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De antena ligada nas HQs, cinema-pipoca, RPG e afins

Voz de Danton Mello torna a animação 'Chef Jack' uma iguaria em nossas telas

Por Rodrigo Fonseca
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RODRIGO FONSECA Saborosa mistura de "Johnny Quest" com "MasterChef", a animação brasileira "Chef Jack - O Cozinheiro Aventureiro", de Guilherme Fiúza Zenha, dá a seu protagonista - um mestre-cuca empenhado na busca pelo tempero definitivo e pela boa reputação perdida - a voz de Danton Mello. Ídolo jovem na década de 1990, quando encarnou o bom moço Héricles na season one de "Malhação", Danton começou a atuar aos 5 anos, em comerciais. Estreou em novelas aos 10, em "A Gata Comeu" (1985), como promessa mirim, sem nunca largar os folhetins, como se viu em sua recente participação em "Um Lugar Ao Sol" (2021) e em "Deus Salve o Rei" (2018). Ainda moleque, começou a dublar, tendo emprestado a voz para cults como "Os Goonies", no qual fazia a versão brasileira de Bocão (Corey Feldman). Seu irmão, o também ator e dublador Selton Mello, era um dínamo da dublagem também. Os dois formavam uma dupla preciosa para uma arte em que o Brasil é um titã. Fora isso, Danton atuou em sucessos da nossa teledramaturgia como "Vale Tudo" (1988) e "Hilda Furacão" (1998) e chegou a interpretar protagonistas na teledramaturgia, como "Sinhá Moça" (2006), ao lado de Débora Falabella. No cinema, brilhou em "Benjamim" (2003), thriller da baiana Monique Gardenberg, cujo papel dividia com Paulo José. É um longa belíssimo, inspirado na literatura de Chico Buarque, cuja estreia aconteceu há 20 anos. Ele ainda teve espaço nobre em blockbusters como "Vai Que Dá Certo" e "O Concurso", ambos de 2013. Em 2022, ele estrelou um dos maiores sucessos nacionais, "Predestinado, Arigó e o Espírito do Dr. Fritz", numa atuação comovente. Com uma habilidade singular de esculpir modulações afetivas em sua voz, marca de quem fez carreira na Herbert Richers, Danton sabe encarnar como ninguém o chamado "brasileiro comum", o tipo "gente como a gente", feito Jack Lemmon fazia nos EUA. Cada trabalho dele expõe a poesia de nossa coloquialidade. Na entrevista a seguir, Danton fala da experiência em "Chef Jack" e do legado da dublagem.

De que maneira a dublagem talhou a linha de atuação que você persegue hoje? O que diretores de dublagem como Mario Monjardim trouxeram de mais valioso para a carreira que você construiu? Danton Mello: A dublagem foi muito importante na minha vida. Tanta gente, não só o Monjardim, fez parte da minha formação. Teve Júlio Chaves, Orlando Drummond, Newton DaMatta, André Filho, Miriam Fischer, Mônica Rossi, Mário Jorge, Marlene Costa. Grandes vozes foram meus professores. Criança, ao lado desses grandes artistas, eu pude aprender principalmente como a usar a voz. Na convivência, aprendi a importância da voz. Sem dúvida, eu aprendi muita coisa na dublagem, que trouxe pra vida artística: dicção, impostação, clareza ao falar. Foi uma grande escola para mim. São tantas pessoas maravilhosas com quem eu tive o prazer e a honra de dividir bancada, numa época em que a gente dublava junto, todo mundo ao mesmo tempo. Pude conviver com figuras fenomenais.

