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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O racha no Copom e as novas incertezas na economia

Mercado reagiu ao voto dos diretores indicados pelo presidente Lula e acendeu o alerta sobre uma possível mudança na política monetária com a troca de presidente da instituição

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Foto do author Celso Ming
Atualização:

O racha na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira produziu mais incerteza do que a produzida pela queda dos juros básicos (Selic) em 0,25 ponto porcentual, menor do que a dose maior, de 0,5 ponto, decidida nas seis reuniões anteriores.

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A novidade foi mais de natureza política do que técnica. Os quatro diretores que divergiram dos outros cinco e votaram por um corte maior dos juros  são os que foram conduzidos ao Copom pelo presidente Lula, um crítico ácido do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Como em janeiro assumirá a presidência do Banco Central alguém a ser indicado por Lula, surgiram suspeitas de que o Copom mudará a ênfase da política monetária, será mais tolerante no combate à inflação e trabalhará com juros mais baixos.

Ou seja, o risco é o de que, no Copom, critérios políticos prevaleçam sobre critérios técnicos, numa conjuntura de uma política fiscal já marcada pela gastança. É preciso evitar que ocorra algo parecido com o que houve durante o governo Dilma, quando entregues ao subserviente Alexandre Tombini, os juros foram derrubados a canetadas, a inflação disparou, a recessão tomou conta, a austeridade foi para o brejo e para as pedaladas e tudo terminou como já sabido.

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Juros são um dos dois preços do dinheiro (o outro é o câmbio). Quem tem dívidas ou terá de fazê-las se sentiu com a brocha na mão, porque já não sabe o que esperar das suas despesas financeiras futuras. Daí as incertezas e a insegurança.

No comunicado divulgado logo após a reunião desta quarta-feira, aparentemente para compensar o racha, o Copom fez uma afirmação inconvincente de unidade, a de que os integrantes do colegiado convergiram no diagnóstico: “O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela (...) e uma política monetária contracionista”.

Faltaram explicações sobre as razões técnicas pelas quais a alegada convergência no diagnóstico desaguou na divergência quanto ao procedimento adotado. O mercado financeiro sentiu falta de chão: os juros futuros dispararam, o dólar subiu 1,0%, para R$ 5,14, e a Bolsa operou deslocada do cenário altista do exterior e caiu 1,0%. Pareceu exagerada a sensação de que Campos Neto já não consegue liderar o Banco Central como antes; e de que tenha virado uma espécie de pato manco.

Como este é ano de escolha dos novos prefeitos e de definição das bases que comandarão a sucessão presidencial em 2026, falta saber quais serão os desdobramentos políticos e, ainda, os desdobramentos de política econômica a serem comandados por um governo que tolera rombos atrás de rombos e se sente inseguro em relação ao resultado das eleições. Até onde vai o déficit fiscal do setor público e até que ponto a economia brasileira ficará desarrumada?

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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