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Eventual governo Lula precisa unir todas as forças políticas que não se alinham a Bolsonaro

Desafio imediato é a governabilidade em um cenário desafiador; reconsolidada a democracia, poderemos voltar a discutir se queremos uma gestão econômica mais à esquerda ou à direita

colunista convidado
Foto do author Bernard Appy
Por Bernard Appy

O desafio imediato, no próximo domingo, é evitar a reeleição de Jair Bolsonaro. Falo aqui como cidadão preocupado com o futuro da democracia em nosso país, e com a trajetória de crescente intolerância e agressividade que caracteriza este governo. Por isso votarei em Lula da Silva.

Mas, como economista, sei que um eventual governo Lula não será fácil. De um lado, o ambiente internacional será desafiador, por conta da desaceleração do crescimento econômico mundial, da alta dos juros nos países desenvolvidos e do acirramento da tensão geopolítica. É um cenário em que erros na condução da política econômica podem custar muito – inclusive em países desenvolvidos, como vem mostrando o Reino Unido.

Lula na reta final da campanha Foto: Fabio Motta/Estadão

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De outro lado, o atual governo está deixando de herança uma “bomba” fiscal que dificultará a gestão da política econômica no próximo mandato. O custo anualizado das medidas de elevação de despesas e redução de receitas tomadas desde o fim de 2021 chega a cerca de R$ 400 bilhões (4% do PIB). Esse desequilíbrio fiscal – temporariamente compensado pela arrecadação inflada pelos altos preços do petróleo – certamente aparecerá nos próximos anos.

Por fim, não será fácil governar com um Congresso em que se aumentou a participação do Centrão e de parlamentares ideologicamente alinhados a Bolsonaro.

Partindo desse cenário, o desafio para o próximo governo é enorme. É preciso compatibilizar a entrega para a população de melhores programas sociais com a sustentabilidade fiscal e a aprovação de reformas que ampliem o crescimento do País.

Entendo que a melhor forma de alcançar esses objetivos é se aproximando do centro democrático. Essa aproximação é importante politicamente, para evitar que o governo fique refém do Centrão, mas também tecnicamente, para uma gestão que compatibilize responsabilidade social com responsabilidade fiscal.

Há muito em jogo. Uma gestão malsucedida no próximo governo pode resultar na volta de Bolsonaro em 2026. É preciso unir todas as forças políticas que não se alinham ao atual mandatário para que um eventual governo Lula seja bem-sucedido.

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Se a aproximação ao centro democrático é inevitável – não só politicamente, como já está ocorrendo, mas também tecnicamente – por que não fazê-lo agora? Ajudaria a ganhar votos de eleitores indecisos que podem ser importantes num pleito tão apertado.

O desafio imediato é a governabilidade em um cenário desafiador. Reconsolidada a democracia, poderemos voltar a discutir se queremos uma gestão econômica um pouco mais à esquerda ou à direita.

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