Quem é a mulher que deu vida a ‘Rei Leão’ no palco e criou o musical mais rentável da história?

Julie Taymor está em SP para acompanhar estreia de nova temporada do musical, que completa 25 anos, tendo sido apresentado em 70 países. Ele já foi visto por 100 milhões de pessoas e rendeu US$ 8,1 bilhões

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Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio
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O musical O Rei Leão acaba de completar 25 anos em cartaz, tendo sido apresentado em 70 países e visto por um público estimado de 100 milhões de pessoas. A bilheteria global já passa de US$ 8,1 bilhão (cerca de R$ 38,8 bilhões). É o musical mais rentável da história, de longe.

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O mais importante, para a diretora norte-americana Julie Taymor, criadora do espetáculo, é que o tempo não diminuiu a importância das mensagens que a obra carrega – ainda que, ela ressalta, vivamos hoje em um mundo diferente daquele em que o musical nasceu, nos anos 1990.

Taymor está no Brasil para a estreia de uma temporada do musical no Teatro Renault, que começa no dia 20 de julho e segue até o dia 31 de agosto, dez anos após a primeira passagem de O Rei Leão pelo País. As canções, criadas por Elton John e Tim Rice, tem versões em português feitas por Gilberto Gil (veja serviço completo abaixo).

Reestreia de 'O Rei Leão' em São Paulo Foto: Divulgação/T4F

“Acredito que a beleza está naquilo que temos em comum. E a mente das pessoas hoje está em um lugar oposto a isso. ‘Não, você não me entende, você não sabe o que é ser uma mulher, o que é ser negro, você não tem direito a saber e, mesmo que saiba, e se sinta inspirado pela minha história, você não tem direito de contá-la’”, imita Taymor.

“Há, claro, uma importância nessa maneira de pensar. Mas o musical sugere outro caminho. Quem sabe o que é ser uma zebra? Ninguém sabe o que é ser um leão ou uma hiena. Nesse caso, somos todos inocentes e ignorantes. Então, vamos partir daí para construir uma compreensão comum. Pois todos sabemos o que significa para uma criança perder o pai, ainda mais depois da pandemia.”

O Rei Leão é uma peça de teatro sofisticada, com grandes músicas, mas toca naquilo que o teatro sempre foi: um modo de compreender os diferentes estágios da vida

Julie Taymor

Julie Taymor Foto: Divulgação/T4F

Para a diretora, o teatro se faz de magia, mas isso não significa alienação com relação a questões do mundo à nossa volta. “Eu sou uma pessoa política, tudo é política. O Rei Leão é político ao abordar a questão de raça”, ela afirma, lembrando que optou, no texto, por manter passagens em zulu, suaíli, xhosa, sotho, tswana e congolês. “Isso é muito poderoso, porque se você consegue tocar as pessoas, você consegue relativizar e ao mesmo tempo elevar a discussão sobre questões como a de raça.”

Conteúdo e forma

Boa parte do sucesso de O Rei Leão está na escolha por contar a história de Simba utilizando bonecos, máscaras e esculturas – a de um elefante, por exemplo, tem quatro metros de comprimento e 2,8 metros de largura. É um recurso que a diretora utilizou também em outros espetáculos que dirigiu – e seu trabalho, apesar da celebridade que o musical lhe rendeu, a levou a outros gêneros, como a ópera. Ela dirigiu em 1993 uma revolucionária produção de Édipo Rei, de Stravinsky, no Japão, e criou em 2010 uma montagem de A flauta mágica, de Mozart, para o Metropolitan Opera de Nova York.

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Seus interesses são diversos: ela já dirigiu Shakespeare no teatro e no cinema, com Titus, estrelado por Anthony Hopkins; adaptou a peça O Pássaro Verde, de Carlo Gozzi, dramaturgo italiano do século XVIII, e As Cabeças Trocadas, em que o escritor Thomas Mann se aproxima da filosofia oriental.

No cinema, assinou também longas como Frida, cinebiografia da artista mexicana Frida Kahlo, que recebeu seis indicações ao Oscar (inclusive para ela, como diretora); e A Tempestade, outra adaptação de Shakespeare, protagonizada por Helen Mirren. Em Across the Universe, construiu uma história de amor baseada em canções dos Beatles, tendo a Guerra do Vietnã como pano de fundo.

“A questão para mim é sempre o conteúdo da história, é querer ou não contar algo, refletir sobre algo. Titus é uma grande dissertação sobre a violência. A Flauta Mágica não tem apenas música excepcional, mas também uma história sobre a batalha entre gêneros. Você precisa lidar com isso, mas sempre lembrando que não precisa ser literal, que a arte não precisa ser realista. Então, acho que o começo para mim é o conteúdo, e depois vem a reflexão sobre a forma, sobre como contar uma história.”

Seu trabalho mais recente, o filme As Vidas de Glória, estreou em 2020 no Festival de Sundance, nos Estados Unidos, e está disponível na Amazon Prime. O filme é baseado na autobiografia My Life on the Road, da jornalista, escritora e pensadora feminista Gloria Steinem. Nele, quatro atrizes – entre elas, Julianne Moore e Bette Midler – interpretam a personagem em diferentes estágios da vida.

Nova montagem de 'O Rei Leão' em São Paulo Foto: Divulgação/T4F

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“O desafio era: como narrar 80 anos de vida em um filme? E me dei conta de que falar de Gloria era me conectar com as experiências de outras mulheres, como minha mãe e minha irmã, e essa ideia de conexão se tornou importante, me permitiu mergulhar em uma linguagem que tem a ver com meu estilo, algo quase surrealista. O filme assim não é sobre Gloria, como Frida é sobre Frida Kahlo, mas sobre as várias Glorias.”

Taymor conta que no momento está interessada em criar novas histórias, em trabalhos originais. “É onde me vejo agora, nesse lugar, mas é difícil, pois as pessoas sempre querem algo que de alguma forma já é conhecido.”

SERVIÇO – O REI LEÃO

  • Teatro Renault
  • Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 411
  • Estreia 20/7
  • Quarta, quinta e sexta, às 20h
  • Sábado e domingo, às 15h e às 20h
  • Ingressos a partir de R$ 160

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Nova montagem de 'O Rei Leão' em São Paulo Foto: Divulgação/T4F
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