Enquanto governo puxar de um lado e BC do outro, inflação continuará alta, dizem economistas

Segundo os especialistas, para trazer a inflação para a meta de 3%, juros teriam de ir a 18%, mas BC deve parar em 15%

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Atualização:

Se o governo não aprimorar suas políticas macroeconômicas, especialmente no controle dos gastos fiscais para conter a trajetória da dívida pública, a inflação tende a piorar antes de melhorar. Ex-diretores do Banco Central alertam que, quanto mais adverso for o cenário, maior será a necessidade de um aperto monetário.

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“O BC está se mostrando contracionista e deve continuar fazendo isso. Se o governo continuar gastando e não reverter a tendência fiscal, o juro vai ter de continuar subindo. Vamos ter uma inflação mais alta e uma atividade cada vez mais fraca. É um cenário complicado”, diz Reinaldo Le Grazie, ex-diretor de Política Monetária do BC e sócio da Panamby Capital, para quem é preciso cuidado com questão inflacionária que, no Brasil, tem potencial de revisitar dois dígitos.

“Eu, como analista, diria que a inflação este ano é de 6%. Não acho baixo. De 6% para 10% é um tirinho, como foi de 2014 para 2015 (de 6,41% para 10,67%) e também de 2020 para 2021 (de 4,52% para 10,06%). Se escapar, a inflação vai fácil”, ressalta Le Grazie. “E aí o juro vai ter de combater essa inflação de 10%. Esse nível não sabemos qual será”.

Fabio Kanczuk, da ASA Investments, diz que para gerar efeito de desaceleração e trazer a inflação para 3%, seria necessário elevar a Selic até 18% Foto: Leo Martins/ASA Investments

Para Sérgio Werlang, professor da FGV EPGE e ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, a inflação não deve passar tão rapidamente para outro nível. “Basta ver o tempo que a inflação brasileira ficou perto de 6% na época do Alexandre Tombini.”

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No entanto, ele destaca que a coisa muda se estivermos em um ambiente de dominância fiscal (quando a alta dos juros não faz efeito sobre a inflação). Simulação feita com dados de dezembro mostra que a inflação para esse cenário seria entre 7,5% e 8% ao ano. “Daí, para bater dois dígitos, de fato, seria um ‘pulinho’“.

Esse é um risco se a dinâmica da dívida bruta/PIB seguir no ritmo atual, prossegue o professor, e não houver queda razoável do juro real. “O real pode se desvalorizar muito com a desconfiança em relação à sustentabilidade da relação dívida/PIB”, diz Werlang.

Ninguém acredita

Na visão do ex-diretor de Política Econômica do BC e chefe de macroeconomia do ASA, Fabio Kanczuk, para gerar efeito de desaceleração e trazer a inflação pelo menos para o redor da meta, de 3%, seria necessário elevar a Selic até 18%. “Mas a impressão que dá é que o Banco Central vai até uns 15%”, diz, explicando que o nível mais alto de juro seria necessário para domar as expectativas de inflação para 2028, que voltaram a subir. “Ninguém mais acredita que o Banco Central vai entregar a meta”.

Para Le Grazie, não dá mais para a inflação ir para 4%. “Se o BC subir o juro, se o governo aliviar o pé, nós estamos falando que a inflação de 2026 cai. Mas a deste ano vai ser 6%, não tem mais jeito de ser abaixo disso. Então, a questão é que eu não duvido que o BC vá subir o juro. Mas subir para 18%, 20%, 25%? Aonde vai parar?”, diz o sócio da Panamby Capital, para quem o BC vai fazer o que for necessário para conter a inflação.

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Werlang diz acreditar que o Banco Central está aguardando a resposta deste ciclo de alta sobre a atividade econômica. Se for verificado até a próxima reunião que a queda é maior do que se imaginava, a autoridade pode parar de elevar o juro e ficar um tempo vendo qual será o impacto disso na inflação.