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Opinião|Com tiros no próprio pé, governo Lula tropeça na economia mesmo com indicadores positivos

Apesar de cenário favorável, parte da agenda do governo é a de criar ruídos e resgatar ideias sem sentido

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Foto do author Alvaro Gribel

Há dez semanas seguidas o mercado financeiro melhora as projeções para o PIB, e a taxa de extrema pobreza caiu ao menor nível da série. A inflação está abaixo de 4%, e o Banco Central está em processo de cortes dos juros, mesmo com o cenário externo mais nebuloso e as enormes incertezas no campo fiscal.

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No mercado de trabalho, a população ocupada bateu recorde, com mais de 100 milhões de vagas ocupadas, e o número de desempregados recuou 7,5% em 12 meses até fevereiro. Com esses – entre outros – dados positivos, o governo Lula cria problemas sem sentido na área e gera ruídos que só atrapalham a economia.

Somente este ano, o governo tentou interferir na presidência da Vale, derrubar o presidente da Petrobras, e, em uma enorme trapalhada, vetou a distribuição dos dividendos extraordinários da petrolífera, para depois liberar os recursos como se nada tivesse acontecido. O resultado é que o País colheu volatilidade e perda de reputação da sua maior empresa.

Somente este ano, o governo tentou interferir na presidência da Vale, derrubar o presidente da Petrobras, e, em uma enorme trapalhada, vetou a distribuição dos dividendos extraordinários da petrolífera. Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

Na política monetária, o Banco Central está sempre na mira porque os juros reais, de fato, estão altos. Mas, por ora, o cenário mais provável é o do chamado “pouso suave”, quando a inflação recua, com aumento da atividade econômica. Este mês, o Itaú Unibanco revisou para cima a sua projeção para o PIB, de 2% para 2,3%, exatamente o mesmo número da Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda.

A restrição do crédito não tem sido um impeditivo para o consumo, em parte porque o governo ampliou políticas sociais, que aumentaram a renda disponível das famílias, e houve o pagamento de R$ 45 bilhões em precatórios alimentícios, que deram impulso às vendas do varejo.

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Tudo isso leva o BC a ter cautela, para evitar uma explosão de estímulos. Do contrário, o país terá repiques na inflação e viverá novamente um voo de galinha.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quase nunca erra quando bem informado. O problema é que na Presidência ele parece mal assessorado. Esta semana mesmo, o ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta, demonstrou não entender o próprio ofício, quando convidou jornalistas para um café da manhã no Planalto e aproveitou para criticar a imprensa.

Na Casa Civil, o ministro Rui Costa tem dificuldade de passar confiança sobre a sua convicção fiscal, apesar do bom trabalho que realizou no governo da Bahia, estado que hoje tem nota A no índice de capacidade de Pagamentos (Capag).

Com tiros no próprio pé, o governo tende a tropeçar na economia.

Opinião por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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