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Cientista político e economista

Opinião|Dois ex-presidentes rebeldes

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Muita coisa vem acontecendo nos Estados Unidos e no Brasil nas últimas semanas. Mas alguém poderia imaginar que Donald Trump acaba de ser indiciado e que Jair Bolsonaro provavelmente terá o mesmo destino? Ao mesmo tempo, os dois países elegeram líderes da oposição, Biden e Lula, comprometidos com os princípios democráticos e tentando aprovar novas leis.

Na verdade, podemos até incluir o Reino Unido, a França e muitos outros países onde estão surgindo problemas de liderança semelhantes, e a tentação de aumentar o poder do executivo muitas vezes leva a uma rejeição pública generalizada. A Ucrânia é um caso em que a guerra e as mortes fazem com que seja improvável que o país progrida para dias mais felizes, pelo menos no curto prazo.

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O declínio do crescimento da população se tornou um grande problema em muitos países onde a proporção de idosos aumenta rapidamente, gerando o declínio da força de trabalho e a necessidade de aposentadorias maiores. E as mudanças climáticas estão criando uma necessidade inesperada de direção central e gastos maiores do que o previsto.

Não vivemos tempos otimistas. A globalização e a especialização estão em declínio. O avanço das classes mais pobres ocorre ciclicamente. Mas, ao mesmo tempo, o mundo se encaminha para avanços científicos profundos e revolucionários. A tecnologia produtiva está à beira de uma mudança radical. A ficção científica se tornou realidade. Aprender a usar as novas tecnologias afetará profundamente as sociedades.

Infelizmente, não tenho nenhum segredo especial a revelar. Quem o tem são as maiores empresas tecnológicas dos Estados Unidos – Amazon, Google, Meta, Microsoft –proeminentes em incitar seu grande público a concentrar seus esforços lá. Inovadores menores estão se multiplicando rapidamente em muitas partes do globo. Como tudo isso influenciará as interações políticas em andamento é uma questão ainda sem resposta.

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Por enquanto, lidar com o crescimento econômico mais lento é a questão central que quase todos os governos enfrentam. A liderança do Banco Central tem conseguido resistir aos esforços para reduzir as taxas de juros. Mas há uma tentação política de estimular o investimento doméstico. A Turquia e a Argentina intervieram, com a consequente aceleração da inflação. Lula espera que a mudança de cargos no Banco permita um processo de redução da Selic sem o mesmo resultado. Alguns temem que a decisão chegue cedo demais.

A taxa esperada de crescimento do Brasil para este ano aumentou muito nos últimos meses. Agora está perto de 2%. O que resta é o déficit orçamentário. Um número negativo para o déficit primário em 2023 deve persistir. A última estimativa era de 1,3% do produto interno bruto. O governo agora vê um número positivo para 2024. Outros divergem e projetam um déficit maior. A essa altura, a questão deve ser se a produção e os preços do setor não industrial manterão seus valores de 2023. Ou vencerá a preferência de Lula pela expansão industrial e pelos subsídios?

Alguém poderia imaginar que Donald Trump acaba de ser indiciado e que Jair Bolsonaro provavelmente terá o mesmo destino? Foto: Alan Santos/PR - 24/9/2019

Até lá, teremos eleição presidencial nos Estados Unidos. Trump vai concorrer mais uma vez, independentemente do resultado dos julgamentos em curso. No momento, as pesquisas mostram uma disputa acirrada contra Biden. A incerteza continuará a prevalecer.

Talvez tanto Trump quanto Bolsonaro possam ser retirados de cena pelo rápido desenvolvimento da Inteligência Artificial. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Opinião por Albert Fishlow

Economista e cientista político, professor emérito nas universidades de Columbia e da Califórnia em Berkeley

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