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No Palco Sunset, kiwi com samba reggae

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 Foto: Estadão

A neozelandesa Kimbra tocou música do Michael Jackson com o Olodum

 

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Roberto Nascimento

Quem não conhece Kimbra talvez não saiba que é dela a voz no dueto Somebody That I Used to Know, megahit do cantor Gotye, em 2011/12. Em seu trabalho próprio, a cantora faz pop com reverência ao r&b de Prince e nomes de sucesso do início dos anos 1990, como En Vogue, Babyface e Paula Abdul. É um período menos explorado pelos retromaníacos do soul, e certamente uma raridade num evento de poucas sutilezas como o Rock in Rio, mas foi responsável por um dos destaques do festival até agora. Com um jeitão Katy Perry, vestido inflado de Alice no País da Maravilhas, Kimbra protagonizou um take excêntrico sobre r&b de época, cantando doidivanas sobre as sólidas bases rítmicas de sua banda, lembrando, em vezes, o surrealismo hiperglorioso do Cocteau Twins. O balanço seduziu o público do Palco Sunset, ressuscitando a veia truncada das batidas de Prince, até que Kimbra encerrou sua Cameo Lover e chamou reforços. Eis que surge um pelotão de ritmistas do Olodum, Kimbra sobe a ladeira, chega a Salvador, e cai no samba reggae. Foi um dos momentos memoráveis desta temporada de rock: uma neozelandesa mergulhando no suingue brasuca, com toda a falta de intimidade estrangeira que se possa imaginar, e mesmo assim, criando um bem bolado rítmico altamente contagiante. O público, lógico, estava em casa e ao ouvir o toque arrastado, curtido em gerações de negritude e sol baianos, do Olodum, fez carnaval sobre a grama sintética do Rock in Rio, consagrando a nova Ivete da terra do kiwi. No cerne da mescla de Kimbra estava um visível respeito pela cultura alheia, e a cantora arriscou até um português ensaiadíssimo, embora imperfeito: "Isto é a very momento especial for me now", disse, antes de chamar os baianos e dar início ao ápice da colaboração. Nos primeiros compassos de uma certa característica batida do grupo, lembramos de Michael Jackson, vimos a criançada no Pelourinho, e ouvimos Kimbra dar início a uma pequena catarse com They Don't Really Care About Us. Michael tem marcado presença no Rock in Rio 2013. Beyoncé fez show com referências a ele, no primeiro dia do festival, e sua banda tocou um trecho de Human Nature. O cover de Kimbra capturou a essência da versão original, pois a cantora ressuscitou toda a indignação rasgada da voz de Jackson ao interpretar os versos. Em seguida, durante um solo do grupo, ela se entregou ao transe rítmico na lateral do palco. Voltou para cantar mais duas, mas no começo da segunda, fogos de artifício, anunciando o próximo show no Palco Mundo, engoliram o som e distraíram a plateia. Começava o previsível, repetitivo e intragável show de Rogério Flausino e o Jota Quest, que fez basicamente a mesma apresentação mostrada em 2011, sobre o mesmo palco. Mas como se trata do dia 'soul' do Rock in Rio, a organização encaixou o subproduto de soul music, mais apropriado para comercial de chiclete do que festival de música, no palco principal. É quase impossível encontrar um aspecto que mereça análise na música do grupo. Representam a regurgitação do status quo, ano após ano. O apocalipse da criatividade afro em uma reconstituição aguada de soul music. Os fogos estavam no palco errado.

 

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