PUBLICIDADE

Publicidade

Inflação dos EUA fica acima do esperado. O que isso significa para o Brasil?

Dados divulgados nesta quarta-feira fazem analistas projetarem mais dificuldade para o Fed, o BC americano, iniciar o ciclo de corte dos juros no país

Foto do author Redação
Por Redação

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos subiu 0,4% em março, segundo dados com ajustes sazonais publicados nesta quarta-feira, 10, pelo Departamento do Trabalho americano. O resultado veio acima do esperado pelo mercado - a mediana de analistas consultados pelo Projeções Broadcast era de uma alta de 0,3%.

PUBLICIDADE

Apenas o núcleo do CPI, que exclui os voláteis preços de alimentos e energia, também avançou 0,4% em março, vindo igualmente acima da expectativa do mercado, de uma alta de 0,3%.

Na comparação anual, a inflação nos EUA subiu 3,5% em março, acelerando frente ao aumento de 3,2% de fevereiro. Já o núcleo do CPI teve incremento anual de 3,8% no mês passado, repetindo a variação de fevereiro. Essas leituras anuais também ficaram acima das expectativas do mercado, de alta de 3,4% do índice cheio e de aumento de 3,7% do núcleo.

Para analistas esses números indicam que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) terá mais dificuldade em começar a cortar a taxa de juros no país. E isso terá impacto em todo o mundo, incluindo o Brasil, onde a taxa de juros, após o ciclo de cortes em andamento pelo Banco Central, pode acabar ficando mais alta do que projeta o mercado atualmente.

Sede do Federal Reserve, o BC americano, em Washington Foto: Joshua Roberts/Reuters

Para a consultoria Capital Economics, o dado divulgado nesta quarta-feira eleva a chance de que o Fed reduza os juros apenas duas vezes neste ano, cada uma delas em 25 pontos-base - a expectativa até agora era de três cortes de juros este ano. Atualmente, a taxa de juros nos EUA está em uma faixa entre 5,25% e 5,5% ao ano.

A força do mercado de trabalho e os ganhos recentes na inflação dão ao Fed “margem de manobra para ser paciente”, afirma a Oxford. Caso o Fed não corte os juros em junho, a janela estará fechada até setembro, pois há poucos dados divulgados entre junho e julho para mudar os cálculos do Fed, avalia a consultoria.

A Oxford vê ainda similaridades no quadro da inflação nos EUA neste ano e em 2023, com ganhos mais fortes no início do ano e tendência de perda de fôlego no segundo semestre. “Há claramente sazonalidade residual no CPI, mas isso deve ficar mais favorável em breve”, afirma.

Publicidade

Custos com moradia pressionam a inflação, mas não apenas isso. Os preços de seguros de carros seguem com alta rápida, além de ganhos mensais em vestuário, energia, cuidados médicos, cuidados pessoais e educação, lista a Oxford.

Para o banco canadense CIBC, o relatório do CPI acima das expectativas - o terceiro em seguida - significa que o Fed não terá pressa de cortar juros até que as pressões inflacionárias diminuam.

“Os dados de hoje significam que o risco de persistente inflação subjacente (o núcleo da inflação) mais alta voltou a ser prioridade número 1 do Fed, embora a inflação não esteja muito acima da meta” oficial, de 2%, avalia o banco.

Como isso afeta o Brasil?

Uma eventual mudança da rota esperada da política de juros nos Estados Unidos - com início do ciclo de cortes sendo postergado - vai repercutir em todos os países. Taxas americanas mais altas drenam recursos de economias emergentes e mais arriscadas, como é o caso da brasileira, e representam um dólar robusto - neste ano, até sexta-feira, 5, o dólar acumula uma alta de 4,37%, superando o patamar de R$ 5,05. Nesta quarta-feira, com a divulgação da inflação americana, sobe um pouco mais e está sendo negociado a R$ 5,07.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

“A probabilidade de o juro não começar a cair no meio do ano é muito significativa”, disse, antes da divulgação do CPI, José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Na medida em que as condições financeiras ficam mais apertadas nos Estados Unidos, é inevitável que o Banco Central do Brasil também tenha uma cautela ainda maior na condução nesse ciclo de baixa.”

“Eu suspeito que o mercado financeiro, os agentes econômicos, de modo geral, e o meio político podem se surpreender com a extensão desse ciclo de baixa. Tem uma chance boa de ser interrompido antes do que a pesquisa Focus, por exemplo, está indicando”, acrescenta Senna.

Divulgada semanalmente pelo Banco Central brasileiro, a pesquisa Focus mostra que a projeção dos analistas consultados é de que a taxa básica de juros (Selic) encerre este ano em 9%, recuando para 8,5% em 2025. “Eu acho um juro no nível de 9%, talvez, muito pouco provável”, diz o ex-diretor do BC.

Publicidade

No seu último encontro, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou que deve promover mais um corte de 0,50 ponto porcentual na Selic na reunião de maio, mas deixou em aberto a possibilidade de manutenção desse ritmo em junho.

No Brasil, o ciclo de queda da taxa básica de juros é uma das grandes apostas para acelerar o crescimento econômico e melhorar a baixa taxa de investimento no País. Juros altos encarecem a tomada de crédito para companhias e consumidores. / Sérgio Caldas, Gabriel Bueno da Costa, Luiz Guilherme Gerbelli

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.