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Economista e sócio da MB Associados

Opinião | Sustentabilidade para manter a liderança

O consumidor mudou. Ele quer saber o que está comendo e se o meio ambiente é respeitado

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Por José Roberto Mendonça de Barros
Atualização:

A agricultura continua sendo um dos poucos setores relevantes com uma dinâmica robusta de crescimento. Este tem sido baseado, antes de tudo, na ciência, no conhecimento e na tecnologia, que, em interação com as pessoas e o meio ambiente produz sistematicamente, e há muito tempo, uma elevação da produção e da produtividade, com queda secular de preços que beneficiam o consumidor brasileiro e o mercado global.

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Mesmo na quase depressão em que vivemos, o dinamismo persiste, e a nova agenda de produção já está definida: a agricultura de precisão e novas técnicas para melhoria das variedades. Ela é o equivalente da Indústria 4.0 no setor primário. Lá está um conjunto de tecnologias digitais que, utilizadas em sistemas que integram grandes bases de dados, máquinas e pessoas, levam a uma otimização de recursos num grau muito maior do que se suspeitava.

A utilização de dados de clima em tempo real permite planejar e executar atividades de plantio, tratos culturais, irrigação, colheita e pós-colheita. Por exemplo, na formação do canavial, as máquinas comandadas por GPS dão uma precisão tal nas linhas que é possível plantar até 2% a mais de mudas por hectare. Na colheita, a máquina e o caminhão que recolhem a cana operam autônomos. O motorista do caminhão só retoma o volante na hora de ir para a usina.

Nos tratos culturais é cada vez mais utilizado o Controle Integrado de Pragas, um conjunto de técnicas que engloba desde a simples contagem de invasores por metro linear de cultura e armadilhas até o controle biológico (feito pela criação de inimigos naturais das pragas) e o uso conjunto de biodefensivos e químicos.

Finalmente, a utilização de sensores nas máquinas permite aplicar defensivos apenas nas plantas que assim necessitem, o que diminui drasticamente o uso dos elementos ativos, em até 50%! A intensa discussão que se trava em torno de “venenos” vai ficar muito menor. Esse debate já tem data para terminar.

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As mesmas técnicas estão sendo usadas no manejo da irrigação (com forte redução do uso de água) e na pecuária. Por exemplo, com sensores nos cochos pode-se repor apenas a quantidade de alimento que está sendo efetivamente ingerida pelos animais, otimizando a engorda. Na produção leiteira já se usa a robotização da ordenha.

Em todos esses casos há elevação da produtividade e redução de custos, tornando mais competitiva a produção nacional. No quesito terra, além de mais precisão nos tratos culturais, vale mencionar a atenção com a qualidade, desde as técnicas tradicionais de terraceamento, plantio em nível, rotação de culturas e vazio sanitário até o crescente uso de condicionadores de solo, biofertilizantes e produtos que elevam a atividade microbiana no solo, permitindo raízes mais profundas e aumentando a resistência à seca.

Nesse âmbito há uma verdadeira revolução em marcha: a Indigo tem um banco enorme de bactérias e fungos, com os quais prepara misturas específicas que envolvem as sementes e que resultam em maior produção por área.

Finalmente, continua avançando velozmente a utilização da integração de sistemas, agricultura, pastagens e florestas (ILPF), com efeitos marcantes na sustentabilidade, na proteção de nascentes e no bem-estar animal. Esse conjunto de novas tecnologias, associadas a procedimentos já largamente utilizados, como o plantio direto na palha, está resultando numa agricultura muito mais sustentável e rastreável.

Críticas tradicionais vão desaparecendo. Nos anos 70, dizia-se, sem nenhuma base científica, que fertilizantes químicos estragavam a terra, tema que acabou deixado de lado por ser falso. Mais recentemente muita energia se gastou com o tema dos organismos geneticamente modificados, já em uso havia décadas. Milhões de pessoas em todo mundo consumiram esses produtos sem um único caso de problemas. Agora, com a técnica de edição genética já em pleno uso, esse debate desapareceu.

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Os novos sistemas de controle de pragas vão também colocar a questão do “veneno” numa perspectiva adequada. É preciso observar que o desenvolvimento da tecnologia é uma eterna corrida de resolver problemas sucessivos, cujo resultado é que mais gente come mais barato, além de produtos de melhor qualidade. O crescimento da duração da vida não ocorreria sem uma elevação sistemática da produção de alimentos.

Ao lado da aceleração da melhoria tecnológica, é preciso, entretanto, deixar para trás pautas regressivas. Falo aqui dos sucessivos programas de refinanciamento de dívidas (Refis) e de mais prazo para fazer o Cadastro Rural, que tem de ser aprimorado e passar para as fases mais avançadas da lei. Aliás, o Cadastro Rural tem de ser o norte do setor. As áreas de preservação têm de ser totalmente respeitadas, assim como a grilagem da terra e o desmatamento ilegal devem ter fim.

Finalmente, é preciso aceitar que o consumidor, no mundo inteiro, mudou. Ele quer saber o que está comendo, como e onde foi produzido e se o meio ambiente é respeitado. É o mesmo no nosso País.

Pela própria sustentabilidade e pelo fato de o agronegócio brasileiro hoje ser global, é uma grande bobagem atropelar o meio ambiente. A liderança do setor, seus representantes e o governo têm de ter isso em mente.

*ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS

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Opinião por José Roberto Mendonça de Barros
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