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Governo elege países e produtos para ampliar exportação

Por Rodrigo Petry
Atualização:

O governo brasileiro aposta em mercados-alvo, setores prioritários e países "traders" para chegar a 1,25% de participação nas exportações mundiais em 2010, meta estabelecida na Política de Desenvolvimento Produtivo. Especialistas aprovam a estratégia, mas têm dúvidas sobre os resultados. O estudo é da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). ?Trabalhamos na escolha de setores e mercados prioritários para que o País exporte cerca de US$ 210 bilhões em 2010", diz o presidente Apex, Alessandro Teixeira. Durante oito meses a equipe da Apex levantou dados macroeconômicos, nível e concentração da renda interna, geração de emprego e possibilidades de inserção de produtos brasileiros em mais de 100 países. O levantamento identificou 16 mercados prioritários e seis países "traders", que servirão como porta de entrada para as exportações do Brasil em todos os continentes. Na América Latina, os escolhidos são Chile e o Panamá; na Europa, a Turquia; e no Oriente Médio, os Emirados Árabes Unidos. Já nos continentes africano e asiático, os países são África do Sul e Cingapura, respectivamente. Completam os mercados prioritários Argentina, Colômbia, Cuba, Peru, Venezuela, Noruega, Polônia, Rússia, China, Coréia do Sul, Vietnã, Canadá, EUA, México, Angola e Egito. "Para cada região do mundo estabelecemos um país ?trader?. Esses países têm o poder de distribuir as exportações brasileiras em suas regiões", explica Teixeira. "Não basta saber o que os países importam, mas quais são as importações que podem ser complementadas com as exportações brasileiras." Mercados Na América Latina, o governo brasileiro continua apostando nas exportações para a Argentina. Em 2007, o Brasil vendeu aos argentinos US$ 14,416 bilhões, 32,5% do total importado pelo país. Alguns dos produtos mais competitivos no mercado vizinho, diz a Apex, são máquinas e motores, autopeças e materiais de construção. Outro vizinho com boas oportunidades é a Venezuela. Entre 2003 e 2007, as importações venezuelanas de produtos brasileiros registraram aumento de 676,5%, passando de US$ 608,2 milhões para US$ 4,723 bilhões. Alimentos e bebidas e máquinas e motores são alguns dos setores mais promissores para as vendas do Brasil à Venezuela, aponta o levantamento da agência. Nos Estados Unidos, as ações da Apex estão voltadas à comercialização de produtos farmacêuticos, plásticos e suas obras e materiais de construção (obras de pedra e borrachas). Na Ásia, o principal foco está na China, que no ano passado importou US$ 956,261 bilhões. Desse montante, o Brasil respondeu por apenas 1,91%, com exportações de US$ 18,342 bilhões. Os produtos identificados com maiores chances no mercado chinês são alimentos, como massas e sucos, material de construção (metais não-ferrosos, madeiras e borrachas), moda (higiene e cosméticos, calçados,peles e couros) e máquinas e motores. No continente africano e no Oriente Médio, dois potenciais mercados são Angola e Emirados Árabes Unidos. Segundo a agência, o crescimento anual médio acima de 10% do PIB de Angola aqueceu a demanda por alimentos e bebidas, como carnes, sucos, leite e outros; materiais de construção (vidros, plásticos, borracha e sua obras, móveis e produtos cerâmicos); máquinas e equipamentos e materiais elétricos e eletrônicos. Já nos Emirados Árabes Unidos, os segmentos de alimentos e bebidas (carne e café), materiais de construção (borracha, metais não-ferrosos, madeiras e obras de pedra) e máquinas e motores poderiam aumentar as importações brasileiras. Entre os anos de 2003 e 2007, as vendas externas do Brasil para Angola e Emirados Árabes Unidos cresceram, respectivamente, 417,4% e 116,9%. Dentro do continente europeu um dos países com maior potencial de expansão para as exportações brasileiras é a Rússia. Segundo o estudo da Apex, o mercado russo apresenta oportunidades para vendas de veículos e suas partes, madeiras e cortiças, produtos metalúrgicos e máquinas e motores. Desafios Centrar as ações em determinados países é uma estratégia correta, na avaliação do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro. O dirigente ressalta, porém, que há uma distância muito grande a ser percorrida para o Brasil atingir 1,25% de participação nas exportações mundiais. "É uma meta ousada, que acho difícil de ser atingida num cenário de dólar desvalorizado", afirma. Segundo Castro, o avanço no market share das exportações globais só vai ocorrer caso as vendas mundiais cresçam, na média, num ritmo inferior às brasileiras. Atualmente, na sua avaliação, o aumento das exportações depende mais da elevação dos preços das commodities do que de medidas de incentivo às vendas externas. O professor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, afirma que é possível atingir a meta projetada pelo governo. Ele lamenta, entretanto, que esse crescimento tenha que ser puxado pelas exportações de produtos básicos. "Acho que é factível atingir a meta. O problema é a nossa dependência nas exportações de commodities agrícolas e minerais." Um desafio adicional ao avanço das exportações brasileiras passa ainda pela forte concorrência da China em mercados comuns, como o Mercosul e a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). "Os chineses renegaram a América Latina, a África e até a Ásia a um segundo plano, já que o interesse era conquistar os Estados Unidos e a União Européia. Agora estão se voltando aos mercados periféricos", destaca Castro, da AEB.

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