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Desemprego volta a subir no País após dez quedas seguidas

Taxa de desocupação no Brasil ficou em 8,4% no trimestre encerrado em janeiro; em dezembro, estava em 7,9%

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - A taxa de desemprego voltou a subir no País após dez recuos consecutivos: foi de 7,9% no trimestre encerrado em dezembro de 2022 para 8,4% no trimestre terminado em janeiro deste ano, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados nesta sexta-feira, 17, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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“A pesquisa confirma a tendência de piora que esperávamos na desocupação e mostra os efeitos da desaceleração da economia no emprego”, avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em comentário.

Apesar da elevação, a taxa de desemprego no trimestre encerrado em janeiro de 2023 foi a mais baixa para esse período do ano desde 2015, quando estava em 6,9%. O resultado teria sido maior, não fosse a migração de trabalhadores que perderam o emprego para a inatividade.

“Se as pessoas que perderam sua ocupação agora tivessem se voltado para a busca do trabalho isso poderia ter levado a um aumento da taxa”, ressaltou Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento no IBGE. “Mas é importante lembrar que o processo de busca por trabalho no mês de janeiro não costuma ser dos mais intensos. É mês de férias. Empresas têm paradas técnicas, ou férias”, completou.

O País registrou uma extinção de 1,025 milhão de vagas no mercado de trabalho em relação ao trimestre encerrado em outubro de 2022. A população ocupada somou 98,636 milhões de pessoas no trimestre encerrado em janeiro de 2023.

Segundo Adriana Beringuy, já era possível notar perda de força na geração de vagas ao fim de 2022, período do ano tradicionalmente favorável ao mercado de trabalho. A queda na ocupação em janeiro consolida essa tendência de perda de fôlego da ocupação, disse ela.

“É cedo para traçar cenário excessivo de desaceleração (do mercado de trabalho)”, avaliou Beringuy, acrescentando que os dados estão refletindo a virada do ano, “um momento de transição, onde fatores sazonais exercem influência importante nos indicadores”.

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Sete das dez atividades econômicas enxugaram o número de trabalhadores em um trimestre, mas Beringuy lembra que pode ser um movimento sazonal de dispensa de contratos temporários, não sendo possível apontar ainda se há de fato um enfraquecimento do mercado de trabalho. Ela acrescenta que algumas dessas retrações na ocupação entre as atividades não foram estatisticamente significativas, por estarem dentro da margem de erro da pesquisa amostral. Além disso, o rendimento médio está aumentando.

Na passagem do trimestre terminado em outubro de 2022 para o trimestre encerrado em janeiro de 2023, houve geração de vagas apenas em três atividades:

  • Alojamento e alimentação (156 mil vagas)
  • Transporte e armazenagem (126 mil)
  • Serviços domésticos (9 mil)

As demissões ocorreram em sete atividades:

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  • Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (-342 mil vagas)
  • Agricultura (-272 mil)
  • Indústria (-220 mil)
  • Comércio (-201 mil)
  • Construção (-134 mil)
  • Outros serviços (-102 mil)
  • Informação, comunicação e atividades financeiras, profissionais e administrativas (-38 mil)

Em relação ao patamar de um ano antes, as únicas atividades com perdas foram a agricultura, que demitiu 398 mil trabalhadores, e a construção, que dispensou 13 mil pessoas. Os demais setores contrataram: administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais ( 876 mil trabalhadores a mais), comércio (637 mil), alojamento e alimentação (143 mil), serviços domésticos (249 mil), indústria (278 mil), informação, comunicação e atividades financeiras (544 mil), transporte (481 mil) e outros serviços (430 mil).

“Eu não sei até que ponto o que está prevalecendo é um comportamento sazonal ou uma perda de força”, ponderou Beringuy. “Não existem fatores de um apontamento que revelem uma mudança tão efetiva no mercado de trabalho.”

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A população desocupada diminuiu em 27 mil pessoas em um trimestre, totalizando 8,995 milhões de desempregados no trimestre até janeiro. A população inativa somou 66,341 milhões de pessoas no trimestre encerrado em janeiro, 1,438 milhão a mais que no trimestre anterior.

