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Energia do lixo é questão de saneamento e economia circular; leia artigo

Tecnologia contribui para a redução dos aterros e a mitigação das emissões de gases de efeito estufa

Por Yuri Schmitke
Atualização:

A Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren) e o Global Waste-to-Energy Research and Technology Council (Global WtERT Council) vêm a público refutar pontos defendidos por Clauber Leite, do Instituto Pólis, em artigo intitulado Energia do lixo, uma ilusão, publicado na edição de 10 de maio deste jornal.

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Importante esclarecer que não existe qualquer evidência científica de que essas usinas sejam prejudiciais ao meio ambiente. Essa é uma tecnologia madura e confiável, com mais de 2.600 unidades em operação comercial em todo o mundo. A cargo de exemplo, os resíduos não recicláveis do Japão (70%), China (55%), União Europeia (30%) e Estados Unidos (12%) são processados em usinas de recuperação de energia Waste-to-Energy (WtE), local em que o lixo é transformado em energia elétrica e térmica.

Países que mais utilizam usinas WtE são também aqueles que mais reciclam, pois só é enviado para a usina o lixo não reciclável, conforme apontam estatísticas da União Europeia e do Banco Mundial. Logo, inexiste qualquer conflito dessa tecnologia com os catadores de materiais recicláveis, que recebem os resíduos antes mesmo de serem destinados às usinas, em centrais de triagem ou pelo sistema de coleta e transporte.

Ideia é que lixo não-reciclável seja utilizado para gerar energia limpa Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Contrariando a alegação de que o WtE estimula a produção de lixo, os estudos comprovam que essa tecnologia contribui para a redução dos aterros e a mitigação das emissões de gases de efeito estufa. As emissões de metano provenientes dos aterros são uma das principais fontes de gases de efeito estufa, pois apenas 50% são capturados, e usinas WtE são apontadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, como a forma mais eficaz para mitigação do metano, gás 80 vezes mais nocivo que o CO2.

Vale ressaltar que, para cada R$ 1,00 investido em usinas WtE, deixa-se de gastar R$ 2,00 no meio ambiente e R$ 1,00 na saúde pública, e o tratado de economia circular da União Europeia prevê em seu plano de ação que destinar os resíduos não recicláveis às usinas WtE é preferível à destinação aos aterros.

A primeira usina desse tipo no País, em construção em Barueri (SP), tem operação prevista para iniciar em 2025. No entanto, o setor já enfrenta resistência e a propagação de fake news que podem comprometer o futuro dessa usina e prejudicar as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) para a recuperação energética, que prevê 994 megawatts até 2040, não somente para gerar energia, mas para proteger a água potável disponível no planeta e reduzir o gasto na saúde pública, estimado em R$ 5,4 bilhões por ano no Brasil (International Solid Waste Association, 2015). / YURI SCHMITKE É PRESIDENTE EXECUTIVO DA ABREN, VICE-PRESIDENTE PARA A AMÉRICA LATINA DO GLOBAL WTERT COUNCIL, PRESIDENTE DO WTERT BRASIL, MESTRE EM DIREITO E POLÍTICAS PÚBLICAS PELO UNICEUB, É PROFESSOR DA FGV NO MBA EM ADMINISTRAÇÃO: RECUPERAÇÃO ENERGÉTICA E TRATAMENTO DE RESÍDUOS

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