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Clima e governança foram os principais influenciadores das decisões de empresas do Ibovespa em 2022

Segundo estudo da PwC, tendência reforça importância da agenda sustentável dentro das corporações; agora falta colocar projetos em prática

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Por Beatriz Capirazi

Pauta central dos discursos de governos ao redor do mundo, as mudanças climáticas se tornaram o principal influenciador das decisões tomadas por 85% das empresas que compunham o Ibovespa, principal índice de desempenho das ações negociadas na bolsa de valores do Brasil, em 2022. A conclusão é da terceira edição do estudo ESG no Ibovespa, realizado pela consultoria PwC em parceria com a empresa de auditoria Ibracon e obtido com exclusividade pelo Estadão.

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Segundo o levantamento, divulgado nesta quinta-feira, 23, a tendência nas principais empresas de capital aberto do Brasil reforça a importância da agenda sustentável e como a percepção sobre o clima afeta as perspectivas de uma organização, considerando que eventos relacionados a essa temática vem afetando não só a população, mas também a produção de muitas empresas.

Essa tendência é vista também na ampla adesão das empresas a relatórios de sustentabilidade, sendo o mais usado pelas empresas para reportarem suas ações ESG. Das 82 empresas que compunham o Ibovespa de maio a agosto de 2023, 75 apresentaram algum tipo de relatório relacionado a aspectos ESG - a maior proporção de reportes desde o início da pesquisa.

A segunda maior preocupação das grandes empresas no ano passado foi a governança corporativa, englobando principalmente temáticas como ética, integridade e anticorrupção.

Na visão do sócio da PwC Brasil, Mauricio Colombari, o levantamento é positivo, trazendo mais informações e dados concretos sobre as suas ações. Para ele, somente o fato dessas informações estarem sendo divulgadas já é um avanço, aumentando o comprometimento das empresas com os dados e com a transparência da companhia.

“Esse grupo de empresas tem esse tipo de demanda e o próprio mercado vem demandando isso, fazendo com que as empresas sejam mais transparentes em relação ao ESG, até mais do que outros países”, complementa o diretor técnico do Ibracon, Rogério Mota.

Ele destaca que o panorama já é positivo considerando o peso das empresas do Ibovespa no mercado, mas prospecta que a probabilidade é que esses dados melhorem ainda mais com o lançamento do International Sustainability Standards Board (ISSB), que traz uma padronização para as métricas relacionadas a sustentabilidade, permitindo que os dados sejam comparáveis e usados por investidores.

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Déficits

Embora a sustentabilidade seja o grande foco das empresas de capital aberto, o levantamento aponta que a pauta sobre carbono, considerada uma das principais da agenda verde do governo Lula e essencial no processo de descarbonização das empresas, ainda é pouco colocada em prática pelas companhias.

Apesar de demonstrarem uma preocupação maior com os efeitos das mudanças climáticas, menos de 6% das empresas do Ibovespa declaram que são carbono neutro, ou seja, reduzem onde é possível e balanceiam o restante das emissões por meio da compensação. No total, 93% das empresas não se declaram carbono neutro.

Apenas 5% declaram neutralidade de carbono para escopo 1 (emissões que vêm diretamente do processo produtivo da empresa) ou 1 e 2 ( emissões indiretas da geração de energia que é comprada de um fornecedor de serviços públicos), enquanto 1% não especifica o escopo de sua neutralidade.

Embora o número seja baixo, com a publicação das novas normas de sustentabilidade do ISSB, espera-se que ocorra um maior detalhamento dos planos de descarbonização das empresas e ampliando a transparência quanto a estes planos.

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O levantamento da PwC ainda aponta que mais da metade dos relatórios não apresentou um compromisso real para a conversão das empresas em carbono neutro. Quem reportou só coloca a meta para 2050, sem apontar planos práticos.

Outro ponto a ser melhorado nas empresas, segundo o relatório da PwC, é a inclusão de pessoas pretas. Embora as companhias tenham aumentado o reporte de dados relacionados à presença de homens e mulheres nas organizações, a transparência quanto a presença da população negra ainda é baixa.

Embora 97% das empresas divulgue estatísticas relacionadas à diversidade e 81% sobre questões raciais, 55% das companhias listadas no Ibovespa não divulgaram a quantidade de pessoas negras na alta liderança em 2022, um aumento em relação aos 51% de 2021 - e um aumento da falta de transparência.

Em contrapartida, houve uma queda na falta de dados sobre pessoas negras nos Conselhos de Administração, caindo de 86%, em 2021, a 9%, em 2022. “Ainda tem muito o que avançar, mas a disponibilidade da informação ajuda a fazer essa agenda andar mais rápido”, afirma Colombari, destacando que, de uma maneira geral, as empresas do Ibovespa estão avançando na pauta ESG gradativamente.

Índices de sustentabilidade

Além do engajamento com relatórios, que permitem que as empresas divulguem seus dados internos através de métricas específicas, outro grande foco das empresas de capital aberto do Ibovespa foi aumentar sua participação em índices de sustentabilidade.

Pelo menos nove índices de mercado relacionados a temas ESG foram mencionados pelas empresas do Ibovespa, com destaque para o Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 (ISE), citado por 69% das empresas, e o Índice Carbono Eficiente (ICO2), mencionado por 52%.

A novidade desta edição do estudo foi a inclusão do Índice TEVA Mulheres na Liderança e do Bloomberg Gender-Equality Index, demonstrando que embora a sustentabilidade seja o principal foco das empresas do Ibovespa, as discussões de diversidade e de gênero também vem ganhando espaço.

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