 

O que você leva de mais pessoal, de mais leve e (também) de mais intenso a um herói como Chef Jack? Danton Mello: Todo personagem que a gente faz toma emprestado alguma coisa nossa. Jack é um personagem muito fofo, que tem uma virada muito bacana. É um jovem que começa meio se achando, com um certo tom de arrogância de se considerar o melhor, mas se transforma, ao descobrir a amizade e a generosidade. O mais legal nesse trabalho é que fiz pela primeira vez algo original na animação. Sempre dublei tendo uma imagem já pronta e a obrigação de sincronizar. Nesse filme, fizemos o processo de criação original. Entrei no estúdio com o Gui Fiúza e a gente pode trabalhar e criar juntos. Eu tinha uma referência, um esboço, o que eles chamam de animatik. Eu tinha uma parte do desenho já pronta, mas o mais importante, que era a boca, eu não tinha. Eu não tive, em nenhum momento, a preocupação de ter que sincronizar com a boca do personagem. Foi uma experiência muito gostosa.

Danton protagonizou "Predestinado", a biopic de Zé Arigó, que foi um dos maiores sucessos brasileiros de 2022  

Você teve uma linda participação na novela de Lícia Manzo, "Um Lugar Ao Sol" - um drama - sem nunca se afastar do cinema e das séries, no registro do riso. Que lugar a comédia brasileira te ofereceu? O que ela te trouxe de mais potente? Que filmes você roda este ano? Danton Mello: Tenho um carinho enorme pelo Mateus da novela "Um Lugar Ao Sol", que veio de um texto incrível da Lícia Manzo. É uma superautora. E foi mais uma parceria com Maurício Farias. Um personagem muito bonito. Foi um prazer fazer parte desse trabalho. A comédia tem um papel importantíssimo na minha vida. Até hoje, eu respondo, quando alguém diz que sou comediante, eu digo que sou um ator que faz comédia. A comédia chegou na minha vida pela primeira vez, no teatro. Fiz alguns espetáculos, ainda tive o prazer de trabalhar com Fernando Guerreiro, com Alexandre Reinecke, com Wilker... Com eles, eu aprendi o tempo da comédia e a precisão. Depois vieram os filmes. Foram várias comédias nas telonas, com personagens muito bons, com elencos incríveis e excelentes textos. É muito bom poder experimentar um pouco de tudo e poder rodar entre o teatro, o cinema e a televisão, entre o drama e a comédia. Isso sempre foi muito importante na minha carreira. Esse ano além de "Chef Jack", em abril, eu lanço um drama, "Ninguém É De Ninguém", baseado na obra da Zíbia Gasparetto. Um personagem forte e diferente de tudo que já fiz até hoje. Em junho, lanço uma comédia, com a Giovana Antonelli, chamada "Apaixonada". Estou me preparando para começar a rodar uma série para uma plataforma de streaming e pensando nos projetos do segundo semestre.

Cleo e Danton no filme "Benjamin", baseado em romance de Chico Buarque  

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Hoje em cartaz na grade do Globoplay, "Benjamin" vai fazer 20 anos. O que o filme dirigido por Monique Gardenberg - se não me engano o teu primeiro protagonista nas telas - te trouxe de mais vívido? Danton Mello: Foi meu primeiro protagonista nas telonas, exatamente. É um filme incrível. Só tenho excelentes lembranças desse trabalho tão delicado, tão intenso. Monique é um doce de diretora, delicada e sensível. Foi a estreia da Cléo nas telonas. Acho que a minha lembrança mais incrível é a parceria com Paulo José, ter dividido personagem com ele e ter participado e acompanhado a criação do personagem. O Paulo é um ícone, da nossa história, não só do cinema. Paulo foi um gigante.

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p.s.: Que primor de filme é YOUSSEF SALEM A DU SUCCÈS, de Baya Kasmi, hoje em cartaz na França. Prolífica roteirista e atriz, Baya marca um golaço na direção apoiada no carisma GG de Ramzy Bedia. Ele ilumina a tela no papel de um imigrante magrebino que resolve transformar o cotidiano de sua abilolada família na argamassa de um romance que estou nas vendas e ganha o Prix Goncourt, disputada láurea literária francesa. Mas o êxito do livro cria uma indisposição entre ele, suas irmãs e seu irmão, o que ameaça a extinguir sua relação com seu pai, um sujeito obcecado pela pureza da língua. É uma narrativa hilariante.

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