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Carta de amor a Nelson em Cannes

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
O cartaz oficial do longa de Ivelise Ferreira e Aída Marques que comoveu a Croisette na sexta - Foto: @Acervo do Festival de Cannes

RODRIGO FONSECA Quando rodou sua última ficção, "Brasília 18%" (2006), hoje disponível pra streaming no Amazon Prime, no DF, Nelson Pereira dos Santos (1928-2018) dizia aos visitantes de seu set que "elenco não se escala por teste, e, sim, por conversa". Adotava pra isso um tipo muito relaxado de entrevista, no qual as visões pessoais dos atores selecionados, e sua percepção sobre o sentido da trama em suas mãos, era mais importante do quesitos técnicos. E do que currículos. Nelson humanizava, com esse gesto acolhedor, uma das etapas mais doídas do processo de criação de um filme, pautado por métodos de eliminação. Nelson não eliminava nada. Ele agregava tudo, a começar... pessoas. É o que Cannes aprendeu na tarde desta sexta, em sua seção Classics, ao ver um documentário que pode, sem puder algum, ser incluído entre os títulos mais potentes da edição n. 76 do festival francês. Não há também pudor algum em chamar "Nelson Pereira dos Santos - Vida de Cinema" de poesia. É um poema. Um poema de saudade.

A apresentação do .doc com Ivelise, Aida, Frémaux e Diogo Dahl filho de Nelson - Foto: @Rodrigo Fonseca

Ao abrir a sessão do longa, na sala Buñuel, Ivelise Ferreira, produtora e viúva do cineasta, tinha um embargo de orgulho na voz ao dizer à plateia a emoção que sentia ao exibir um filme sobre alguém que pra todo o nosso país foi um artista cultuado mas, que pra ela, além de também ter sido um titã das telas, foi um companheiro de vida por 30 anos. Mais firme, mas com uma semente de emoção também, a voz da professora da UFF Aída Marques traduzia pro Francês o que falava Ivelise. As duas assinam juntas a direção de um filme nada didático, que consegue ser doce sem deixar de ser profundo sobre as múltiplas facetas do realizador e imortal da ABL que fez o Brasil provar do gosto da brasilidade em suas telas. Ivelise e Aída se armam de entrevistas do próprip diretor e deixam que ele conte sua história, em primeira pessoa, revivendo uma obra que nasce em "Rio 40 Graus" (1955) e vai até um díptico sobre Tom Jobim. A costura que fazem é um primor, apoiadad numa pesquisa de imagens mastodônticas. É comovente ouvir Nelson se abrir. Que carta de amor ao cinema as duas fizeram. Foi hilário, na projeção ouvir Thierry Frémaux, o diretor artístico de Cannes, enrolar a língua pra falar "Pereira dos Santos".

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