Análise | Sting enfileira sucessos em show descontraído e de alto astral no Ibirapuera

Cantor britânico de 73 anos tocou clássicos do The Police e da carreira solo para multidão na capital paulista neste domingo, 16

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Atualização:

Foi uma surpresa saber que Sting voltaria a fazer shows no formato de trio – afinal, é a primeira vez que o cantor britânico assume essa configuração desde 2008, quando encerrou um giro de reunião com o The Police, ao lado dos fenomenais Andy Summers, na guitarra, e Stewart Copeland, na bateria.

Sting em show no Parque do Ibirapuera, em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

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Neste domingo, 16, Gordon Sumner (seu nome de batismo) retornou a São Paulo após 8 anos para uma apresentação da turnê 3.0, que também passou pelo Rio e vai à Curitiba na terça-feira, 18.

O giro pelas três capitais estreita ainda mais a relação do astro com o Brasil. Ele sempre foi interessado pela cultura tupiniquim e engajado com as causas ecológicas e indígenas. Ao todo, essa é a sua décima passagem pelo País – a oitava como artista solo, além de outras duas com a banda que o consagrou.

Um dos mais emblemáticos power trios da história da música pop, o The Police lançou apenas cinco discos entre 1978 e 1983 e teve a vida abreviada devido às desavenças entre os integrantes, além do anseio do vocalista em seguir uma bem sucedida carreira individual, marcada pela investigação de gêneros múltiplos, como jazz e world music, e debutada com o excelente The Dream of the Blue Turtles (1985).

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Sting em show no Ibirapuera em 16 de fevereiro de 2025 Foto: Taba Benedicto/Estadão

Englishman In São Paulo

O concerto no gramado do Parque Ibirapuera atraiu cerca de 15 mil pessoas em uma noite quente na capital paulista. O local virou uma boa alternativa para eventos com essa capacidade de público. E lá eles costumam começar cedo. Não foi diferente dessa vez: às 19h35, o hit Message In a Bottle já era amplificado no campo urbano da zona sul – “Vou mandar um S.O.S. para o mundo”, diz a letra atemporal de 1979.

Acompanhado de seu fiel escudeiro de longa data, o guitarrista Dominic Miller, e do baterista Chris Maas (conhecido por seu trabalho no Mumford & Sons), Sting surgiu no palco empunhando seu tradicional baixo fender amarronzado.

Em ótima forma aos 73 anos, com cabelos descoloridos, ele agora usa um microfone estilo headset que lhe permite percorrer livremente o cenário e usar as mãos para comandar a multidão nos seus tradicionais coros “yeah-ohh”.

“Muito obrigado, São Paulo. Estou muito feliz de estar aqui com vocês”, saudou, em ótimo português.

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Sting em show no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, em 2025 Foto: Taba Benedicto/Estadão

Descontraído, o baixista seguiu o alto astral com mais sucessos: If I Ever Lose My Faith in You, Englishman in New York, ambas da carreira solo, e Every Little Thing She Does Is Magic, um dos melhores temas amorosos já concebidos.

Sentado em um banquinho, ele apresentou algumas faixas mais contemplativas, como a esotérica Mad About You, com inspirações bíblicas.

Já a belíssima Fields of Gold remeteu ao “mar de ouro” testemunhado por Sting na época da colheita de cevada em sua casa, na Inglaterra. Shape Of My Heart contou com projeções de cartas de baralho no telão para realçar a letra da faixa, sobre um jogador.

Assim como da última vez em que esteve no Brasil para um show único no Allianz Parque, durante a turnê do disco rocker 57th & 9th (2016), Sting alterou ligeiramente os arranjos e o tom de muitas canções, mas nada que incomodasse o público.

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Sting em show no Parque do Ibirapuera, em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

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Caçula do setlist, a recém-lançada I Wrote Your Name (Upon My Heart), punk com batida à la Bo Diddley, foi favorecida pela voz rouca do cantor, que parecia dedilhar sem esforço as suas melódicas e precisas linhas de contrabaixo, sem palheta, como de costume.

Outra que caiu bem no gogó envelhecido do roqueiro foi a suave Wrapped Around Your Finger, do The Police. Já a tríade Can’t Stand Losing You, Walking on the Moon e So Lonely despertou aquele irresistível gingado reggae do grupo inglês. No entanto, a dispensável Desert Rose, bailão turco que foi trilha da novela O Clone, soou perdida antes de King of Pain, petardo do álbum Synchronicity (1983).

Boa parte da plateia aguardava ansiosamente pelos mega hits Every Breath You Take – que urgiu um mar de celulares – e Roxanne, no bis, antecipando o final anticlimático, mas poético, com a singela Fragile, no violão, com 1h50 de performance: “Talvez esse ato final foi significado para consolidar o argumento de uma vida inteira”, entoou Gordon.

Análise por Gabriel Zorzetto

Repórter de Cultura do Estadão

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