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Argentina volta ao mercado após 15 anos

País emite US$ 16,5 bi em bônus para pagar ‘abutres’, credores que haviam bloqueado acesso do país ao crédito ao cobrar dívida na íntegra

Por Rodrigo Cavalheiro
Atualização:
Governo de Macri fechou um acordo para pagar o equivalente a US$ 4,6 bilhões aos fundos mais resistentes Foto: AP Photo/Victor R. Caivano

BUENOS AIRES - A Argentina voltou ao mercado após 15 anos nesta terça-feira, com a venda de US$ 16,5 bilhões em bônus a uma taxa média de juros de 7,14%. O anúncio foi feito pelo ministro da Fazenda, Alfonso Prat-Gay, que ressaltou a procura pelos papéis.

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“Poderíamos ter emitido o dobro em valor, sem que houvesse impacto na taxa de juros. Mas não o fizemos porque achamos que ela continuará baixando”, afirmou o ministro, em uma entrevista coletiva em que repetidamente criticou a administração kirchnerista. “Antes, só quem nos emprestava era (Hugo) Chávez”, provocou o economista, que chegou a comandar o Banco Central por dois anos, nas presidências de Eduardo Duhalde e Néstor Kirchner.

O dinheiro será usado para pagar nos próximos dias os fundos apelidados por Cristina Kirchner de “abutres”. Trata-se de 7% de credores que não aceitaram as renegociações de 2005 e 2010 e exigiam o pagamento integral. Em 2014, eles conseguiram na Justiça americana bloquear a quitação aos demais credores, o que colocou o país em “default técnico”.

O governo de Macri fechou um acordo para pagar o equivalente a US$ 4,6 bilhões aos fundos mais resistentes, entre os quais o principal é o Elliott, comandado pelo bilionário Paul Singer.

Para quitar toda sua dívida com esses credores, estima-se que o país precise de US$ 12,5 bilhões. O excedente será incorporado ao endividamento autorizado no orçamento de 2016. O prazo inicial era quinta-feira passada, mas houve uma prorrogação. “Dadas as condições, foi um bom negócio. O melhor teria sido não chegarmos a esse ponto, ter começado a negociar muito”, disse ao Estado o economista Eric Ritondale, da consultoria EconViews, referindo-se aos juros, que compõem a maior parte da dívida inicial de US$ 2,9 bilhões.

O governo está pressionado por uma alta na inflação desde que assumiu o poder, em dezembro. Nos últimos 12 meses, os preços aumentaram 35,5%, segundo uma média feita por consultorias – o governo promete um dado oficial até metade do ano.

A equipe econômica é cobrada também por ter cortado simultaneamente os subsídios que em 2015 consumiram 4,8% do PIB. Água, luz, gás e transporte tiveram reajustes de 100% a 700%. “Sem acesso ao crédito, teríamos de ter feito um ajuste fiscal sem gradualismo”, defendeu-se o ministro. Segundo ele, o crédito servirá para financiar projetos de infraestrutura e tirar “com mais emprego e menos inflação” 12 milhões da pobreza.

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Foram oferecidas quatro faixas com retorno de até 8%. Do total, US$ 2,75 bilhões são de títulos de 3 anos (juro de 6,25%), US$ 4,5 bilhões são de 5 anos (6,875%), US$ 6,5 bilhões são de 10 anos ( 7,5%) e US$ 2,75 bilhões de 30 anos (8%).

Os pedidos de compra chegaram a US$ 69 bilhões, o que Prat-Gay considerou “a maior demanda na história por bônus de um país emergente”.

Em uma outra referência ao kirchnerismo e aos abutres, Macri participou ontem da volta à ativa da Fragata Libertad. Em 2012, ela ficou retida em Gana como garantia a pedido dos holdouts. A apreensão por 2 meses da embarcação-escola tornou a disputa sobre a dívida argentina popular fora do ambiente econômico.

“Podem zarpar tranquilos, que isso não voltará a ocorrer”, disse Macri em um dos canais do porto de Buenos Aires. A fragata partirá no sábado para a primeira viagem de instrução fora do continente desde 2013.