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Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Opinião|Falta segurança na matriz elétrica brasileira

Essencial repensar a expansão da nossa matriz e a forma de reconhecer os atributos que cada fonte de energia fornece

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Foto do author Adriano Pires

Em 15 de agosto de 2023, um grande apagão em 25 dos 26 Estados da Federação e no Distrito Federal acendeu um sinal de alerta ao Operador Nacional do Sistema (ONS) em relação às efetivas condições de confiabilidade elétrica da operação do sistema. Desde então, o Operador vem comandando, corretamente, a redução da geração de energia pelas fontes eólicas e solares centralizadas, no intuito de maximizar a confiabilidade da operação e reduzir o risco de novos apagões. Essa redução de geração, também conhecida por curtailment, vem gerando debates acalorados no setor elétrico em função de seus potenciais rebatimentos econômicos sobre as referidas fontes de geração intermitentes.

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Mais precisamente, curtailment é a redução da produção de energia por ordem do ONS, a fim de manter a segurança e estabilidade do sistema elétrico. Essa decisão se dá em casos de restrições nos sistemas de transmissão e distribuição, por confiabilidade e por questões energéticas.

Nos últimos anos, a expansão do setor elétrico teve foco nas fontes renováveis intermitentes (solar e eólica), cuja participação passou de 7.600 megawatt (MW), em 2015, para cerca de 45 mil MW em maio de 2024, um aumento superior a 500%. Ao olhar a geração distribuída, o crescimento é ainda mais expressivo, com essa modalidade, principalmente a fonte solar, alcançando 30 mil MW atualmente.

Esse crescimento exponencial, virtuoso sob a ótica ambiental e também sob o aspecto de diversificação da matriz, foi em grande parte sustentado por subsídios que pesam nas contas de luz dos consumidores brasileiros, em particular nos de renda mais baixa.

Fontes de energia intermitentes respondem pela maior parte do crescimento da geração de energia nos últimos anos Foto: Tiago Queiroz/Estadão

A falta de equilíbrio entre fontes intermitentes e despacháveis na expansão da geração do setor elétrico expõe o sistema a uma maior dificuldade para atendimento aos consumidores nos momentos diários de maior consumo (“ponta de carga”). Como as fontes solares e eólicas geram energia em função exclusivamente das condições climáticas (sol e vento), os consumidores dependem diariamente da grande capacidade que os geradores hidrelétricos e termelétricos possuem para atendimento a períodos diários de crescimento de consumo.

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Entre 18h e 23h, quando a geração solar é nula, e a geração eólica continua dependente das condições de vento, as hidroelétricas e termelétricas permitem o atendimento aos consumidores com segurança, salvando, portanto, o sistema de apagões. Até aqui tem sido desafiador, mas ainda é fisicamente possível atender o consumo máximo diário. Porém, com a continuidade dos subsídios que levam a um desequilíbrio na expansão das fontes solar e eólica, poderá se tornar extremamente oneroso ou mesmo inviável o atendimento ao consumo máximo diário de energia e a operação do sistema por parte do ONS.

Torna-se, portanto, essencial repensar a expansão da nossa matriz elétrica e a forma de reconhecer os atributos que cada uma das fontes de energia fornece para a operação do sistema.

Opinião por Adriano Pires

Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

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