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Economista

Opinião|Bolsonaro mostrou que democratização brasileira é incompleta e que as instituições são frágeis

Bolsonaro está usando a máquina para comprar votos; com ele no governo, não há reconstrução

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Atualização:

Há pouco mais de um ano, fui chamada para participar de um projeto com colegas das mais variadas áreas. Entre nós, havia economistas, ativistas sociais, advogados, cientistas políticos, urbanistas, administradores públicos e jornalistas. A ideia era pensar em políticas públicas que poderiam ajudar o Brasil.

Fazíamos reuniões quinzenais, debatendo temas de especialização de cada um de nós. Aprendi muito durante estes encontros. Em algum momento, pareceu natural reunir tudo que tínhamos discutido no formato de um livro: Reconstrução: o Brasil nos anos 20. O que nos uniu foi a ideia de que o governo Bolsonaro representava um atraso institucional, social, econômico e ambiental ao Brasil.

Governo Bolsonaro representava um atraso institucional, social, econômico e ambiental ao Brasil Foto: Nelson Almeida/AFP

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Somos da geração que nasceu ou cresceu a maior parte da vida com a Constituição de 1988, após o regime militar. Tomamos por dado que a democracia era permanente no nosso País. O governo Bolsonaro mostrou que nossa democratização era incompleta e nossas instituições eram frágeis.

Sentíamos que seria preciso reconstruir o País após o atual governo. A ideia era pensar em políticas públicas que abraçassem diversidade, respeito ao meio ambiente e que considerassem que desigualdade atrasa crescimento -–quem espera o bolo crescer para depois repartir nunca alcança um outro lugar.

Nas últimas semanas, vimos que a frente ampla de apoio ao Lula aumentou. Todos que se unem a esta frente ampla, como Fernando Henrique Cardoso, Marina Silva, Simone Tebet – o grande destaque deste primeiro turno –, e Geraldo Alckmin, mostram que temos a possibilidade de cultivar nossa democracia.

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Bolsonaro tentou de alguma forma compor sua própria frente. Ela é menos ampla. Ao que parece, se compõe de Moro, senador eleito, ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro que havia deixado o governo acusando o presidente de interferir na Polícia Federal. A política gera situações constrangedoras mesmo.

Bolsonaro também está usando a máquina pública para comprar votos. Vale-taxista. Vale-caminhoneiro. Redução da tributação sobre gasolina e diesel. Cancelamento do auxílio emergencial em meses críticos da pandemia, mas criação do programa Auxílio Brasil perto das eleições. Permissão para criação de gastos permanentes em anos de eleição. Crédito consignado para recebedores do Auxílio Brasil. Antecipação de benefícios sociais. Uso de FGTS futuro. A lista de ações do atual governo para fins eleitoreiros é larga – e custosa para os cofres públicos e para o bom funcionamento da democracia.

Não há reconstrução possível com um novo governo Bolsonaro.

Opinião por Laura Karpuska

Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook

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