Raul Loureiro é recordista do Jabuti

Na lista dos candidatos ao Prêmio Jabuti deste ano, seu nome aparece cinco vezes. Quatro na categoria capa, uma outra em projeto editorial

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Por Agencia Estado
Atualização:

Na lista dos candidatos ao Prêmio Jabuti deste ano, o mais tradicional da indústria livreira do País, o nome Raul Loureiro aparece cinco vezes. Quatro na categoria capa, uma outra em projeto editorial. Um número que sugere um profissional já amplamente conhecido, reconhecido e premiado. Mas o fato é que, se Loureiro já vem trabalhando bastante para as editoras, ele nem sabia como funcionava esse tal de Prêmio Jabuti - afinal, nunca entrara na lista. Outra surpresa para ele foi a rápida comparação dos trabalhos que o levaram a ser indicado: todos usam foto como suporte para suas criações. É o caso do livro Flor do Deserto (editora Hedra), de Cathleen Miller, que concorre na categoria capa com Ô Copacabana e Abraçado ao Meu Rancor (Cosac & Naify), de João Antônio, e A Utopia Burocrática de Máximo Modesto (Companhia das Letras), de Dionísio Jacob. Também usa uma foto na capa Fausto Zero (Cosac & Naify), de Goethe, único trabalho de Loureiro a concorrer a projeto editorial. Foi engraçado, porque parece que só trabalho com fotos, disse. Para provar que não é assim, pega o livro Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira, de J.D. Salinger em que não usa um jogo de cores (e identifica um pequeno erro, imperceptível para quem não é autor da capa). Essa é uma capa difícil, porque os herdeiros de Salinger impõem uma série de regras sobre o tamanho das letras, a posição, etc., mas eu gosto assim, diz, antes de devolver a obra para uma mesa cheia delas na sala do apartamento em que mora, no Paraíso - cuja decoração lembra muito outra capa de Loureiro, de Reminiscências do Sol Quadrado (Cosac & Naify), de Mário Lago: espaços vazios, parede brancas, algumas gravuras cuidadosamente penduradas. Loureiro, esse novo homem-jabuti, estudou cinema e arquitetura (concluiu o primeiro curso só depois de passar, sem terminar, pelo segundo). De 1991 a 1998, viveu nos Estados Unidos, onde fez mestrado em desenho gráfico em Boston e trabalhou no MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York. Lá, fez de folder a pôster, mas o trabalho mais importante que realizou foi a reorganização gráfica da revista do museu. Na volta ao Brasil, fez catálogos para a Bienal de 1998 e para a galeria Camargo Villaça, antes de se especializar em livros. Neste ramo, um dos trabalhos mais importantes que realizou foi redefinir os projetos gráficos da Companhia das Letras - que inclui novos tipos de letras, diferentes para obras de ficção e de não-ficção. Especialização - Atualmente, costuma dar expediente na Cosac & Naify, editora para quem mais trabalha. O designer não sabe bem explicar por que acabou se especializando. Mas um dos bons motivos pode ser que ele gosta muito de trabalhar com texto, o que não é uma unanimidade em sua profissão. O texto tem de se encaixar no desenho, fazer parte dele, e não ser eliminado; às vezes, acho que ele ajuda muito, dá um balanço na imagem, diz. E completa: O grande desafio é juntar os dois: escolher os cortes das fotos, o lugar para o texto, a fonte, tudo isso exige decisões, é o gostoso de fazer. Num mês, Loureiro faz, em média, três ou quatro capas, além de projetos gráficos de livros completos. No entanto, já chegou a fazer até oito capas. Nesse caso, ele admite que não consegue ler todos os livros para os quais dá uma cara. Sento com o editor, ou mesmo com o autor, e discuto o livro, ouço o que eles estão imaginando, que expectativa têm. Do jeito que fala, parece fácil.

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