola com a eficiência de anos passados, mas seu feijão ainda tem um sabor único. A metáfora gastronômica, por mais brega que possa parecer, talvez seja a única capaz de dar àquele que não esteve diante dos Stones no Maracanã, nesse histórico sábado, 20, no Rio. 

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À mesa, afinal, diferentes sentidos são aguçados, a visão, o olfato, o tato, todos são determinantes para a experiência completa. Assim é estar à frente de Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e Charlie Watts. Não se trata apenas de vê-los em carne e osso, ou ouvi-los através das potentes caixas de som espalhadas pelo estádio. É preciso sentir os Stones, a sua rebeldia rasgada da juventude, enjaulada de corpos que passaram dos setenta anos (com exceção do caçula Wood, de apenas 68 anos), sentir o cheiro dos corpos saltitantes da massa ao redor, os encontrões inevitáveis em um show de rock.

Todo o ambiente, sentimentos e sensações importam em uma apresentação dos Stones. Ouvi-los nos discos, pela primeira vez na adolescência, é transcendental. Transformador até, tal é o impacto de ser arremessado diretamente para o universo musical de Jagger e companhia, seu blues sujo, seus versos às vezes sacanas. Assisti-los ao vivo tem esse mesmo impacto. Não importa quantas vezes se tenha estado diante dos ingleses. 

Depois de um dia quente, com temperatura próxima dos 35° segundo os termômetros da cidade, uma pancada de chuva redentora caiu do céu. No horário marcado, o Ultraje a Rigor enfrentou um palco encharcado e um público diminuto.

O aguaceiro atrasou o início do show dos Stones. Programada para 21h30, a apresentação só começou 21 minutos depois, por alegados problemas técnicos. Temporal ou não, seco ou molhado, nada disso existe quando os Stones voltam ao palco do Maracanã, local da sua estreia no País, há 21 anos. Depois disso, a banda passou pela cidade em 1998 e 2006, com a histórica performance em Copacabana, de graça, para 1,2 milhão de pessoas. Com Start Me Up, do disco Tattoo You (1981), Jagger, Richards, Watts e Wood deram início à quarta passagem pelo Brasil, que passa ainda por São Paulo (dias 24 e 27, no Morumbi) e Porto Alegre (dia 2 de março, no Beira-Rio). “Você faz um homem adulto chorar”, diz Jagger na abertura, uma canção com diferentes interpretações – algumas delas sexuais, como é de praxe na carreira de mais de meio século e 24 discos de estúdio da banda. 

O curioso caso de uma banda tão longeva, aliás, esbarra na assustadora constatação de que os Stones têm mais discos lançados do que músicas em seu repertório desta turnê latina. São 18 executadas em duas horas de show, sendo três do disco Let it Bleed, de 1969. O álbum não é o melhor produzido pela banda, posição ocupada provavelmente por Exile on Main St. (1972), representado por Tumbling Dice, ou Sticky Fingers (1971), de onde veio Wild Horses. Ainda assim, com as poderosas Gimme Shelter, Midnight Rambler e You Can't Always Get What You Want, o disco acaba por ser o mais presente nessa turnê. 

O repertório, por sua vez, se encarrega de ser uma grande introdução à obra do grupo, como um disco de greatest hits. As canções escolhidas abrangem de Out of Our Heads, de 1965, com (I Can't Get No) Satisfaction, até a coletânea que lançaram ao completar 50 anos de existência, em 2012, com Doom and Gloom. Like a Rolling Stone, de Bob Dylan, foi eleita pelo público para ser executada nesta primeira apresentação aqui. 

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Eles dominam um estádio como poucos já fizeram na história por essas bandas – talvez Queen e Paul McCartney sejam capazes de comoção desse tamanho. E o fazem sem complicação. “It's only rock and roll”, afinal. 

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