Começa a aumentar o número de empresas do setor automobilístico que querem negociar com os sindicatos de trabalhadores a suspensão temporária de contratos de trabalho e redução de salários, conforme prevê a MP 936, que tem como um dos objetivos a manutenção de empregos em razão da crise causada pelo coronavírus.
Hoje, a Toyota propôs aos funcionários das quatro fábricas do grupo em São Paulo (São Bernardo do Campo, Indaiatuba, Sorocaba e Porto Feliz) a suspensão dos contratos por dois meses, a partir do dia 22, quando terminam as férias coletivas. Os salários serão reduzidos entre 5% e 20%, dependendo da faixa salarial.
Para quem ganha até R$ 3.115 não haverá alteração, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O maior porcentual de corte vai recair sobre os salários acima de R$ 25 mil. Amanhã, dia 10, os trabalhadores vão votar se aceitam ou não a proposta por meio eletrônico.
A Mercedes-Benz também vai iniciar negociações com os sindicatos do ABC, de Juiz de Fora (MG) e Iracemápolis (SP) nos próximos dias, assim como a Volkswagen e Scania. Na quarta-feira, o presidente da Volkswagen, Pablo Di Si, se reuniu com dirigentes de todos os sindicatos onde o grupo tem fábricas para expor a situação da empresa nessa crise.
No ABC, duas empresas de autopeças, Delga e Kostal, quem empregam juntas cerca de 700 pessoas, também estão com propostas nessa linha. A General Motors foi a primeira montadora a fechar acordo com seus funcionários, que também terão os salários reduzidos de 5% a 20% inicialmente por período de dois meses.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, afirmou que, neste momento, é importante manter o isolamento dos trabalhadores para evitar a contaminação pelo coronavírus e defendeu as medidas de flexibilização.
“São propostas que normalmente não aceitaríamos, mas é preciso compreensão de todos os lados para garantir que vamos vencer essa crise”, disse. “Todos precisam abrir mão de seus dogmas para criar condições para que o trabalhador fique em casa.”
O sindicalista informou ainda que há um movimento no meio sindical para reivindicar que a parte a ser paga pelo governo aos trabalhadores no Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda seja equivalente ao valor integral do salário desemprego, de R$ 1.813. A MP prevê o pagamento de 70% do valor a que o trabalhador tem direito.
Sem acordo
Já em São José dos Pinhais (PR), o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba – que representa os trabalhadores das quatro fábricas do complexo industrial da Renault –, informou a empresa que “em consulta durante plenária, foi reprovada a possibilidade de colocar em ampla votação as medidas de flexibilidade”.
Segundo o Sindicato, a recusa foi porque a entidade quer primeiro encerrar as negociações em andamento do dissídio coletivo da categoria para depois avaliar a proposta de suspensão de contratos.
Em razão da negativa, a Renault – que afirma ter proposto condições superiores às estabelecidas pela MP – decidiu prorrogar até 3 de maio as férias coletivas de todos os funcionários. Antes, o retorno estava previsto para 14 de abril.