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Alckmin faz dobradinha com Haddad para ajudar governo Lula na articulação pela reforma tributária

Negociações são para segunda etapa da reforma, mas há no governo quem defenda a entrada do vice-presidente também na articulação para aproximar o Planalto do agronegócio e dos evangélicos

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Por Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – O vice-presidente Geraldo Alckmin tem feito dobradinha com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para obter apoio à segunda etapa da reforma tributária. Alckmin sempre definiu o sistema de impostos como um “manicômio” e, longe dos holofotes, ajudou a conquistar votos na primeira rodada da votação. Agora, voltou a conversar com empresários, governadores e parlamentares.

Convidado para um seminário sobre reforma tributária na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), nesta segunda-feira, 29, o vice-presidente citou até mesmo uma iguaria mineira como exemplo do caos existente na cobrança de impostos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente Geraldo Alckmin: amizade desde 2013 e dobradinha no primeiro escalão. Foto: Daniel Teixeira/Estadão e Cadu Gomes/VPR

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“O pão de queijo era tributado como massa alimentícia: 7%. Depois, passou para produto de padaria e o ICMS foi para 12%. Em Minas Gerais, ele está na cesta básica, com 0%. Imaginem, então, os produtos de maior complexidade”, observou o vice, que é ex-governador de São Paulo.

As comparações não pararam aí. “Nós estamos lotados de impostos invisíveis: gravata, camisa, sapato, relógio, microfone, é tudo imposto invisível. Os EUA têm menos de 25% de tributo sobre o consumo. Nós temos quase 50%”, completou ele.

Ao Estadão, Alckmin afirmou que o desafio do governo, atualmente, é melhorar a produtividade. “A reforma tributária também ajuda muito nisso”, insistiu.

Na segunda-feira, 22, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Alckmin precisava ser “mais ágil” e “conversar mais” para auxiliar na articulação do Palácio do Planalto com o Congresso. No mesmo dia, cobrou de Haddad que perdesse “algumas horas” no Senado e na Câmara, em vez de “ler um livro”.

Com a polêmica na praça, Lula ficou irritado. “Não é possível uma coisa dessas”, reagiu o presidente a portas fechadas, segundo relatos de auxiliares, ao saber da repercussão de suas declarações. No café da manhã de jornalistas com Lula, na terça-feira, 23, o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, disse que aqueles comentários não passavam de brincadeira.

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Alckmin, por sua vez, postou no Instagram uma montagem na qual aparecia no corpo do Papa-Léguas, personagem do desenho animado conhecido por ganhar todas as corridas.

O vice-presidente Geraldo Alckmin publica montagem nas redes sociais para se referir às articulações com o Congresso: "Pé na tábua". Foto: @geraldoalckmin via X

“Ele tem toda razão de cobrar de seu governo empenho para acelerar as negociações com o Congresso”, escreveu o vice, numa referência a Lula. “Tenho dialogado todos os dias com parlamentares que estão nos ajudando a negociar a aprovação de projetos estruturantes. Somente este ano foram 52 reuniões, com 75 parlamentares.”

Vice atende até aos domingos no Ministério

Dono de estilo discreto, Alckmin atende até mesmo aos domingos pela manhã no gabinete do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que ele também comanda. Atualmente, por exemplo, tem procurado dirimir dúvidas sobre pontos da regulamentação da reforma tributária. São dois projetos de lei complementar: o primeiro, com 360 páginas e 499 artigos, trata do consumo e foi entregue por Haddad ao Congresso na quarta-feira (24); o outro será encaminhado nos próximos dias.

Apesar de mais de um ano de discussões, ainda não há consenso entre governadores e prefeitos. Expoente do Centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer votar as propostas antes do recesso parlamentar de julho. Não é uma tarefa fácil.

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Integrantes do governo avaliam que Alckmin também pode ajudar a aproximar Lula do agronegócio e de segmentos religiosos, principalmente dos evangélicos, que mostram muita resistência ao petista.

Neste domingo, 28, o vice participou da abertura da 29.ª edição da Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), ao lado do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Fez um aceno ao setor quando destacou que as prioridades do Executivo para o agro, neste ano, são o crédito, o seguro-produção e a armazenagem.

Na campanha de 2022, Alckmin também tentou construir essa “ponte”, a pedido do então candidato do PT. Um interlocutor de Lula disse ao Estadão, porém, que Alckmin “sempre anda um passo atrás” do presidente e, portanto, só assumirá tal função se for chamado.

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Mesmo assim, o vice não pretende entrar no varejo político das conversas com parlamentares que pedem cargos e liberação de emendas. Até agora, sua maior parceria no governo é mesmo com Haddad.

A amizade entre os dois começou em 2013. À época, Alckmin era governador de São Paulo e Haddad, prefeito da capital. Depois de uma série de protestos nas ruas e sob pressão da então presidente Dilma Rousseff, o prefeito foi obrigado a voltar atrás no aumento de R$ 0,20 nas tarifas de ônibus.

A difícil negociação envolveu Alckmin, que, ao ver o problema se avolumar, disse para Haddad: “Eu estou com você em qualquer circunstância, mesmo se for para recuar”. O retorno do valor da tarifa de transportes (ônibus, metrô e trem) para o patamar de R$ 3 foi anunciado pelos dois juntos, em junho de 2013, no Palácio dos Bandeirantes.

Pouco mais de oito anos depois, em meados de 2021, Haddad aproximou Alckmin de Lula. Foi dele a ideia do que parecia impossível: unir dois adversários históricos, fazendo do então tucano – hoje no PSB – vice na chapa do petista.

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