GENEBRA - Um dia depois de pedir à Comissão Europeia a suspensão das negociações entre o Mercosul e a União Europeia (UE) por conta do afastamento da presidente Dilma Rousseff, um grupo de deputados europeus pedirá uma reunião com a embaixadora do Brasil em Bruxelas, Vera Machado, para expressar a posição do parlamentares e ouvir explicações sobre o que está ocorrendo no País.
O pedido será feito pelo vice-presidente da Delegação UE-Mercosul do Parlamento Europeu, o deputado Xabier Benito, e deve chegar até o posto diplomático brasileiro ainda nesta quarta-feira. Segundo o Estado apurou com sua assessoria, a crise política no Brasil foi alvo de um amplo debate nesta terça-feira entre deputados do Bloco de Esquerda, dentro do Parlamento.
A decisão do grupo de 34 deputados foi a de manter a pressão, liderada pelo partido espanhol Podemos.
Além de expressar a posição do grupo contrário aos acontecimentos políticos no Brasil, os deputados vão querer ouvir da embaixadora Vera Machado o que vem sendo realizado para garantir que o processo esteja dentro das regras constitucionais. O chanceler José Serra já havia circulado um telegrama a todos os postos no exterior para que expliquem às forças políticas locais que não existiu um golpe no Brasil e que o processo é Constitucional.
Às vésperas dos primeiros encontros de Serra com negociadores comerciais em Paris nesta semana, o grupo de deputados enviou uma cartaà chefe da diplomacia da UE, Federica Mogherini. O documento, obtido pelo Estado, insiste que o governo de Michel Temer "carece de legitimidade". "Tendo em vista a situação política no Brasil, temos dúvidas de que este processo tem a legitimidade democrática necessária para um acordo de tal magnitude", aponta o grupo.
Mas num Parlamento com 751 deputados, o grupo de 34 representantes busca novos aliados. O bloco, composto principalmente por partidos de esquerda, ainda precisará convencer os deputados do Partido Socialista a mudar de posição. Hoje, esse grupo - um dos maiores dentro do Parlamento Europeu - adotou uma postura de não se envolver na política doméstica brasileira e " esperar para ver".
Nas últimas semanas, o PT usou sua rede de contatos na Europa para buscar apoio entre ex-líderes do Velho Continente, entre eles o socialista José Luis Zapatero.
Mas enquanto não houver uma posição de todo o partido, os socialistas não irão apoiar uma resolução no Parlamento Europeu contra o Brasil, como o Podemos esperava conseguir. Hoje, os 751 representantes no Parlamento Europeu tem um poder limitado nas negociações comerciais do bloco, mas coma possibilidade de criar pressão.
Serra terá um encontro ainda nesta semana com a comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmstrom, num sinal claro que Bruxelas considera o chanceler um interlocutor legítimo. Após o afastamento de Dilma, o escritório da UE indicou que o Brasil " é e continuará sendo um parceiro estratégico " para a Europa.O bloco decidiu ainda seguir adiante com a troca de ofertas entre Mercosul e UE, mesmo diante da crise política no Brasil.
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