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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|As dívidas no país do fiado

Mesmo com esforços para renegociação de dívidas e reduções de juros, a inadimplência segue avançando no Brasil, o que indica que é preciso mais que ações pontuais e regulações em alguns setores de crédito

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A inadimplência (dívidas não honradas) da população não para de crescer. É um tema sensível não só na economia, mas, também, na política.

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A maior parte das discussões sobre o nível de endividamento da população, o tamanho dos juros, a necessidade de renegociar e de perdoar dívidas continua sendo tema importante para as eleições deste ano e, mais ainda, para as de 2026.

O número de famílias inadimplentes chegou a 29,5% dos lares brasileiros em 2023, o maior desde 2010, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. A proporção média de famílias sem condições de pagar dívidas em atraso também avançou, como aponta a Peic, para 12,1% do total de consumidores do País - máxima histórica.

Mesmo com o recuo da inflação e com certa resiliência do mercado de trabalho, que ajudam a aumentar a renda das famílias, o consumidor brasileiro continua com dificuldade de pagar todas as suas contas. Em dezembro do ano passado, a proporção de adultos negativados foi 3,6% acima da registrada no fim de 2022, de acordo com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e o SPC Brasil. Ao todo, são 66,1 milhões de pessoas em falta com seus credores – quatro a cada dez.

Não bastam iniciativas do tipo Desenrola Brasil, recentemente prorrogado pelo governo Lula. O velho Brasil do fiado – e do calote – continua aí a demonstrar que o consumidor lida mal com suas limitações orçamentárias. Daí a necessidade de adotar políticas públicas de longo prazo de modo a mudar a mentalidade do consumidor para a tomada de decisões mais conscientes na administração de suas finanças pessoais. É o que pontua Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV.

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“A falta de educação financeira agrava o problema, porque muitas vezes as pessoas não têm noção do impacto dos juros sobre suas dívidas ou de seu impacto no orçamento. O descasamento entre a redução dos juros básicos e o custo real do crédito é outro fator que cria um ciclo vicioso de endividamento.”

O governo vem ensaiando ações nesse campo, como as novas regras para o teto de juros no rotativo do cartão de crédito e no consignado. E tem o Desenrola Brasil, já mencionado, que deveria beneficiar 70 milhões de pessoas, mas que, até agora, não atendeu nem 11 milhões.

Mas a educação financeira e essas ações pontuais não conseguirão reduzir o problema. É preciso empenho político para inibir a oferta predatória de crédito, criar regulações e reavaliar o papel do setor financeiro nessas renegociações que postergam indefinidamente essas dívidas a juros mais altos e que, muitas vezes, empurram o devedor para a tomada de novos empréstimos para quitar suas dívidas. /COM PABLO SANTANA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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