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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Coda' de Coppola brilha na Netflix

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Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
 

Rodrigo Fonseca Tá rolando um boato de que o 76. Festival de Cannes vai conferir a Palma de Ouro Honorária de 2023 a Al Pacino, logo em sua abertura, no dia 16 de maio, com a exibição de "Billy Knight", um drama de Alec Griffen Roth sobre dois aspirantes a cineastas que buscam resquícios de um ídolo das telonas. O ídolo, no caso, será o papel de Pacino, hoje com 82 anos, preparando-se pra encenar "Rei Lear" no cinema. Seja ou não verdade a suposta homenagem preparada por Cannes - que anunciou nesta manhã a escolha do diretor sueco Ruben Östlund para presidir o júri da competição oficial -, a streaminguesfera está cheia de longas cultuados do astro, sem contar que a Amazon Prime exibe o show de atuação dele na série "Hunters". Mas a novidade mais inesperada acerca de seu legado apareceu na Netflix. O grande N está realizando uma mostra dedicada a concorrentes ao Oscar lendários ("Uma Mulher Fantástica", "Encontros e Desencontros", "Ela", "Corra!", "Democracia em Vertigem") e incluiu nessa seleção o precioso "O Poderoso Chefão de Mario Puzo - Desfecho: A Morte de Michael Corleone" (2020). Trata-se de um resgate do material bruto do terceiro tomo da saga "Godfather", lançado em 1990, recauchutado por Francis Ford Coppola ao longo da pandemia, com trechos inéditos. Há filmes que o Tempo deteriora, mas há narrativas cinematográficas por vezes esnobadas em seu lançamento que, com o passar dos anos, desabrocham e revelam-se obras-primas, mesmo precisando de algum retoque para isso, como é o caso de "O Poderoso Chefão III". Sem arrebatar espectadores desde 2011, quando lançou (quase desapercebidamente) o thriller sobrenatural "Virgínia" ("Twixt"), Coppola anda suando a camisa no set de "Megalopolis", com Adam Driver à frente de um elenco colossal. É um filme sobre o qual ele se debruçou ao longo das últimas duas décadas, pensando originalmente em ter Paul Newman (que morreu em 2008) como seu protagonista. Mas enquanto idealizava esse longa sobre uma cidade perfeita,o cineasta resolveu remexer no copião de "Godfather III", que entrou em circuito originalmente em 25 de dezembro de 1990 (no Brasil, 15 de março de 1991). Sua ideia era corrigir o que considera "imperfeições". Há quem diga que o desprestígio que a terceira parte da saga do clã mafioso Corleone foi o real motivo de ele redesenhar o longa-metragem que, à época de sua estreia, foi atacado especialmente pelo desempenho da filha de Francis F., Sofia Coppola (hoje respeitada como uma das mais prestigiadas realizadoras do planeta), como atriz. Revolucionário em sua representação sociológica do crime, o primeiro capítulo da trilogia custou US$ 6 milhões e arrecadou US$ 242 milhões em 1972, tendo recebido ainda os Oscars de melhor filme. Ator (Marlon Brando) e roteiro adaptado, dado a FF e a Mario Puzo (1920-1999), o autor do livro "The Godfather" de onde a trama foi pinçada. O segundo, de 1974, teve custo maior (US$ 13 milhões) e renda menor (US$ 193 milhões), porém é igualmente cultuado, tendo conquistado seis estatuetas douradas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, incluindo a de melhor direção pra Coppola e a de ator coadjuvante, entregue a Robert De Niro. E seu sucesso aconteceu num momento em que seu realizador comemorava a conquista da Palma de Ouro de Cannes por "A Conversação", também em 1974. Já a parte III - que regressa agora com o título "O Poderoso Chefão de Mario Puzo - Desfecho: A Morte de Michael Corleone" - disputou o Oscar em sete frentes e não levou nenhum, sendo bem mais caro que seus antecessores (US$ 54 milhões) e tendo bilheteria menor (US$ 136 milhões). Só que as três décadas que se passaram depuraram esse vinho estético e afiaram seu sabor.

Na versão da Netflix, Al Pacino é dublado por Alexandre Moreno  

O que mudou em "The Godfather Coda: The Death of Michael Corleone" é pouca coisa, mas faz diferença. Além de aparar sequências de Sofia e do canastrão George Hamilton, que vive o advogado B.J. Harrison, a revisão coordenada pelo próprio Coppola modifica o começo, tornando o mais ágil, a partir do conflito entre Michael (Al Pacino, em arrebatadora atuação) e o arcebispo Gilday (Donal Donnelly) pelas negociações imobiliárias entre a empresa dos Corleone e o Vaticano. Houve uma especial mudança nos momentos finais, diluindo uma quase caricata sequência que por anos a fio valeu ataques a Francis Ford. Agora, a montagem ficou mais enxuta, valorizando a tensão de Michael diante dos conflitos entre dois líderes da máfia, Joey Zasa (Joe Mantegna) e Don Altobello (Eli Wallach), e a diante do romance entre sua filha Mary (Sofia) e seu sobrinho Vincent, papel que transformou Andy Garcia em astro.

