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Azul dispara na Bolsa após anúncio de acordo com arrendadores de aviões

Empresa anunciou prejuízo de R$ 2,7 bilhões em 2022, mas mercado considera que operação da companhia é positiva

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Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

As ações da Azul subiram 38% nesta segunda-feira, 6, e fecharam a R$ 9,99, após a empresa ter comunicado, na noite de domingo, que fechou acordo de renegociação de 90% de sua dívida com arrendadores de aviões. Com a alta, a empresa ganhou quase R$ 1 bilhão em valor de mercado em um dia. Conforme o Estadão havia antecipado, a empresa vinha conversando com os arrendadores para reduzir o valor do aluguel que será pago pelas aeronaves nos próximos anos.

Durante a pandemia, a empresa postergou o pagamento de R$ 600 milhões referentes ao aluguel de aeronaves. Com a desvalorização do real e a alta do preço do combustível, a companhia não vinha conseguindo gerar caixa para quitar essa dívida e ainda manter o pagamento anual de R$ 3,2 bilhões aos arrendadores pela locação dos aviões. Na renegociação fechada agora, entraram não apenas valores referentes à dívida passada e à de 2023, mas também aluguéis dos próximos anos, num total de R$ 14 bilhões.

Azul anunciou acordo com empresas que representam mais de 90% do seu passivo de arrendamento Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil  

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Dos R$ 600 milhões do débito acumulado na pandemia, 60% serão transformados em ações da empresa e 40% em títulos de dívida que vencerão em 2030. De acordo com o vice-presidente financeiro da Azul, Alex Malfitani, a Azul estava pagando pelas aeronaves um valor acima do fixado em novos contratos fechados por suas concorrentes com as donas de aviões. A diferença do valor que vinha sendo cobrado da Azul em relação ao das concorrentes também seguirá a lógica dos R$ 600 milhões. Ou seja, se hipoteticamente a Azul pagasse R$ 100 pelo aluguel de um avião e o preço atual de mercado dessa locação fosse R$ 80, R$ 12 da diferença seriam pagos em ações e R$ 8, em títulos.

Os valores exatos da transação devem ser anunciados após a Azul fechar a negociação com 100% dos arrendadores, o que deve ocorrer em três semanas, segundo o presidente da empresa, John Rodgerson. Por ora, o executivo afirmou que o acordo permitirá que a empresa tenha equilíbrio financeiro em 2023 e gere caixa em 2024. Antes, a estimativa era que faltassem R$ 3 bilhões no caixa da companhia neste ano.

Além da renegociação da dívida, o resultado da empresa em 2022 - apesar de ser um prejuízo - também animou os investidores nesta segunda-feira. A interpretação do mercado é que a Azul está com uma performance operacional positiva.

A companhia registrou prejuízo de R$ 2,7 bilhões no ano passado, uma redução de 22,9% nas perdas na comparação com 2021. No último trimestre de 2022, o prejuízo ajustado foi de R$ 610,5 milhões. As receitas da empresa, por outro lado, chegaram a R$ 15,9 bilhões em 2022, um aumento de 59,9%.

Na avaliação da BB Investimentos, esses resultados são positivos. “A demanda permanece aquecida e sustenta níveis recordes na receita total de R$ 4,4 bilhões no trimestre e R$ 15,9 bilhões em 2022, alta de 19,4% a/a e 59,9% a/a respectivamente”, escreveu o analista Renato Hallgren. Considerando a reestruturação de passivos e o recuperação operacional da Azul, a BB Investimentos mudou sua recomendação para a ação da aérea de “neutra” para “compra”.

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O Citi classificou os resultados reportados pela Azul como “encorajadores”, mencionando o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) acima das suas expectativas e 7% superior ao resultado do mesmo trimestre em 2021.

Os analistas Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Luiz Capistrano, do Itaú BBA, afirmaram que os resultados vieram em linha com as expectativas do mercado, “reforçando a tendência positiva em termos de tráfego e yield (valores pagos pelo passageiro para voar um quilômetro)”. Eles escreveram ainda que o anúncio da reestruturação da dívida deve “aliviar a saída de caixa relacionada às aeronaves arrendadas, uma das principais preocupações para o curto prazo”, mas ponderaram que faltavam detalhes da transação para avaliar possíveis desvantagens do acordo./ Colaboraram JÚLIA PESTANA e CAROLINE ARAGAKI

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