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Bancos competem para devolver ajuda primeiro

Por Louise Story e Eric Dash
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Tudo começou em 13 de outubro, em meio ao pânico, com um ultimato de Washington. Agora, os maiores bancos do país estão vendo uma oportunidade de encerrar a era dos planos de resgate financeiro. Depois de tantas más notícias, isso pode parecer quase impossível. Mas, tendo reconquistado uma base financeira, e também um pouco da velha arrogância, os grandes bancos estão com pressa de devolver os bilhões de dólares para os contribuintes. Muitos insistem que o farão isso até o fim do ano. Em Washington ou em Wall Street, são poucos os que acreditam numa recuperação tão rápida. Para muitos, os bancos dependeriam do governo por anos e ainda precisariam de ajuda para resolver problemas com hipotecas de alto risco e outros ativos que levaram à crise financeira. Mas, agora que as grandes instituições bancárias parecem ter se estabilizado, as autoridades tentam determinar como e quando elas poderão devolver a ajuda recebida - e se essa medida poderá deixá-las vulneráveis a outra crise no caso de a economia piorar. De acordo com executivos dos bancos e uma autoridade do governo federal, duas semanas depois dos resultados dos testes de estresse, vários bancos, entre eles o Bank of New York Mellon, Goldman Sachs, JP Morgan, Chase, Morgan Stanley, State Street e US Bancorp, iniciaram discussões formais com os reguladores para devolver sua parte do empréstimo de US$700 bilhões. Na terça-feira surgiram novos detalhes, como rumores de que as autoridades não permitiriam que um grande banco fosse o primeiro a se retirar do programa sozinho, para evitar que use o fato para se exibir. De outro lado, em oito de junho o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) espera identificar um grupo pronto para se retirar do programa, segundo um funcionário. Ao Departamento do Tesouro cabe decidir sobre o momento oportuno. Muitos americanos, irritados com os multibilionários planos de ajuda, salários e bônus pagos pelo setor financeiro, poderão receber bem a notícia da devolução antes do esperado. Mas isso comporta riscos. Embora, no momento, muitos grandes bancos conseguiram estancar as perdas astronômicas, o setor ainda enfrenta desafios enormes. Novos problemas estão à vista no setor imobiliário comercial e de cartões de crédito. Ao permitir que os bancos restituam sua parte no empréstimo, o governo renunciará a um certo poder sobre as instituições que estavam no centro da crise financeira. Os bancos, por outro lado, estão ansiosos para se libertar da vigilância intensificada do governo, incluindo as restrições às bonificações pagas aos executivos. "Se um determinado banco devolver o dinheiro e em outubro precisar novamente, isso vai ser assustador", disse Douglas J. Elliott, membro da Brookings Institution e ex-diretor no JP Morgan Chase. Para alguns observadores, os bancos podem estar pressionando o governo para autorizar os reembolsos. "Há uma tensão pública maior entre eles", disse Andrew Goldberg, chairman da área de treinamento financeiro e corporativo da Burson-Marsteller. "É um diálogo entre duas jurisdições diferentes que operam com perspectivas diferentes - bancos e governo - e se cruzam na zona que chamamos Tarp". Essa tensão reflete também as velhas rivalidades de Wall Street. O Goldman Sachs, por exemplo, há muito tempo é visto como o banco que, provavelmente, será o primeiro a devolver o dinheiro. Mas os concorrentes dizem que uma decisão nesse sentido pode ser vista como favoritismo, diante dos elos do Goldman com importantes autoridades federais, como o chefe do Federal Reserve Bank de Nova York, William C. Dudley, que já trabalhou no banco. Enquanto vários bancos de menor porte devolveram sua parte, nenhum grande banco retornou o empréstimo. Até agora, o Citigroup é o único que fez do governo um acionista a longo prazo. Ao decidir quais bancos poderão devolver o dinheiro, o governo vai traçar, potencialmente, uma linha entre vitoriosos e fracassados. Um ponto de desacordo é se os bancos que fizerem a restituição poderiam continuar usando o programa do governo que garante suas dívidas. Alguns talvez não consigam operar sem isso. As autoridades disseram recentemente que, antes de as empresas terem permissão para devolver o dinheiro, precisam provar que têm capacidade de emitir dívida sem necessidade do programa. De acordo com uma fonte, a ideia é deixar que os bancos usem o programa de garantia de dívidas até outubro. Um outro problema é o investimento dos contribuintes nos bancos. O governo tem garantias que lhe dão o direito de comprar ações dos bancos, e tem que decidir como será feito pagamento para eles terem essas garantias de volta. Bancos mais fortes como o Goldman defendem um preço alto, e os com menos caixa querem cancelar as garantias pagando um preço menor. Fortes ou fracos, muitos grandes bancos querem restituir o dinheiro antes do fim do ano, de maneira a pagar bonificações para seus executivos tão logo possam. *Os autores são jornalistas

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