Caso Carrefour: ‘Incomoda profundamente; Brasil é potência e tem reputação a zelar’, diz secretária

Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC, diz que pasta acompanha com preocupação disputa envolvendo produtores de carne do Brasil e a rede francesa

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Foto do author Luiz Guilherme  Gerbelli
Atualização:

BRASÍLIA - A secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Tatiana Prazeres, afirmou nesta segunda-feira, 25, que vê com preocupação qualquer questionamento envolvendo a qualidade da carne brasileira. O comentário foi feito em meio à disputa entre produtores do Brasil e a rede francesa Carrefour.

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Na quarta-feira da semana passada, 20, o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciou que a rede pararia de vender carne do Mercosul nas lojas francesas por causa das negociações para o acordo entre os sul-americanos e a União Europeia. O executivo disse que a decisão foi tomada após ouvir o “desânimo e a raiva” dos agricultores franceses, que protestaram contra a proposta de acordo de livre comércio com bloqueios de rodovias.

“Nós acompanhamos com preocupação qualquer sinalização que lance dúvida sobre a sanidade da nossa produção animal“, afirmou Tatiana. ”Isso incomoda profundamente, porque, afinal de contas, o Brasil é uma potência agroalimentar e tem um histórico de reputação a zelar.”

Brasil é uma potência agroalimentar e tem um histórico de reputação a zelar, diz Taitana Prazeres Foto: Werther Santana/Estadão

Ao justificar a interrupção das vendas, Bompard afirmou que o acordo traria o “risco de a produção de carne que não cumpre com seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês”.

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Na sexta-feira, 22, outro grande grupo varejista francês, o Les Mousquetaires, seguiu na mesma direção do Carrefour. O CEO do grupo, Thierry Cotillard, também em publicação nas redes sociais, afirmou que as unidades do grupo (que detém as marcas Intermarché e Netto) se comprometem a não comercializar carne da América do Sul. Cotillard disse que a medida visa à soberania alimentar e ao apoio aos agricultores franceses.

A crise escalou de patamar com o boicote de produtores brasileiros de não fornecer mais carnes para o Grupo Carrefour Brasil. O boicote atinge 150 lojas, mas a companhia diz que não há desabastecimento.

“Nós conhecemos os motivos que levam a esse tipo de movimento agora. Há uma negociação entre Mercosul e União Europeia, e produtores que temem esse acordo, enfim, chamam a atenção para esse tipo de movimento”, afirmou Tatiana, que preferiu não comentar a decisão de produtores brasileiros de boicotar as lojas do Carrefour.

No sábado, 23, o ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro, disse ao Estadão/Broadcast Político, que a indústria da carne tem o apoio do governo para interromper o fornecimento de carne ao Grupo Carrefour no Brasil. Ele negou que o ministério tenha feito um pedido explícito para o produto deixar de ser entregue à rede de supermercados francesa, mas afirmou ter parabenizado o setor pela decisão.

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Em nota, Ministério da Agricultura lamentou e ressaltou que “tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações."

“No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, mantendo relações comerciais com aproximadamente 160 países, atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos”, informou o órgão por meio de nota.

A França na balança comercial

Os dados do MDIC mostram que a França não tem um papel muito relevante no comércio exterior brasileiro. Entre janeiro e outubro deste ano, as exportações brasileiras para os franceses somaram US$ 2,574 bilhões. Os principais produtos vendidos para foram farelos de soja, óleos brutos de petróleo e celulose.

Nesse mesmo período de 10 meses, os países que mais compram produtos brasileiros foram China (83,402 bilhões), Estados Unidos (US$ 32,922 bilhões) e Argentina (US$ 11,210 bilhões). Na Europa, os maiores mercados foram ocupados por Holanda (US$ 9,532 bilhões) e Espanha (US$ 8,540 bilhões).

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