Andy Garcia é Vincent Corleone, sobrinho de Michael - papel deu a ele fama e uma indicação ao Oscar  

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Embora esses reparos feitos por Coppola tenham tornado o longa mais dinâmico, o que mais conta em sua volta à sala escura é a alta voltagem trágica da trama e precisão com que Francis Ford dominam a engenharia do tempo e do espaço da arte sequencial, saltando de arena em arena (de Nova York a Sicília) aproveitando todos os recursos de sinestesia que a edição de som de Gloria S. Borders e a fotografia de Gordon Willis (1931-2014) oferecem. A sequência do atentado a um conclave de chefões cometido por um helicóptero tripulado por criminosos é mais eletrizante hoje do que foi em 1990. Como bom dono de vinícola que é, Coppola sabe que a espera pode trazer frutos. No seu caso, "The Godfather Coda" se impõe como um dos melhores espetáculos cinematográficos da grade da Netflix hoje. A versão dublada é um achado, com Alexandre Moreno emprestando a voz a Pacino.

p.s: Grande sucesso de público na capital paulista, o monólogo "Helena Blavatsky, a voz do silêncio" fará mais oito apresentações, no Teatro B32. Helena Petrovna Blavatsky foi uma das figuras mais notáveis do mundo nas últimas décadas do século 19, tornando-se imprescindível para o pensamento moderno. A vida e obra desta renomada pensadora russa inspirou o espetáculo, já visto por mais de 25 mil pessoas em sessões virtuais e presenciais. Estrelada por Beth Zalcman, com texto de Lucia Helena Galvão e direção de Luiz Antônio Rocha, a montagem mexe com os espectadores ao instigar uma profunda reflexão sobre a busca do homem pelo conhecimento filosófico, espiritual e místico. Foi justamente essa busca pelo conhecimento da essência humana, propagado por Blavatsky, que fez com que o teatro tivesse 90% de ocupação durante a primeira temporada, com mais de 4.500 mil espectadores em 11 sessões.

p.s.2: Sete mulheres de povos, culturas e tempos diferentes se encontram no teatro. Maria Padilha de Castela, Maria Quitéria, Maria Felipa de Oliveira, Maria Doze Homens, Maria Bonita, Maria Navalha e Maria Mulambo entrelaçam suas histórias de luta e liberdade no musical "Outras Marias", que volta ao cartaz, dia 03 de março, no Teatro Glauce Rocha, no Centro. A peça, além de ser escolhida para a programação de reabertura do espaço, será apresentada no mês da mulher, para celebrar a força dessas personagens históricas. Com texto de Márcia Zanelatto e direção de Patrícia Selonk, o espetáculo nasceu de pesquisa da atriz e cantora Clara Santhana, que vive Clara Nunes no palco há 10 anos e dá continuidade ao seu trabalho sobre a trajetória de mulheres fortes. "Essas sete mulheres têm em comum, além do nome, o fato de serem mulheres transgressoras. Elas são de povos diferentes, culturas diferentes, viveram em tempos diferentes, mas representam a mulher livre", explica Clara Santhana.

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p.s.3: Com o objetivo de homenagear e apresentar os expoentes da música brasileira para as novas gerações, o projeto 'Grandes Músicos para Pequenos' volta a apresentar o seu premiado espetáculo Raulzito Beleza - Raul Seixas para Crianças, de 04 de março a 02 de abril, na EcoVilla Ri Happy, novo espaço no Jardim Botânico. Com direção de Diego Morais, direção musical de Cláudia Elizeu e texto de Pedro Henrique Lopes, o musical infantil se inspira na infância e em grandes sucessos da carreira de Raul Seixas para contar a história de um menino que era criativo demais, o que gera uma série de confusões na vida familiar e escolar. A nova temporada chega com novidades. O ator Ronaldo Reis, que há 10 anos interpreta o carismático Severino Capim na série Detetives do Prédio Azul, entra para o elenco como Seu Raul, e vai dividir a cena com Rodrigo Salvadoretti (Raulzito), Elisa Pinheiro (Maria Eugênia) e Pedro Henrique Lopes (Mêlo).

p.s.4: Quais são as relações possíveis de estabelecer entre o confinamento em instituições psiquiátricas e a reclusão experimentada por todos nós em 2020 e 2021 na pandemia de Covid-19? Como ressignificamos a vida em isolamento sem sucumbir à depressão e à melancolia? A partir desses questionamentos, o Projeto Trajetórias (formado pelo diretor Ivan Sugahara e pela atriz Danielle Oliveira) idealizou o espetáculo "Uma Mulher ao Sol", que volta ao cartaz, no Teatro Poeirinha, em 2 de março, com sessões de quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h. A peça se debruça sobre a vida e a obra de Maura Lopes Cançado (1929-1993), escritora mineira, radicada no Rio de Janeiro, que passou longos períodos em manicômios. Com direção e organização dramatúrgica de Ivan Sugahara, a montagem passou pelo Festival de Avignon (França), um dos maiores festivais de teatro do mundo, com ótima repercussão entre o público, além de críticas elogiosas em jornais locais. "O espetáculo realça a natureza teatral dos escritos de Maura. Se, durante a pandemia, livros, séries, filmes e músicas foram grandes aliados no enfrentamento da reclusão, Maura também recorreu à arte como forma de subverter o isolamento", comenta Sugahara.

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