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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Por que a pressa no corte dos juros, Copom?

Mercado se pergunta se Copom vai manter ritmo de corte da Selic nas suas próximas reuniões

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O que mais interessa aos investidores sobre o desfecho da decisão do Copom desta quarta-feira, 20, não é o corte já amplamente telegrafado de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic, de 11,25% para 10,75%, mas, sim, o que vai acontecer daqui a duas reuniões, em junho: se o Banco Central poderá reduzir o ritmo de redução dos juros para 0,25 ponto ou se manterá o passo de 0,50 ponto.

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Desde que o BC começou o atual ciclo de corte de juros, em agosto de 2023, o Copom vem conduzindo as expectativas sobre a dinâmica da política monetária ao sinalizar, a cada decisão, que manteria a redução da Selic em 0,50 ponto “nas próximas reuniões”. O plural desse trecho do comunicado foi interpretado pelo mercado assim: no mínimo, por duas reuniões, um corte de 0,50 ponto estava sacramentado.

Recentemente, analistas e alguns diretores do BC passaram a considerar a possibilidade de retirar a sinalização “nas próximas reuniões” do comunicado do Copom, diante das surpresas para cima da inflação – especialmente, nos preços de serviços – e também de indicadores de atividade melhores do que o esperado.

Sem falar que o ciclo de corte de juros no Brasil já está adiantado e que o BC repetiu várias vezes que a taxa terminal da Selic ficará em território restritivo. No boletim Focus, a mediana das projeções aponta para uma Selic de 9% no fim deste ano, enquanto a previsão para a inflação de 2024 é de 3,79%. Já os investidores, conforme a curva de juros, precificam uma taxa terminal de 9,75%.

Copom deve cortar os juros em 0,5 ponto percentual nesta quarta, mas ritmo dos próximos cortes é o que interessa ao mercado Foto: Dida Sampaio / Estadão

Supondo que o comunicado a ser divulgado hoje mantenha o trecho “nas próximas reuniões”, garantindo outros cortes de 0,50 ponto nos próximos dois encontros, a Selic cairia, portanto, para 9,75% na decisão do Copom em junho. Ou seja, ainda num patamar restritivo o suficiente não só em termos de precificação dos investidores, como também nas projeções dos analistas no Focus. E permitiria maior flexibilidade ao BC para olhar com calma as condições macroeconômicas domésticas e externas, para, então, decidir o que fazer com o resto do ciclo de afrouxamento monetário.

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Mas se retirar a indicação de “próximas reuniões”, o mercado imediatamente poderá considerar que, em junho, o corte será de 0,25 ponto, deixando a Selic em 10%. Por que, então, o BC adotaria uma postura tão prematura na sua decisão de hoje, eliminando a sinalização dada desde o início do ciclo sem estar pressionado, de fato, por números ruins de inflação ou até por uma disparada no dólar, que está ao redor de R$ 5? E sem saber, desde já, o que vai acontecer com os juros nos Estados Unidos em 2024?

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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