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Falta de componentes causa interrupções em metade das fábricas de carros no Brasil

Nove das 21 unidades das montadoras no País sofreram paralisações que vão de dias a meses por causa da escassez de eletrônicos

Foto do author Eduardo Laguna
Por Eduardo Laguna (Broadcast)
Atualização:

SÃO PAULO - A piora no fornecimento de componentes eletrônicos, decorrente da escassez global de chips, abriu uma nova onda de paralisações na indústria automotiva brasileira. Praticamente metade - nove de 21 unidades - das fábricas de automóveis do País está parando, por períodos que vão de dias a meses, pela indisponibilidade do insumo.

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Após a recomposição de parte dos estoques de peças que permitiu ao setor funcionar sem tantas interrupções a partir de meados de abril, seis montadoras foram obrigadas a desligar novamente as máquinas. Volkswagen, General Motors (GM), Hyundai, Renault, Honda e Nissan formam a lista de fabricantes que comunicaram novamente paradas completas ou parciais de produção, algumas em mais de uma fábrica.

Em Piracicaba, no interior de São Paulo, o terceiro turno da Hyundai foi suspenso na segunda-feira da semana passada e não volta antes do fim deste mês. A montadora avalia parar também o segundo turno, o que reduziria o funcionamento da fábrica a uma única jornada, que trabalha em três expedientes praticamente desde a sua inauguração em 2012.

Se não houver regularização mínima nos estoques de componentes eletrônicos, a Volkswagen, que vinha conseguindo administrar a instabilidade no fornecimento de peças sem parar as fábricas, também poderá suspender em julho a produção em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

As unidades da Volks em Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR) iniciaram ontem uma paralisação de dez dias porque não há circuitos eletrônicos suficientes para continuar com a produção dos modelos Gol, Voyage, Fox e T-Cross, os carros montados nas duas fábricas.

Fábrica da GM em São Caetano do Sul, no ABC paulista Foto: Fábio Gonzalez/GM do Brasil

Na GM, a fábrica de São Caetano do Sul (SP), cuja produção noturna, com exceção de pintura e funilaria, está suspensa desde a semana passada, vai parar completamente a partir de 21 de junho, quando os demais setores também serão fechados temporariamente.

A volta está marcada apenas para 2 de agosto, período no qual a GM vai, em boa parte, produzir no Brasil apenas a picape S10 e o utilitário esportivo TrailBlazer em São José dos Campos (SP), uma vez que sua terceira fábrica, responsável pela produção do Onix, vem adiando o retorno. Não há previsão de retomada da produção do carro mais vendido do País antes de agosto.

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Sem componentes eletrônicos, a Renault parou por três dias, nas últimas duas semanas, a linha de carros de passeio no Paraná, enquanto a Nissan vai interromper a produção no sul do Rio de Janeiro por cinco dias intercalados neste mês. Duas paradas da marca japonesa já foram realizadas e a próxima está marcada para sexta-feira..

Na Honda, as fábricas de Sumaré e Itirapina, ambas cidades do interior de São Paulo, vão parar amanhã, com retorno apenas na segunda-feira. A unidade de Sumaré, onde a Honda monta os modelos Fit, City e Civic, já tinha interrompido a produção por dois períodos entre fevereiro e março em razão da falta de componentes eletrônicos.

Planos frustrados

A crise dos semicondutores frustrou planos das montadoras que pretendiam compensar logo as paradas provocadas entre fim de março e começo de abril pelo risco de contaminação da segunda onda da pandemia. O período sem atividade nas linhas de montagem deu um respiro a fornecedores, que continuaram trabalhando, e ajudou a atenuar o estresse nos estoques.

Apesar da pressão de custo, já que os preços dos materiais não param de subir, houve melhora na disponibilidade de insumos críticos como o aço. Eventuais atrasos de entrega estão sendo considerados administráveis.

Contudo, sem os semicondutores, vitais na nova geração de veículos, onde a eletrônica está presente em praticamente todas as funções, a produção precisa ser completamente suspensa - diferentemente de insumos como pneus, em que a instalação pode ser adiada sem interromper o andamento da linha.

Caminhões em alta

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Se a falta de componentes eletrônicos para nove das 21 fábricas de carros de passeio em atividade no País, número que pode chegar a dez se a Volks confirmar a parada no ABC paulista, a indústria de caminhões, por outro lado, vive um momento diferente.

Numa corrida contra o tempo para alcançar a programação do ano e não perder encomendas vindas do transporte da safra recorde no campo, as fábricas de veículos comerciais, dependentes em menor escala dos semicondutores, não voltaram a parar. Pelo contrário, estão convocando jornadas aos fins de semana ou horas extras para compensar os atrasos.

Após a parada da pandemia na última semana de março, a Mercedes-Benz já teve três sábados de trabalho, de um total de sete negociados na fábrica de São Bernardo do Campo. As datas estão sendo marcadas conforme a disponibilidade de peças.

Horas extras vêm sendo uma constante desde o início do ano na fábrica da Volkswagen Caminhões e Ônibus em Resende, no sul do Rio de Janeiro. Por conta da irregularidade no fornecimento de peças, a fábrica também funciona aos domingos para finalizar a montagem de caminhões.

A Volvo informa que, após reduzir a produção de caminhões em 70% no fim de março, não está sofrendo problemas críticos de suprimento. O complexo industrial da marca sueca em Curitiba vem produzindo caminhões em dois turnos, com o segundo deles ampliado há três semanas.

Balanço divulgado nesta terça-feira, 8, pela Anfavea, associação que representa as montadoras, mostra que os quase 14 mil caminhões produzidos no mês passado correspondem ao maior volume do segmento desde fevereiro de 2014.