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Bastidor: reunião com empresários sela volta de diálogo entre Pacheco e Lira por pauta econômica

Fernando Haddad sai fortalecido perante empresariado como articulador do governo Lula, após tropeços do governo

Foto do author Adriana Fernandes
Foto do author Mariana Carneiro
Por Adriana Fernandes e Mariana Carneiro
Atualização:

BRASÍLIA – A reunião na residência oficial do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), nesta terça-feira, 23, teve a presença de 14 representantes do setor produtivo e selou a volta do diálogo da cúpula do Legislativo pela tramitação da agenda econômica no Congresso.

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Rompidos desde a divergência sobre como devem ser apreciadas as medidas provisórias (MPs), Lira e Pacheco apareceram juntos e, em discurso homogêneo, defenderam a aprovação do novo arcabouço fiscal, da reforma tributária e o não retrocesso em temas que são considerados pelo setor privado como marcos de avanço institucional, como a Lei do Saneamento e a privatização da Eletrobras.

Idealizada pelo deputado Elmar Nascimento (União-BA), a reunião saiu do papel com a ajuda do ex-ministro e hoje diretor de Relações Institucionais do BTG Fábio Faria, que recebeu a tarefa de convocar “o PIB” para o encontro político.

Da esquerda para a direita: deputado Claudio Cajado (PP-BA), relator do arcabouço fiscal na Câmara; deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), relator do grupo de trabalho da reforma tributária na Câmara; deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara; e Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Entre os presentes estavam empresários identificados com Lula, como Rubens Ometto (Cosan), Walfrido dos Mares Guia e Josué Gomes (Fiesp), e outros que estiveram mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro no passado, como Flávio Rocha (Riachuelo) e Rubens Menin (MRV, CNN). O grupo se completou com André Esteves (BTG), Carlos Sanchez (EMS), Lucas Kallas (Cedro), João Camargo (Esfera), Ricardo Faria (Granja Faria), Benjamin Steinbruch (CSN), Isaac Sidney (Febraban) e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, que hoje preside a Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF).

A reunião de Pacheco e Lira na mesma cena, possivelmente a poucas horas da votação do novo marco fiscal, deixou os presentes confiantes de que a agenda econômica tem chances de avançar no Congresso, apesar dos tropeços de Lula na formação de uma base de apoiadores no Legislativo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e seu indicado para a diretoria do Banco Central Gabriel Galípolo foram os únicos representantes do Executivo. Do governo, também participou Roberto Campos Neto, que tem sido alvo de críticas de Lula e de membros do governo pela alta taxa de juros praticada no País.

Segundo os presentes, tanto Lira quanto Pacheco fizeram reiteradas falas enfatizando a participação de Haddad na articulação política dos temas econômicos, o que levou a um dos presentes a descrever a iniciativa como uma “legitimação” do ministro como ponto central de diálogo com o governo. Ambos demonstraram compromisso em aprovar o marco fiscal.

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Além dos dois, Elmar e os relatores do arcabouço fiscal, Cláudio Cajado (PP-BA), e da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), participaram da reunião. Nenhum integrante do time político de Lula foi chamado.

Todos os presentes fizeram observações e alguns deles reiteraram o desejo de que não haja revisões do passado, a exemplo do marco do saneamento, no que houve concordância dos políticos na sala. Um deles chegou a dizer que já avisou a emissários do governo de que há pouca chance de o revisionismo prosperar no atual Congresso.

Um projeto de lei para sustar os decretos de Lula sobre o saneamento foi aprovado na Câmara e, no Senado, o governo negocia revogar os atuais decretos e editar novos textos, com a concordância de parlamentares.

No caso do arcabouço fiscal, deputados evitaram antecipar o que haveria de mudanças no texto na reta final da votação. Aos presentes, ficou a impressão de que seriam ajustes finos e na direção de fechar o espaço para gastos adicionais do governo em 2024 e 2025.

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Para o presidente do conselho da Esfera Brasil, grupo empresarial que reúne 51 empresas, João Camargo, a reunião provocou um otimismo da classe produtiva porque reuniu na mesma mesa Lira e Pacheco, além de Haddad, Roberto Campos Neto e lideranças políticas, ao lado de empresários de “altíssimo calibre”. “Todos sentados um ao lado do outro e o Lira indo na casa do Pacheco”, enfatizou.

Segundo ele, Lira e Pacheco estão muito comprometidos com a aprovação do novo arcabouço fiscal e a proposta de reforma tributária. “É uma pauta do País e não do PT”, afirmou.

Na reunião, Lira traçou três cenários para a aprovação da reforma tributária: reforma mais forte com prazo de transição longo, reforma moderado com transição mais curta e a reforma “possível”. Em eventos recentes, o presidente da Câmara tem justamente reforçado o terceiro cenário. Ele quer colocar em votação a proposta ainda no primeiro semestre.

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Apesar da sinalização positiva do encontro, houve muitas críticas à articulação política do governo e os juros altos. A única ressalva foi justamente a do ministro Haddad, que teve a sua atuação na articulação política apontada com uma “surpresa positiva”. Houve, porém, críticas dos empresários à Medida Provisória que aperta a tributação de ativos detidos no exterior, que ficou conhecida com a “MP das offshore”, proposta feira pela equipe do ministro da Fazenda.

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