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Opinião|Decisão da Moody’s mostra que PT e Lula não têm do que reclamar da política econômica

Agência enxerga cenário de estabilização da dívida, mas alerta que ajuste apenas pelo lado da receita aumenta o risco fiscal

Foto do author Alvaro Gribel

A economia brasileira está em boas mãos sob o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. É isso que fica claro após a leitura da decisão da Moody’s de melhorar a perspectiva do rating soberano do governo brasileiro. Vale ressaltar que a decisão não é uma melhora da nota em si, mas uma indicação de que isso pode acontecer nos próximos meses.

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Ainda que com percalços, Haddad tem conseguido aprovar medidas de arrecadação que reduzem o gasto tributário, e as projeções da agência indicam que o déficit primário vai cair ao longo dos anos, com uma possível estabilização da dívida. Já Campos Neto e o Banco Central navegam sob as incertezas da política monetária internacional - e desviando das críticas internas - com a Selic em queda e a inflação dentro da margem de tolerância da meta.

Dois pontos merecem ser ressaltados no texto que acompanhou a decisão. Primeiro, o crescimento do PIB foi fator decisivo para essa melhora, e isso está diretamente relacionado às reformas aprovadas pelo País desde 2016, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A agência também exalta as instituições do País, que reduzem a incerteza sob a condução de políticas públicas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante reunião do G20, em Brasília, em novembro de 2023.  Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino

“A Moody’s avalia que as perspectivas para o crescimento real do produto interno bruto (PIB) do Brasil são mais robustas do que nos anos pré-pandêmicos, como consequência da implementação de reformas estruturais em vários governos, bem como pela presença de barreiras institucionais que reduzem a incerteza sobre a direção futura das políticas públicas”, diz a agência.

Na área fiscal, a agência tem uma visão positiva, com aposta na redução do déficit e um cenário em que enxerga a estabilização da dívida.

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“A Moody’s prevê uma queda dos déficits fiscais primário e nominal do Brasil em 2024-2025, como resultado de medidas relacionadas à arrecadação fiscal. A menos que um choque de crescimento prejudique o desempenho fiscal e/ou um choque econômico ou financeiro aumente significativamente o custo da dívida, o endividamento do governo brasileiro pode se estabilizar em alguns anos”, diz.

Em um recado ao governo e à equipe econômica, a agência alerta que acelerar o ajuste fiscal fará o País melhorar de nota mais rapidamente. Isso é o contrário do que foi anunciado pela Fazenda e o Planejamento no mês passado, que mudaram as metas dos próximos anos e indicaram que o ajuste será mais lento.

Outro ponto que merece destaque é a aposta de que a transição energética promovida pelo governo Lula adiciona potencial de crescimento para o PIB brasileiro, hoje em 2% pelas projeções da agência. Esse dado é importante porque a vitória de Lula sob Bolsonaro evitou que o País seguisse pelo caminho do negacionismo climático, que imperava na administração anterior.

Como escrevi na minha coluna da última semana, há vários bons indicadores no campo econômico. Lula e o PT não têm do que reclamar, nem de Haddad, nem de Campos Neto. O que o presidente e o partido deveriam fazer, na verdade, é deixar de atrapalhar o País com ideias que tantas vezes já deram errado na economia.

Opinião por Alvaro Gribel

Repórter especial de Economia em Brasília

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