"Se você fizer uma pesquisa rápida na internet, vai ficar chocado com quantidade de filmagens, feitas com i-Phone, de ceriomônias católicas de exorcismo na Polônia. É uma febre", disse Malgorzata, quando iniciou o projeto, antes exibido no Festival de Toronto.
Idealizado em um esquema de coprodução com a Irlanda e a Bélgica, "The Other Lamb", potencializado por uma fotografia mesmerizante, faz uma investigação sobre a prática do fundamentalismo. Na trama, uma seita chamada Rebanho perambula pelos EUA reunindo mulheres sob o comando de um clérigo chamado Pastor (Michiel Huisman). Ele é o único homem de sua seita, expulsando as fiéis que (dele) engravidam e dão "varões" à luz. Nesse universo de jugo fálico monopolista, uma jovem "ovelha", Selah (vivida pela atriz Raffey Cassidy, em ótima atuação) vai se empoderar... E reagir... à sua maneira.
Antenado com reflexões sobre a afirmação da força feminina, o júri deu à diretora Célina Sciamma a láurea de melhor roteiro por "Portrait de une jeune fille en feu", sobre uma pintora que deve retratar uma jovem oprimida. Juntas, elas se libertam.
"É a importância da união", disse Sciamma ao P de Pop.
No domingo, na disputa pela Concha de Ouro, San Sebastián conferiu um concorrente da China: "Llamo and Skalbe", de Sontha Gyal. Na trama, um casal apaixonado tem que abrir mão do sonho do matrimônio porque ele não completou seu divórcio legalmente e a ex pretende trazer problemas para os anseios românticos de seu antigo parceiro. Mas as razões disso não são movidas pelo egoísmo e sim por feridas profundas. "Busquei as cores da natureza, sem filtros, retratando universo da ópera tibetana de forma desritualizada, sem exotismos", disse o cineasta chinês ao Estado.
Até o momento, no evento, que abriu as portas na sexta-feira, o longa em concurso com maior adesão afetiva dos críticos é "Próxima", da francesa Alice Winocour (de "Augustine"), no qual Eva Green vive uma astronauta com conflitos em um planeta não muito distante, chamado Maternidade.
Porém a produção com mais visibilidade da mostra oficial foi exibida hors-concours: a dramédia argentina "La Odisea de Los Giles", de Sebastián Borensztein, com Ricardo Darín e seu filho ator, Chino. Vista por 1 milhão de pagantes na terra de nossos hermanos, o longa, hilário, põe o astro sul-americana no papel de um ex-craque de futebol que, em 2001, no ano da falência financeira de sua pátria, reúne um grupo de vizinhos, em uma cidadezinha do interior, para abrir uma cooperativa. É singular sua habilidade de gerar riso ao mesmo tempo em que documenta a "quebra" da Argentina em sua saúde econômica.
San Sebastián segue até o dia 28, quando será realizada a cerimônia de premiação, conduzida pelo júri presidido pelo diretor irlandês Neil Jordan. A entrega das láureas hispânicas será precedida pela exibição de um filme surpresa, o que todos aqui acreditam ser o novo Woody Allen: "A rainy day in New York".