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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

'Sibéria': Abel Ferrara tá na Amazon

Por Rodrigo Fonseca
Atualização:
Willem Dafoe é Clint, um sujeito em peregrinação existencial em "Sibéria", que concorreu ao Urso de Ouro em 2020 - Foto: Lionsgate

Rodrigo Fonseca Grande achado da luta pelo Urso de Ouro de 2020, classificado como obra-prima à época de sua passagem pelo 70. Festival de Berlim, antes da pandemia, "Sibéria", de Abel Ferrara, agora vai despertar paixões (e gerar repúdios) na streaminguesfera, ao levar sua metafísica à grade da Amazon Prime. Mais caudaloso exercício filosófico do diretor de "Vício Frenético" (1992) em anos, essa produção de 92 minutos traz Willem Dafoe no papel de Clint, dono de uma taverna numa imensidão gelada que vive uma série de peregrinações, de corpo e de alma, à cata de harmonia. É um estudo devastador sobre o insulamento de alguém que perdeu a fé na vida em sociedade.

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"É um filme sobre exílio e e sobre abandono", disse Ferrara ao Estadão, na Berlinale, esbanjando um bom humor incomum a suas coletivas, e pedindo aplausos para colegas de equipe que não estavam à mesa com ele. "Creio na força das trupes, do coletivo". Houve quem saísse exaurido e irritado de "Sibéria", em Berlim, em especial em uma sequência na qual um peixe fala. Tudo é parte de um engenho cosmológico do diretor para retratar um cruzada em rota para a espiritualidade. A fotografia de Stefano Falivene brinca com sombras e luzes, em tons de vermelho, conforme Clint (Dafoe, imponente, numa atuação de rasgar os pulsos) gravita pelo mundo, indo da neve ao deserto. Em suas andanças, ele cruza com figuras misteriosas, como uma grávida sedenta por vodca, carinho e abrigo.

"Todo filme que foge das convenções de mercado para buscar um sentido estético é um filme político", disse Dafoe, que dança ao som de uma balada numa das sequências mais carárticas do longa.

 

Laureado com o prêmio de Melhor Direção no Festival de Locarno de 2021 por "Zeros and Ones", ainda inédito por aqui, Ferrara é um ramo de fim de colheita na comparação com os grandes diretores estadunidenses revelados nos anos 1979. Só em 1979 ele chamou atenção, com "Driller Killer", aqui chamado "O Assassino da Furadeira". Desde então, mudou muito, indo de narrativas mais violentas, como "O Rei de Nova York" (1990), a estudos de personagem como "Tommaso" (2019). Mas "Sibéria" une o melhor dos dois mundos, indo da virulência do passado à linha contemplativa das suas longas mais recentes, como "Pasolini" (2014). É um filme que renova sua grife e bagunça o peito da plateia na dimensão inquieta do existencialismo.

p.s.: No começo da pandemia da Covid-19, o ator e diretor Pedro Monteiro viu todos os seus projetos profissionais serem cancelados ou paralisados de uma hora para outra. Na ocasião, ele, pai recente de uma bebê de apenas seis meses, recebeu uma mensagem da sogra com a seguinte pergunta: "Você já parou para pensar como vai explicar para Pilar o que aconteceu no primeiro ano de vida dela?", indagava a jornalista e professora Andrea Estevão. Foi assim que surgiu a ideia do documentário "Primeiro Ano", com direção de Pedro, que estreia, dia 28 de março, com sessão gratuita, às 19h, no Estação Net Botafogo. A partir deste momento, já decidido a fazer um filme, ele começou a reunir muitas imagens da pequena Pilar, hoje com três anos, e a coletar depoimentos de profissionais de áreas diversas que pudessem falar para a criança sobre o seu primeiro ano de vida. Após uma única sessão no cinema, a obra vai ficar disponível no Youtube durante dois meses (https://youtu.be/-qUq0atj-ug). "Primeiro Ano" é patrocinado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Controllab por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei do ISS.

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