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‘Cangaço Novo’, série do Brasil que virou hit global, tem ‘temas universais’, explicam criadores

Produção de Mariana Bardan e Eduardo Melo se passa no sertão do Ceará e está no top 10 de 53 países no Prime Video; para eles, assuntos como injustiças sociais, dramas familiares e pertencimento justificam sucesso

Foto do author Julia Queiroz
Por Julia Queiroz
Atualização:

Dez anos da vida do casal de roteiristas Mariana Bardan, 35, e Eduardo Melo, 40, giraram em torno de fazer a série Cangaço Novo acontecer. Agora, a produção é sucesso de público e crítica no Brasil, emplacou no exterior e virou hit em diversos países do continente africano.

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Lançado pelo Amazon Prime Video no dia 18 de agosto, o seriado de oito episódios se passa no sertão do Ceará e retrata as violências e injustiças do estado ao seguir uma gangue de assaltantes de banco que domina as pequenas cidades do interior.

Conforme apontado pelo Estadão, na última quinta-feira, 31, a série já havia aparecido no Top 10 de 49 países, 24 deles localizados na África. Na segunda-feira, 4, o número havia subido para 53 países.

Os dados foram divulgados pelo site FlixPatrol, que diz compilar informações com base no ranking de popularidade vindo diretamente das plataformas de streaming - a reportagem entrou em contato com a Amazon para apurar os dados, mas a empresa afirmou não divulgar números oficiais.

“Estamos vendo textos escritos em espanhol, inglês, alemão, grupos e fóruns de pessoas que ficam ligadas em séries. Só isso já é muito importante, que a série tenha tido esse impacto”, diz Eduardo Melo sobre a repercussão.

Para ele, a surpresa é apenas parcial. O cineasta, que tem pai cearense e mãe baiana, sempre acreditou no potencial da história. “Ele tinha uma certeza dentro dele que eu, que sou muito pessimista, achava uma coisa meio cega, meio loucura”, conta Mariana Bardan.

Assim como o companheiro, Mariana “apostou todas as fichas” na produção, mas sem a mesma certeza de que daria certo. “Eu realmente nunca duvidei. Brinco que, se eu fosse cair, cairia do 25º andar. Nesses dez anos, dormi, acordei, sonhei, e não parava de pensar na série”, lembra o roteirista.

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Mariana Bardan e Eduardo Melo no set de filmagens de 'Cangaço Novo'. Foto: Arquivo Pessoal

O diretor Fábio Mendonça, que dividiu a direção com Aly Muritiba, atesta a certeza de Eduardo e aponta que via potencial internacional na série, mas admite que não imaginava tamanho sucesso. “A coisa se espalhou de um jeito que é, de fato, muito inusitado”, diz.

Ele entrou em contato com a trama após ser abordada por Mariana e Eduardo, antes mesmo da série ter sido escolhida pela Amazon. “Tinha uma combinação muito boa entre personagem e ambiente que deixa o pacote desse trabalho bem forte e potente”, lembra sobre o produto original.

Por que Cangaço Novo emplacou assim no mundo?

Segundo Eduardo, o plano para Cangaço Novo sempre foi fazer “uma série brasileira internacional” - uma produção que, mesmo tratando de temas de um universo particular dentro do Brasil, pudesse ser vista por pessoas de qualquer lugar do mundo e proporcionar algum tipo de conexão.

Isso também tem relação com a plataforma em que o cineasta e Mariana conseguiram emplacar o projeto: uma empresa de streaming. O criador explica que essas plataformas, ao chegarem no País, buscavam histórias que fossem do “local para o global”.

'Cangaço Novo' entrou para o catálogo do Amazon Prime Video em 240 territórios. Foto: Aline Arruda/Amazon Prime Video/Divulgação

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Ainda assim, o sucesso da série no continente africano impressionou. Mariana e Eduardo reforçam a falta de números oficiais - eles também não têm acesso aos dados -, mas arriscam explicar por que a série parece ter conquistado tanta gente em países como Angola, Moçambique e Costa do Marfim.

“A empatia relacionada com os protagonistas, da onde eles são, a cor que eles têm. [Falamos de] temas universais: pertencimento, família, drama familiar, traumas, sobrevivência. São temas muito abertos [...] mas acho que fomos assertivos na forma de falar deles”, diz Mariana.

Na trama, tudo começa com Ubaldo (Allan Souza Lima), morador de São Paulo que acabou de ser desligado de um banco e descobre uma herança de sua família de sangue na cidade fictícia de Cratará, no sertão cearense.

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Vendo uma esperança de arranjar dinheiro para ajudar seu pai adotivo, que está internado na capital paulista, ele parte para o Ceará, onde acaba descobrindo a existência de duas irmãs: Dinorah (Alice Carvalho) e Dilvânia (Thainá Duarte).

Allan Souza Lima, Alice Carvalho, Thainá Duarte são os protagonistas de 'Cangaço Novo'. Foto: Renato Amoroso/Amazon Prime Video/Divulgação

Ubaldo passa a ser admirado pela grande semelhança com seu pai biológico, que era o líder de uma gangue de assaltos, e é convocado para assumir seu papel como o novo mítico “cangaceiro”. Com muita ação, a história explora violência, corrupção, religião e, principalmente, pertencimento.

Eduardo cita que a produção se preocupou em mostrar diferentes pontos de vistas e manter todos os personagens tridimensionais. Além disso, destaca que as injustiças sociais abordadas pela história também causam um impacto em quem assiste.

“O Edu sempre fala de serem personagens esféricos: ele não é só mau, ou só feliz, ou só bom, ou só engraçado. Tem mais camadas ali”.

Mariana Bardan

“Quem não tem vontade de socar um homem eventualmente? De explodir um banco? Quem não se revolta com burocracias? Quem não precisa de dinheiro para comprar remédios caros? É isso: os problemas dos nossos personagens são problemas que a gente enfrenta também”, completa Mariana.

Ubaldo é um cara frustrado, diz Allan Souza Lima


*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

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