“Embora esse trimestre registre uma perda de ocupação, a menor pressão exercida no mercado de trabalho ainda mantém essa taxa no campo da estabilidade”, lembrou Beringuy.

O nível da ocupação - porcentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar – permaneceu saiu de em 57,4% no trimestre até outubro de 2022 para 56,7% no trimestre até janeiro de 2023. No trimestre terminado em janeiro de 2022, o nível da ocupação era de 55,3%.

O IBGE informou ainda que o Brasil tinha 63,739 milhões de ocupados contribuindo para a Previdência, terceiro maior contingente da série histórica. No entanto, a proporção de ocupados que contribuem para a Previdência foi de apenas 64,6% no trimestre até janeiro de 2023, montante que já ultrapassou os 66% em anos anteriores.

Perspectivas

Para o economista Luccas Saqueto, da GO Associados, o aumento da taxa de desemprego reforça a percepção de que 2023 será pior para o mercado de trabalho, fruto de uma conjuntura macroeconômica mais desafiadora, especialmente para a atividade econômica. Para o economista, as leituras da Pnad ao longo de 2023 devem acompanhar o desempenho enfraquecido da economia brasileira ao longo deste ano. A GO espera crescimento de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, após 2,9% no ano passado.

“Com perspectivas mais pessimistas para a economia, vamos ter um crescimento menos intenso para o mercado de trabalho, que deve apresentar mais dificuldades ao longo deste ano”, afirma Saqueto. Segundo o economista, o setor de serviços não deve apresentar o mesmo protagonismo que teve no ano passado para a geração de vagas e redução da população desocupada.

Um possível substituto pode ser a construção civil, impulsionada por ações do governo federal, mas Saqueto avalia que ainda restam incertezas para que o setor puxe a criação de empregos no País este ano. “As grandes obras de infraestrutura ainda estão incertas por alguns fatores: no começo do ano, o governo mudou um pouco a dinâmica de regulação no saneamento, o que gerou incertezas, e está com bastante resistência quanto aos processos de privatização. Isso inibe o investimento em infraestrutura. Do outro lado, se o governo conseguir emplacar um Minha Casa, Minha Vida que funcione, podemos ver um caminho para a construção civil”, diz.

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Taxa de desocupação no Brasil ficou em 8,4% no trimestre encerrado em janeiro  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Alta na renda

A massa de salários em circulação na economia aumentou em R$ 29,156 bilhões no período de um ano, para R$ 275,134 bilhões, uma alta de 11,9% no trimestre encerrado em janeiro de 2023 ante o trimestre terminado em janeiro de 2022. Na comparação com o trimestre terminado em outubro de 2022, a massa de renda real subiu 0,8% no trimestre terminado em janeiro, com R$ 2,156 bilhões a mais.

“Por mais que eu tenha perdido um pouco da população ocupada, as pessoas que permaneceram na ocupação estão ganhando mais”, explicou Adriana Beringuy, do IBGE.

Embora a expansão na massa de renda em um trimestre não tenha sido estatisticamente significativa, por ter ficado dentro da margem de erro da pesquisa, Beringuy lembra que, na comparação anual, “a massa cresce sucessivamente, seja por conta da expansão da ocupação como dos rendimentos”.

O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve uma elevação real (ou seja, já descontada a inflação do período) de 1,6% na comparação com o trimestre até outubro de 2022, R$ 46 a mais, para R$ 2.835. Em relação ao trimestre encerrado em janeiro de 2022, a renda média real de todos os trabalhadores ocupados subiu 7,7%, R$ 202 a mais.

O crescimento do rendimento médio real está relacionado à trégua da inflação registrada nos últimos meses, que proporciona ganhos reais, mas também à melhora na composição da ocupação, com manutenção de vagas com carteira assinada no setor privado e uma dispensa de trabalhadores temporários com menores remunerações no setor público, o que tende a elevar o rendimento médio, apontou Beringuy.

“Além da questão da inflação, tem a manutenção de carteira de trabalho, são trabalhadores mais bem remunerados”, lembrou Beringuy. “A própria queda na ocupação dentro da administração pública, seguridade, educação e saúde é uma perda mais daqueles trabalhadores temporários, que são os rendimentos menores”, explicou./Colaborou Italo Bertão Filho

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