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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Ovelha desgarrada em San Sebastián

RODRIGO FONSECA Mistura alarmada e alarmista de "A Vila" (2004) com "Anticristo" (2009), inflamado por uma centelha de ataque ao sexismo, "The Other Lamb", um exercício da diretora polonesa Malgorzata Szumowska pelas veredas da língua inglesa, tomou San Sebastián de assalto na manhã desta segunda. Fala-se em "obra-prima" no papo de corredor sobre o novo filme da realizadora de "Mug" (Grande Prêmio do Júri na Berlinale 2018) e de "Body" (melhor direção também em Berlim, em 2015). Há também quem fale em "decepção", pois não se trata de um cinema afeito a unanimidades. Mas incômodo ele causa a todos, por seu teor de denúncia, seja do machismo, seja da histeria religiosa.

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:

"Se você fizer uma pesquisa rápida na internet, vai ficar chocado com quantidade de filmagens, feitas com i-Phone, de ceriomônias católicas de exorcismo na Polônia. É uma febre", disse Malgorzata, quando iniciou o projeto, antes exibido no Festival de Toronto.

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Idealizado em um esquema de coprodução com a Irlanda e a Bélgica, "The Other Lamb", potencializado por uma fotografia mesmerizante, faz uma investigação sobre a prática do fundamentalismo. Na trama, uma seita chamada Rebanho perambula pelos EUA reunindo mulheres sob o comando de um clérigo chamado Pastor (Michiel Huisman). Ele é o único homem de sua seita, expulsando as fiéis que (dele) engravidam e dão "varões" à luz. Nesse universo de jugo fálico monopolista, uma jovem "ovelha", Selah (vivida pela atriz Raffey Cassidy, em ótima atuação) vai se empoderar... E reagir... à sua maneira.

Fotografia mesmerizante vitamina os planos de Malgorzata Szumowska em "The Other Lamb" Foto: Estadão

Antenado com reflexões sobre a afirmação da força feminina, o júri deu à diretora Célina Sciamma a láurea de melhor roteiro por "Portrait de une jeune fille en feu", sobre uma pintora que deve retratar uma jovem oprimida. Juntas, elas se libertam.

"É a importância da união", disse Sciamma ao P de Pop.

No domingo, na disputa pela Concha de Ouro, San Sebastián conferiu um concorrente da China: "Llamo and Skalbe", de Sontha Gyal. Na trama, um casal apaixonado tem que abrir mão do sonho do matrimônio porque ele não completou seu divórcio legalmente e a ex pretende trazer problemas para os anseios românticos de seu antigo parceiro. Mas as razões disso não são movidas pelo egoísmo e sim por feridas profundas. "Busquei as cores da natureza, sem filtros, retratando universo da ópera tibetana de forma desritualizada, sem exotismos", disse o cineasta chinês ao Estado.

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Até o momento, no evento, que abriu as portas na sexta-feira, o longa em concurso com maior adesão afetiva dos críticos é "Próxima", da francesa Alice Winocour (de "Augustine"), no qual Eva Green vive uma astronauta com conflitos em um planeta não muito distante, chamado Maternidade.

Porém a produção com mais visibilidade da mostra oficial foi exibida hors-concours: a dramédia argentina "La Odisea de Los Giles", de Sebastián Borensztein, com Ricardo Darín e seu filho ator, Chino. Vista por 1 milhão de pagantes na terra de nossos hermanos, o longa, hilário, põe o astro sul-americana no papel de um ex-craque de futebol que, em 2001, no ano da falência financeira de sua pátria, reúne um grupo de vizinhos, em uma cidadezinha do interior, para abrir uma cooperativa. É singular sua habilidade de gerar riso ao mesmo tempo em que documenta a "quebra" da Argentina em sua saúde econômica.

San Sebastián segue até o dia 28, quando será realizada a cerimônia de premiação, conduzida pelo júri presidido pelo diretor irlandês Neil Jordan. A entrega das láureas hispânicas será precedida pela exibição de um filme surpresa, o que todos aqui acreditam ser o novo Woody Allen: "A rainy day in New York".

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