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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Preços de commodities devem continuar em alta, mas sem o mesmo ímpeto do 1º semestre

Enfraquecimento da aceleração do PIB das maiores economias e fechamento de regiões da China para conter a variante Delta afetam os preços

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Foto do author Fábio Alves

Depois da impressionante alta observada no primeiro semestre deste ano, os preços das commodities mais sensíveis ao ritmo do crescimento da economia global perderam fôlego em agosto, com as cotações de algumas delas até recuando, o que fez muitos investidores indagarem se o rali das matérias-primas teria chegado ao fim.

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Na semana passada, por exemplo, o minério de ferro negociado no Porto de Qingdao, na China, acumulou perda de mais de 6%, cotado a US$ 162,07 a tonelada. No início de julho, a tonelada chegou a ser negociada acima de US$ 221.

Já o preço do cobre acumulava, até o pregão da segunda-feira, queda de 3,3% em agosto, o que reduziu seu ganho no ano a quase 23%. Também até a segunda-feira, o barril do petróleo Brent registrava queda acumulada de 7,50% em agosto, o que limitou a alta das cotações em 2021 a 36,55%.

É bom lembrar que a disparada nos preços das commodities no primeiro semestre levou, por exemplo, o Brasil a registrar superávit de US$ 10,4 bilhões na balança comercial entre janeiro a junho, o maior saldo para o período da série histórica, iniciada em 1989.

Minério de ferro negociado no Porto de Qingdao, na China, acumulou perda de mais de 6%, cotado a US$ 162,07 a tonelada Foto: Fábio Motta/Estadão

O desempenho das commodities foi um dos destaques dos mercados mundiais no primeiro semestre, alimentado pela retomada mais acelerada da economia global, com o avanço da vacinação contra a covid-19 permitindo o relaxamento pelos principais países desenvolvidos das duras medidas de confinamento social.

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Agora, dois fatores estão por trás do arrefecimento nas cotações de algumas matérias-primas, especialmente as de metais industriais. Um deles é que os preços de vários ativos, especialmente commodities, são beneficiados em períodos de aceleração do crescimento global. Acontece que esse pico de aceleração do PIB das maiores economias parece ter ficado para trás.

Pode ser que a retomada cíclica da economia global ainda continue robusta, mas do ponto de vista sequencial, isto é, na comparação do crescimento do PIB de um trimestre em relação ao anterior, as taxas poderão apresentar uma desaceleração. Não mais se repetirão os impressionantes números do PIB no primeiro e segundo trimestres, como observados nos Estados Unidos.

O outro fator tem a ver com a China, o maior comprador de matérias-primas do mundo. O país asiático enfrenta o pior surto de covid desde o início da pandemia, em razão da disseminação da variante Delta, o que forçou o governo a adotar novas restrições à mobilidade, fechando aeroportos e portos de regiões economicamente cruciais.

Além disso, preocupados com o forte aumento da inflação ao produtor e ao consumidor, o governo chinês vem adotando medidas para conter a especulação nos preços de algumas matérias-primas, como o minério de ferro. Sem falar também que, a fim de evitar um aquecimento demasiado da economia chinesa e evitar bolhas em alguns setores, as autoridades do país vinham adotando até há pouco tempo medidas para apertar sua política fiscal.

Diante disso, muitos analistas começaram a revisar para baixo suas projeções para o desempenho da economia chinesa em 2021. O banco Goldman Sachs, por exemplo, revisou sua estimativa em 2021 de 8,6% para 8,3%.

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Olhando para frente, os preços das principais commodities não deverão sofrer uma correção mais forte. Mas é provável que esse mercado passe por um período de consolidação, isto é, depois da alta muito forte dos últimos 12 meses, as cotações de várias matérias-primas devem se estabilizar em patamares relativamente elevados. Todavia, é certo que haverá um aumento na volatilidade das cotações no curto prazo.

De qualquer forma, para as commodities exportadas pelo Brasil, os preços ainda devem continuar atrativos, beneficiando o valor financeiro da balança comercial, embora sem o mesmo ímpeto que se viu no primeiro semestre.

Por outro lado, uma estabilidade ou uma alta mais contida nas cotações de matérias-primas poderia, teoricamente, ajudar a aliviar a inflação brasileira. Para isso, é preciso contar com uma correção no valor do dólar ante o real. Mas aí o desfecho depende de muitos outros fatores, incluindo as idiossincrasias da política e da economia brasileira. Ou seja, o preço das commodities pode até ficar estável em dólar, mas subiria em real por conta de uma desvalorização do câmbio.

*COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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