O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou seu discurso. Declarou, nesta quarta-feira, que “responsabilidade fiscal não são palavras, mas compromisso do governo”. Pelo que foi decido nesta quarta-feira e anunciado no início da noite, essas mudanças podem ser mais do que meras palavras.
A mudança de tom já foi suficiente para derrubar a cotação do dólar em 1,70%, de R$ 5,6648 para R$ 5,5684. A maior desvalorização do dólar ante o real desde agosto de 2023. Isso mostra que as intervenções retóricas do presidente Lula a favor da gastança e contra o presidente do Banco Central têm a ver, sim, com a esticada das cotações da moeda estrangeira.
Mais do que o que diz, pesa o que Lula pensa e faz. O anúncio de cortes e de observância do déficit zero no Orçamento de 2025 é um bom começo. O que precisa ser visto é se o dito será observado na prática.
Começou por dizer que os apostadores na alta da moeda estrangeira “quebrariam a cara”, dando a entender que estavam do lado errado, sem indicar os porquês. No entanto, os tais apostadores só ganharam com o jogo errado. Depois, disse que a disparada do câmbio era consequência de “especulação com derivativos”. E, em seguida, que se devia à “especulação contra o real”.
Ora, sempre que uma especulação dá certo é porque há condições para dar certo. Ou seja, há algo de errado na condução da economia a ponto de criar incertezas que levem tanta gente a se refugiar no dólar. Em todo esse tempo, Lula desancou o atual nível da Selic, ignorando que juros altos normalmente atraem dólares, e não o contrário.
Após muitos ruídos, o presidente Lula finalmente admitiu que era preciso “fazer alguma coisa”, sugerindo que a omissão do governo ou a comunicação equivocada contribui para a escalada das cotações.
No fim da noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tratou de dar os novos recados com o intuito de diminuir a desconfiança do mercado no conjunto de medidas de ajuste fiscal do governo. Declarou que o presidente Lula “determinou que cumpra-se o arcabouço fiscal” e reforçou que a regra para controle das contas públicas será preservada a todo custo.
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A ideia de taxar com IOF a compra de moeda estrangeira para desestimular as compras não leva em conta que boa parte da alta não se deve ao aumento da procura de dólares, mas da redução da oferta, por meio da retenção de receitas no exterior por parte dos exportadores.
Em todo o caso, a maior falha do governo é de diagnóstico. O aumento da incerteza é consequência da forte deterioração das contas públicas. Mesmo com recordes de arrecadação, como ocorreu em maio, o rombo avança porque as despesas aumentam mais que as receitas.

O problema maior não são as seguidas falações equivocadas de Lula, mas a falta de convicção de que seja preciso atacar o déficit. Ainda está para ser comprovado se o presidente Lula deixou de achar que a necessidade de garantir superávit fiscal seja coisa ligada à ganância dos banqueiros e do mercado.
Os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet saíram prestigiados. Falta saber até quando.