RIO - As críticas do presidente Jair Bolsonaro ao aumento na gasolina e no óleo diesel anunciado nesta quinta-feria, 18,pela Petrobrás, vão afetar negativamente não apenas as ações da petroleira na abertura do mercado amanhã, mas também o câmbio, e pode inibir até as importações de combustíveis por investidores privados, colocando em risco o abastecimento em março, avaliou o analista de petróleo e gás da consultoria StoneX, Thadeu Silva.
"O mercado claramente deve precificar alguma coisa contra a Petrobrás amanhã, com o risco de uma ingerência mais direta na política de preços. Tanto câmbio como (as ações da) Petrobrás vão ser impactados, a não ser que surja alguma informação antes da abertura para dirimir as incertezas", afirmou ao Estadão/Broadcast. "Essas declarações do Bolsonaro são fortes, mas temos de ver o resultado efetivo delas", completou.
Segundo Silva, o ajuste realizado pela Petrobrás hoje - de 15,2% para o diesel e 10,2% para a gasolina - era necessário para a estatal não arcar sozinha com o aumento do preço do petróleo no mercado internacional, diante da disparada do preço da commoditie, que voltou ao patamar dos US$ 60 o barril. Após o aumento, os players privados começaram a se movimentar para importar cargas dos combustíveis, já que a paridade com o preço internacional ficou mais favorável.
"A gente está com uma bomba armada muito séria. Conforme a Petrobrás foi retrasando os aumentos, a defasagem (em relação ao mercado internacional) foi crescendo e paralisando a logística de distribuição. Havia um impasse porque o suprimento para março estava seriamente ameaçado", explicou. Para ele, ou a Petrobrás aumentava os preços dos combustíveis ou teria de arcar com prejuízos para garantir o abastecimento.
Silva destacou ainda, que além da Petrobrás, as mudanças anunciadas pelo presidente em relação a zerar os impostos federais incidentes nos combustíveis por dois meses também preocupa pelo impacto que terá no câmbio, podendo, inclusive, zerar a paridade internacional obtida pela estatal com os aumentos mais expressivos.
"O governo vai ter de explicar de onde virá a receita, porque na gasolina será uma renúncia mensal de R$ 2,7 bilhões a R$ 3 bilhões, e no diesel, de R$ 1,5 bilhão", calculou. "É um cenário de incerteza bastante sério e vai impactar bastante a abertura do mercado amanhã", afirmou, alertando que os importadores podem recuar diante da dúvida de qual será o preço quando o produto chegar ao Brasil, entre 20 e 40 dias.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.