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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Aos 90 anos, Carlos Saura leva .doc novo à Mostra

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Aos 90 anos, o diretor espanhol lança curta na MUBI e exibe longa na Mostra de SP  Foto: Estadão

Rodrigo Fonseca Vamos chegando à reta final da 46ª Mostra de São Paulo, que reservou para suas sessões finais o novo trabalho de um mestre que revolucionou a maneira de se retratar a família nos anos 1970 e 80: Carlos Saura, o realizador de joias como "Cría Cuervos" (Grande Prêmio do Júri em Cannes, em 1976). Às 14h, do feriado de Finados, o Espaço Itaú de Cinema Augusta 4 exibe documentário "Las Paredes Hablan", um dos exercícios autorais mais arrebatadores do cineasta espanhol de 90 anos. Trata-se de uma autopsia e corpo vivo do tecido social arquitetônico das grandes metrópoles.

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Hoje recuperado de uma queda que sofreu em sua casa, machucando-se de encontro ao chão, Saura teve que declinar de uma agenda de entrevistas que o esperava no recém-encerrado Festival de San Sebastián, em setembro, para promover seu novo longa-metragem. Feriu a perna ao cair, mas não se deixou rogar e enviou a produção para o Brasil. Tem ainda projetos novos para tocar. Dono de uma obra que encantou o planeta com "Mamãe Faz 100 Anos" (indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1980) e "Depressa, Depressa" (Urso de Ouro na Berlinale de 1981), o artesão autoral espanhol não para de trabalhar e ainda sonha fazer um bipoc de Pablo Picasso, originalmente oferecida a Antonio Banderas. Há cerca de 20 dias, a plataforma MUBI lançou no Brasil um de seus filmes mais recentes: o curta-metragem "Rosa Rosae. La Guerra Civil". É um ensaio gráfico sobre crianças maculadas por conflitos armados, calcada em uma canção de José Antonio Labordeta, em fotografias de arquivo e em desenhos assinados pelo próprio diretor. É um .doc poético antibelicista. Foi a atração de abertura de San Sebastián em 2021, ao lado de "One Second", de Zhang Yimou. No ano passado, o diretor levou ao Festival do Cairo, no Egito, o arrebatador longa "El Rey De Todo El Mundo", misturando dança e cinema, em forma de musical. Agora é a vez da nova incursão de Saura pelas veredas da não ficção buscar telas, a partir do Velho Mundo.

"Las Paredes Hablan": dia 2, às 14h, no Espaço Itaú de Cinema Augusta 4  Foto: Estadão

Seu novo exercício autoral, trazido ao Brasil pela Mostra, é um .doc de 75 minutos sobre o mundo da arte, retratando a relação entre a criação pictórica (pintura, grafite, desenho) e o espaço do muro (ou da pedra, no caso das cavernas) como tela. Por isso, flana das primeiras expressões gráficas na pré-História até as vanguardas, dando um pulo até as inquietas manifestações poéticas das periferias contemporâneas. Ele dirige e "atua", participando da narrativa como um investigador. Incluído na 70ª edição do Festival San Sebastián fora da disputa pela Concha de Ouro, "Las Paredes Hablan" foi filmado em 14 locais, como as grutas de Puente Viesgo e Altamira, na Cantábria, com uma passada pelo sítio arqueológico Atapuerca, em Burgos. Saura não se esqueceu das ruas coloridas de Barcelona, nem dos bairros grafitados de Madri. A boa da Mostra nesta terça vem da Suíça: "Um Pedaço Do Céu" ("Drii Winter - A Piece of Sky"), de Michael Koch. O ator e diretor por trás deste devastador ensaio sobre a dimensão trágica da condição humana, narrado em um vilarejo dos Alpes Suíços recebeu uma menção honrosa na Berlinale. Até um corifeu escalado pra comentar a tragédia em forma de canto o filme tem. Seu foco está num jovem casal helvético: ela, uma funcionária dos Correios, que também é garçonete; ele, um criador de gado. Mas uma doença vai destruir a harmonia deles. A projeção será no Espaço Itaú Augusta 1, 20h20.

"Rosa Rosae. La Guerra Civil".  Foto: Estadão

p.s.: Com dramaturgia e direção de Cecilia Ripoll, o espetáculo "PANÇA" constrói uma fábula para tratar da reprodutibilidade da notícia e das falhas da comunicação humana. Com apresentações gratuitas até domingo, na Sede da Cia dos Atores, a peça propõe uma reflexão: quais os efeitos que o poder de circular ideias pelo mundo gera na sociedade? Com estrutura cômica e farsesca, a peça acompanha a história de um talentoso e endividado escritor que, de seu pequeno vilarejo, escuta falar sobre a mais nova invenção da capital: a famosa máquina de imprensa. "Sem compromissos rígidos em dar conta de contexto ou fatos históricos, a fábula está mais preocupada em se perguntar o que acontece com a sociedade quando surgem avanços que transformam a capacidade de reprodutibilidade de obras e ideias. Como a ampliação dos meios de reproduzir discursos impacta na transformação social e no imaginário dos indivíduos?", questiona a autora e diretora Cecilia Ripoll.p.s.2: Com elogios de público e críticos, o monólogo "Pedro I" volta ao cartaz, nesta sexta-feira (04/11), na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema. Com direção de Daniel Herz, a peça questiona valores e atitudes de um dos grandes nomes da história do Brasil. O texto de Daniel Herz, João Campany e Roberta Brisson mistura elementos históricos e fictícios para lançar ao público a pergunta: o legado do Primeiro Império é realmente positivo? O espetáculo acompanha a relação entre dois personagens: um artista do século 21 e o Chefe de Estado do século 19. O ator João Campany vive ambos os papéis, que se alternam a partir de um minucioso trabalho de voz e corpo. A liberdade é diferente de independência. Dom Pedro proclamou a independência de um país em relação a outro, que o colonizava. Mas será que, com isso, ele realmente garantiu a liberdade das várias etnias que povoam o Brasil?", questiona João Campany.p.s. 3: Depois de uma temporada virtual em 2021, o filme "Pão e Circo", sobre abandono paterno, vai ser exibido em quatro escolas fluminenses gratuitamente para os alunos. O Cineclube Pão e Circo passará pelo Escola Municipal Nisia Villela Fernandes, em Duque de Caxias (dia 4/11, das 13h às 15h), pela Escola Municipal Professor Carneiro Felipe, em Marechal Hermes (07/11, às 9h30 e às 11h50), pelo Colégio Estadual Brigadeiro Nóbrega, em Vila do Abraão - Ilha Grande (21/11, às 12h30) e pela Escola de Artes, em Mesquita (30/11, às 14h). Idealizada pelo ator e autor Pedro Monteiro, que assina a dramaturgia com Leonardo Bruno, a peça se inspira nos milhões de brasileiros que crescem sem o afeto do pai para criar, de maneira poética, uma história sobre paixão, sonhos, memória e a importância dos vínculos familiares. A direção é de Isaac Bernat. O projeto tem patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do Edital Retomada Cultural RJ 2.

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