O governo revogou a resolução da Receita Federal que envolvia o Pix, mas a onda de fake news sobre o tema que chegou às ruas do País deixa um alerta importante sobre o que vem pela frente no debate econômico brasileiro: aprovar reformas e medidas impopulares – como as que serão necessárias para reequilibrar as contas públicas – será muito mais custoso em um ambiente político polarizado e sob forte influência das redes sociais.
O crescimento vertiginoso das notícias falsas sobre economia tem as digitais do bolsonarismo, que domina como ninguém a tecnologia de disseminar inverdades nas redes; mas certamente essa expertise será adotada pelos petistas quando chegar o momento da alternância de poder que sempre ocorre nas democracias.

Um estudo elaborado pelo analista do Banco Central Breno Lima Moreira, mestre em Comunicação pela UnB e doutorando pela Universidad Complutense de Madri, mostra que as fake news sobre temas econômicos saltaram de 1,1% do total em 2019, para 9,9% em 2023.
“Verificamos que o espaço ocupado pelo tema Economia entre os relatos de desinformação se manteve estável e em patamar muito baixo nos primeiros três anos da amostra: 1,1% em 2019; 0,9% em 2020; e 0,7% em 2021 (porcentual em relação ao total de relatos apurados por uma agência de checagem). Em 2022, houve um aumento para 3,6% e, em 2023, houve aumento significativo para 9,9%”, diz o estudo.
O grande salto coincide com a ida do bolsonarismo para a oposição e teve a inflação como principal alvo de desinformação, segundo esse levantamento. Os dados coincidem com a notícia dada pelo Estadão de que os vídeos de opositores com fake news sobre o Pix, entre eles da bancada do PL, repercutiu 20 vezes mais do que as explicações dadas por parlamentares petistas.
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A verdade é que o Pix não pode ser tributado, porque a Constituição Federal não prevê a incidência de imposto sobre movimentação financeira, em seu artigo 153, e veda a criação de impostos, ainda que por lei complementar, que sejam cumulativos, em seu artigo 154. Seria preciso, portanto, a votação de uma PEC para instituir a cobrança sobre o PIX.
Outra alternativa seria o governo adotar uma nova interpretação para o IOF, o que poderia levar à judicialização, porque as movimentação do PIX não configuram operações de crédito e seguro, como determina a lei que instituiu o imposto.
Durante a tramitação do pacote de cortes de gastos, em dezembro, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) também foi alvo de fake news, com a repercussão disseminada de que o governo queria acabar com o programa, quando na verdade o objetivo era conter a indústria de concessões pela via judicial. O resultado é que a proposta foi esvaziada no Congresso e depois ainda teve trecho vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No curto prazo, a vida do ministro Fernando Haddad ficará mais difícil para conseguir convencer Lula a cortar gastos. No longo, perderemos todos com a precarização do debate na economia e a vitória da desinformação nas redes sobre a comunicação e o jornalismo tradicionais.