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Inteligência artificial é ferramenta para compliance contra fraudes, avaliam executivos em simpósio

Educação é vista como fundamental para combater o greenwashing e garantir o ESG, dizem palestrantes de evento sobre crimes financeiros da Deloitte

Foto do author Luis Filipe Santos
Por Luis Filipe Santos

A criação constante de novas tecnologias traz novas oportunidades para o setor financeiro, assim como novos riscos de fraudes e novas maneiras de cometer velhos crimes financeiros, como a lavagem de dinheiro. Da mesma forma, a mudança em visões sobre o papel das empresas, com a pauta ESG (questões ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) se tornando mais presente, aumenta a preocupação com o ‘greenwashing’, ou seja, a uso do discurso sobre sustentabilidade sem medidas concretas e eficientes.

Entre as possíveis soluções para combater essa modalidade de crimes estão a utilização da própria tecnologia, como a de inteligências artificiais capazes de identificar problemas com antecedência, a cooperação internacional entre autoridades e a educação, para que investidores e stakeholders conheçam os riscos e possam avaliá-los, sem cair em enganações. Os desafios para as áreas de compliance e a prevenção de crimes financeiros foram tema de simpósio da consultoria da Deloitte no final de outubro. Entre os debates, apareceram temas como criptomoedas, ESG e prevenção a fraudes cometidas através do pix.

A inteligência financeira é apontada como o principal caminho para o combate aos crimes financeiros. “É necessário usar os dados de forma inteligente, com melhorias na transparência e nos reportes para juntar informações”, afirma Michael Shepard, líder global de ‘financial crime’ (área que aborda crimes financeiros) da Deloitte. Para Shepard, o uso de inteligência artificial, com machine learning, pode fortalecer as tecnologias de prevenção. Existe ainda a necessidade de priorizar os maiores problemas, como o uso do sistema financeiro para corrupção, tráficos de drogas e armas e crimes digitais.

Lavagem de dinheiro

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Uma das principais preocupações, a prevenção à lavagem de dinheiro (PLD) é uma das áreas que mais pode se beneficiar com o uso de inteligência artificial, que nota movimentações atípicas de recursos com mais facilidade, já que a limitação humana não permite acompanhar todas as transações. Assim, se torna possível antecipar movimentos e realizar ações preventivas - ou até preditivas, já que a inteligência artificial poderia encontrar vulnerabilidades no sistema e deixá-lo mais forte e preparado.

No entanto, para ter certeza, o sistema precisa ser bem construído e as companhias precisam conhecer o comportamento do cliente, para saber quais dados devem ser coletados e realizar as avaliações estatísticas. “Só se cria inteligência através de conhecimento, o conhecimento vem através de informações, então precisa estruturar a coleta antes. Realizar uma “reengenharia” é muito mais difícil”, cita Thiago Oliveira, diretor de Software Engineering do Mercado Livre.

Painel sobre prevenção à lavagem de dinheiro em simpósio sobre crimes financeiros promovido pela consultoria Deloitte Foto: Divulgação / Deloitte

O tema é posto à prova com o Pix, o sistema de pagamentos instantâneos lançado pelo Banco Central em 2020. A modalidade também permitiu a ocorrência de fraudes com muita velocidade e mesmo de outros crimes, como o sequestro-relâmpago para que quantias sejam transferidas. O desafio de fortalecer a segurança no sistema é outro que pode se beneficiar da dobradinha informação e tecnologia: ao conhecer o cliente, é muito mais fácil reconhecer movimentações atípicas, o que pode ser favorecido também se o banco não considerar apenas senhas, mas também outros dados, como a geolocalização. “A gente tem que evoluir nosso processo, se adaptar a novos cenários. É muito mais difícil de identificar e monitorar depois que qualquer fraude aconteceu”, diz Mariane Flores, especialista de pagamentos e regulação do Google para América Latina e Canadá.

Há ressalvas importantes. O chefe de PLD da companhia deve sempre estar atento e integrado à estratégia geral da empresa. Além disso, é necessário e manter em mente que o Brasil ainda tem milhões de cidadãos que usam meios de pagamentos “antiquados”, como o cheque, além dos que pagam em dinheiro ou cartão - a PLD continua sendo um desafio para esses sistemas.

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As criptomoedas foram consideradas um avanço, capazes de trazer mais segurança às transações por deixarem um rastro em sua história - cada ativo criptografado traz em si próprio informações sobre em quais carteiras passou, o que pode se tornar o próprio lastro dela. Atualmente, o setor ainda não é regulamentado no Brasil, mas um projeto de lei, o de nº 4401/2021 já é discutido e pode trazer segurança jurídica e diminuir a desconfiança, o que ajuda no combate às fraudes.

ESG

A busca pelo investimento socioambiental é um dos principais pontos no setor financeiro atual - e, com o risco do greenwashing, também passou a atrair olhares dos setores de compliance, para investidores individuais e institucionais que buscam saber se o dinheiro realmente está ajudando nos objetivos a que se propuseram.

Para evitar que o investimento acabe em empresas que não levam a sustentabilidade e outros valores realmente a sério, os principais pontos são a educação e a aplicação de parâmetros claros. “O ESG é para subir uma barra importante, de integridade quando se fala que tem uma política ambiental. Antes de tudo, a educação para o investidor é fundamental”, avalia Cecilia Carmona, chefe de compliance do grupo bancário Citi no Brasil. É importante que a empresa esteja engajada em sua totalidade - desde a alta liderança até os funcionários, passando pelo setor financeiro.

A qualidade dos dados coletados sobre as ações é fundamental, para que métricas e parâmetros claros e objetivos sejam utilizados e mostrem tanto se as ações estão cumprindo com o esperado quanto se houve retorno financeiro adequado. “É importante ter uma boa fundação para o prédio não ruir. As pessoas sabem que [o ESG] vai gerar muito dinheiro. E, se tem oportunidade de mau uso, vai ter que ser auditável, para que não se desperdice a oportunidade de fazer esses mercados crescerem”, comenta Marcus Turano, Superintendente de PLD/FTP e Monitoramento de Operações da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3.

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