Tabajara Ruas passou boa parte do mês de janeiro vendo filmes na TV. vídeos, programas normais das emissoras da TV paga e aberta. A preferência era por filmes de ação, de preferência que tivessem cenas de batalhas navais. É o desafio que ele vai enfrentar no próximo filme, baseado na experiência amorosa de Anita e Giuseppe Garibaldi. "Em Netto Perde Sua Alma o desafio era encenar combates em terra; acho que nos saímos bem, pelo menos não comprometemos", diz Ruas, avaliando o próprio trabalho (em parceria com Beto Souza). No novo filme, com rodagem anunciada para o segundo semestre, ele vai ter de encenar sozinho uma batalha naval, quando as forças do Império combateram a República Juliana, uma utopia de 112 dias criada pelos farroupilhas em Laguna, ao sul de Santa Catarina. "Tenho dado preferência aos filmes norte-americanos de segunda linha, aqueles de produção bem barata; vamos trabalhar com limitações de orçamento e assim eu vou me preparando para a hora em que tiver de filmar." Ele não acha que vai copiar cenas desses filmes. Cita o caso de Steven Spielberg. "Ele disse que viu mais de 50 filmes para encenar as cenas de guerra de O Retorno do Soldado Ryan." O cinema é uma referência importante na literatura de Tabajara Ruas, nascido em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, próximo à fronteira. Ele viu muitos filmes de aventuras de Hollywood quando era garoto, nos tempos do programa duplo. Westerns, filmes de piratas, de capa-e-espada, fantasias científicas. Mas nega que tenha sido essa sua única fonte de influência. "O cinema que me marcou foi o de Gláuber Rocha, David Lean, Akira Kurosawa, Michelangelo Antonioni e Luis Buñuel", explica. E também os gibis, a literatura, a música, o teatro e a pintura. Tudo isso influencia sua literatura e, agora, também seu cinema. Já que muitos de seus livros são épicos, com personagens maiores que a vida, Ruas já polemizou com os críticos. Tentaram acusá-lo de pretender fazer com que seus romances e novelas funcionem também como roteiros fílmicos, visualizando cenas de impacto, e sugeriram que isso poderia estar comprometendo sua atividade literária. Ruas ironiza: diz que, nessa área, não consegue rivalizar com um colega da antiga, Deus, autor do best-seller, a Bíblia, que, esse sim, escrevia histórias como se fossem roteiros de filmes, preparando-se para Hollywood. A ironia vai além. Ele diz que Homero, outro da antiga, não escrevia de olho no cinema, pois, afinal, o cara era cego, mas tudo o que escreveu foi filmado. E Shakespeare, e Tolstói, e Alexandre Dumas, e Julio Verne. Todos autores ´cinematográficos´ embora anteriores ao cinema. Nos filmes, Ruas sabe que precisa lidar com a imagem, sem abdicar da palavra. Na atividade como redator, e não apenas como ficcionista, transformou em máxima uma frase do crítico José Onofre: "Tudo é texto", seja um anúncio de sabonete, um editorial sobre câmbio, um romance policial ou um poema. Acha que quem trabalha com palavras, seja jornalista ou ficcionista, tem de ser profissional. "Ou a gente respeita as palavras ou se dana", gosta de dizer. Ruas respeita. Não é por acaso que Os Varões Assinalados foi escolhido um dos 30 livros inesquecíveis publicados nos últimos 30 anos por uma pesquisa feita no Sul.