O raciocínio é simples: se o voto de confiança não passar, Papandreou terá de chamar eleições antecipadas, o que derruba a chance de aprovação das medidas de austeridade adicionais exigidas pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional para a liberação de mais ajuda financeira. Ou seja, colocaria a Grécia à beira de um default desorganizado.
A situação é instável, mas especialistas não acreditam que os parlamentares gregos correrão esse risco, ainda mais porque estão sob pressão das autoridades europeias. Nem mesmo a quinta parcela do empréstimo já tomado no ano passado, de 12 bilhões de euros, será liberada sem o compromisso de Atenas. Sem esses recursos, a Grécia não tem como arcar com os compromissos de julho.
Em meio à forte insatisfação social, expressa por meio de protestos cada vez mais fortes, Papandreou teve de reformar seu gabinete na semana passada. Analistas acreditam que a popularidade do novo ministro de Finanças, Evangelos Venizelos, conseguirá unir os membros do Movimento Socialista Pan-Helênico, que possuem estreita maioria no parlamento.
Para o Barclays Capital, Venizelos deve trazer o suporte dos parlamentares socialistas dissidentes, o que permitirá a aprovação do voto de confiança e abrirá o caminho para a votação das novas medidas de austeridade na próxima semana.
"Acreditamos que o governo vai ganhar e, nesse caso, a União Europeia vai liberar o dinheiro necessário", avalia Paul Donovan, economista do UBS. "O fato de que o governo ainda tem maioria permitirá que o voto de confiança passe, mas com todo o caos recente ainda precisamos observar a situação cuidadosamente", alerta Jim Reid, estrategista do Deutsche Bank.
Se o governo de Papandreou realmente ganhar aprovação hoje, significa que as novas medidas de austeridade devem ser aprovadas na próxima semana. As atenções, então, se voltarão para os detalhes do pacote de ajuda a ser oferecido a Atenas - e a nova data a ser observada no cronograma da crise é o dia 3 de julho, quando ocorrerá um novo encontro ministerial na Europa. Do ponto de vista dos investidores, a principal questão é a participação dos credores privados.
O resultado do voto de confiança ao governo de Papandreou é esperado para hoje à noite, já depois do fechamento dos mercados na Europa e no Brasil.